Contra a privatização
Cerca de 90 por cento dos ferroviários espanhóis aderiram à greve nacional de dia 3, contra o desmembramento e privatização da empresa pública Renfe.
Serviços mínimos abusivos mitigam efeitos da greve
A confederação sindical Comisiones Obreras (CCOO) garantiu que a greve afectou 75 por cento dos comboios de alta velocidade, 67 por cento dos interurbanos e 19 por cento dos de mercadorias, deixando fora de serviço 554 composições.
Para além dos 30 mil trabalhadores da companhia pública de caminhos-de- ferro, a convocatória abrangeu ainda um universo de 100 mil outros trabalhadores de empresas e organismos externos.
A greve de 24 horas visou contestar a divisão da Renfe em quatro empresas (passageiros, manutenção, mercadorias e material circulante), com vista à privatização por áreas da companhia ferroviária.
Outro objectivo central é travar a liberalização do tráfego nacional de passageiros, previsto para Julho de 2013. Isto significa que qualquer companhia, pública ou privada de outro país, poderá operar na rede espanhola. Os sindicatos alertam que a liberalização irá aumentar os preços nas linhas de maior tráfego e diminuir a oferta nos percursos menos rentáveis. Por outro lado, esta alteração permitirá que empresas estrangeiras possam fazer negócio numa rede em que o Estado espanhol investiu mais de 50 mil milhões de euros só na alta velocidade.
Tudo isto num momento em que a Renfe está a braços com uma elevada dívida (20 mil e 700 milhões de euros), em grande parte resultante de vultuosos investimentos na modernização da rede.
Serviços mínimos abusivos
A greve só não paralisou por completo a rede devido aos serviços mínimos impostos pelo governo que os sindicatos qualificaram como «os mais abusivos da história das relações laborais no sector ferroviário».
Na verdade, os «mínimos» mais pareceram «máximos». Exigindo a circulação de 60 por cento em média dos comboios suburbanos às horas de ponta (entre as 6 e as 9 horas) e de 42 por cento no resto do dia, o governo espanhol obrigou ainda à circulação de 75 por cento (três em cada quatro) das composições de alta velocidade e de média distância.
Durante a jornada realizaram-se concentrações nas principais estações espanholas, como é o caso de Atocha em Madrid ou Sans em Barcelona. Os manifestantes envergaram camisolas com inscrições como «Uma via-férrea pública e social», e gritaram palavras de ordem como «Mariano, entende, a Renfe não se vende». Aos polícias que ocuparam as estações, os trabalhadores apelaram a juntarem-se ao protesto, gritando: «Tu que estás olhando, também te estão roubando».