Conseguiremos!
«Nenhuma classe passa de governada a governante por uma estrada em linha recta ou por avanços continuados. Não o faz sem vitórias e sem derrotas, sem passar mil vezes da defensiva à ofensiva e vice-versa, sem avançar hoje para recuar amanhã, sem conquistar posições e ser forçada a abandoná-las, e depois voltar ao combate e ter novos êxitos e novos insucessos. Não o faz sem que, em muitas ocasiões, não pareça estar vitoriosa, quando a vitória está longe; e, em muitas outras, não pareça estar para sempre abafada e reduzida, quando nas cinzas da derrota se desenvolve pela calada novo fogo mais violento e mais potente. A conquista do poder político é a conclusão de todo este longo e acidentado caminho. E só então se fecha um ciclo da história e se abre o tempo de uma nova sociedade.»
Álvaro Cunhal, A Luta de Classes em Portugal nos fins da Idade Média
Neste tempo de justificadas inquietações relativamente ao futuro, é bom lembrar este que é apenas um dos muitos ensinamentos que o camarada Álvaro Cunhal nos deixou e que resultam de um trabalho de tenaz e rigorosa análise da realidade e do conhecimento da gloriosa história da luta de classes do nosso povo e das condições concretas para o seu desenvolvimento. É uma análise que, a par de muitos outros contributos, ultrapassa fronteiras. Uma experiência historicamente determinada, elemento de referência nacional no desenvolvimento da luta de classes no plano mundial.
A história ensina-nos pois que a luta de classes se faz de avanços e recuos, de vitórias e derrotas que, aproveitando as contradições da exploração do homem pelo homem, fazem avançar (pela luta) a humanidade para a transformação social libertadora. É também assim (e assim continuará a ser) a luta da classe operária e dos trabalhadores portugueses. A história e o materialismo histórico também nos ensinam o carácter determinante do marco nacional para o desenvolvimento da luta do nosso povo, imprimindo um cunho e uma atitude combativa próprios. O despertar da consciência dos trabalhadores para o carácter explorador das relações de trabalho no capitalismo é o elemento determinante da sua disposição para a luta. O conhecimento e a cultura (que é sobretudo nacional por contingência do processo de evolução das forças produtivas) concorrem para a sua formação integral. Deles decorre uma maior motivação para a participação política e militante, a consciência da força criadora e transformadora da acção colectiva da classe operária e dos trabalhadores e das suas infinitas possibilidades. Essa consciência (de classe) é o guia fundamental para compreender a ideologia burguesa e para potenciar a sua interpretação para a acção prática.
Neste tempo que é o nosso, neste tempo que nos cabe viver e neste País que por contingência natural e histórica nos cabe habitar, desenvolvem-se pequenas e grandes lutas, pequenas e grandes acções impulsionadas pela vanguarda revolucionária que convergem para a necessidade crescente de rasgar o pacto de agressão assinado entre a troika nacional (PSD, PS, CDS/PP) e a troika estrangeira (BCE, UE e FMI). Os ritmos, as palavras de ordem, a organização da luta em Portugal não são nem podem ser iguais às lutas desenvolvidas pelos nossos vizinhos espanhóis, ou pelos franceses, por gregos, irlandeses, dinamarqueses ou alemães. Embora devam ser (e são!) convergentes, as lutas têm as suas especificidades e etapas (também elas abrem caminho à evolução da consciência). Existe entre os trabalhadores de cada país um milhão de diferenças (entre elas o pacto de agressão)... Mas essas diferenças não apagam o carácter de classe da luta de todos os trabalhadores contra a exploração e portanto o seu carácter internacionalista. Nem anulam a necessidade da sua convergência e até coordenação. Não podemos no entanto alimentar falsos europeísmos, que vendem a «luta europeia» como panaceia, procurando escamotear a natureza de classe da UE ao serviço dos monopólios e das grandes potências e as diferenças de situação dos trabalhadores dos países dominantes em relação à situação dos trabalhadores dos países dominados. A luta dos trabalhadores em França e na Alemanha não é igual à luta dos portugueses. A situação concreta e a sua posição face às relações políticas, económicas e sociais estabelecidas na UE não são iguais, as suas reivindicações e objectivos não são os mesmos. Ignorar essas diferenças ou procurar anulá-las é fragilizar ou anular factores específicos que, esses sim, permitem melhores condições para as vitórias que abrem espaço à conquista do poder político. Com paciência, tenacidade e acção revolucionária conseguimo-lo-emos.