Arménio Carlos sobre as consequências
da greve geral

Mais fortes para ir mais longe

Na sua pri­meira in­ter­venção pú­blica após a greve geral, o Se­cre­tário-geral da CGTP-IN re­a­firmou que se tratou de uma luta ex­cep­ci­onal, pelo grande im­pacto em Por­tugal e por ter ul­tra­pas­sado as fron­teiras na­ci­o­nais. Re­me­tendo para a reu­nião de hoje do Con­selho Na­ci­onal da cen­tral, Ar­ménio Carlos as­se­gurou que «em De­zembro vai haver luta, vamos dar uma res­posta ao nível da CGTP-IN».

Os sin­di­catos e os tra­ba­lha­dores não vão es­perar para ver

Image 11940

A en­cerrar o 10.º Con­gresso da União dos Sin­di­catos do Porto, no dia 16, sexta-feira, Ar­ménio Carlos su­bli­nhou que «temos muito mais força, temos muitos mais tra­ba­lha­dores dis­po­ní­veis para virem para os nossos sin­di­catos, temos con­di­ções para ir muito mais longe e temos essa obri­gação».

In­ter­rom­pido vá­rias vezes pelas duas cen­tenas de di­ri­gentes e de­le­gados dos sin­di­catos do dis­trito, o Se­cre­tário-geral da In­ter­sin­dical re­tomou a afir­mação de que «esta foi uma das mai­ores greves ge­rais que re­a­li­zámos em Por­tugal», mas «não só pelo nú­mero de pes­soas que par­ti­ci­param», como «acima de tudo, pelo quadro po­lí­tico, eco­nó­mico e so­cial em que ela se re­a­lizou», pois «muitas fa­mí­lias e muitos tra­ba­lha­dores estão em si­tu­ação fi­nan­ceira muito di­fícil».

A greve geral re­sultou de «uma dis­cussão muito pro­funda» e «foi vi­vida e sen­tida em cada local de tra­balho». Ar­ménio Carlos re­alçou que «aderir à greve não acon­teceu por ar­ras­ta­mento, só porque ou­tros ade­riam, foi uma de­cisão cons­ci­ente, fa­zendo o que era ne­ces­sário face ao que es­tava a acon­tecer e para de­fender hoje os di­reitos das novas ge­ra­ções».

Uni­dade pro­vada

Para o êxito desta luta foi fun­da­mental a uni­dade na acção. O di­ri­gente da Inter re­cordou que «du­rante muito tempo tentou-se vender a ideia de que a uni­dade na acção re­solvia-se reu­nindo meia dúzia de di­ri­gentes de cú­pula, dois ou três se­cre­tá­rios-ge­rais as­si­navam um papel... e es­tava re­sol­vido, ou­tros iriam por ar­rasto». Lem­brou também que «nós sempre dis­semos que a uni­dade na acção não é isto», «os tra­ba­lha­dores não vão por ar­rasto, os tra­ba­lha­dores são os pro­ta­go­nistas» e «não es­ti­vessem eles dis­po­ní­veis para a fazer, ela não se faria».

O que se ve­ri­ficou, nesta ma­téria, no dia 14, «teve uma grande cor­res­pon­dência ao apelo que a CGTP-IN fez», quando in­sistiu que a greve geral es­tava aberta à par­ti­ci­pação de todos. E foi ou­vido «o apelo a que, in­de­pen­den­te­mente dos po­si­ci­o­na­mentos po­lí­tico-par­ti­dá­rios ou sin­di­cais, não se ve­ri­fi­cassem pre­con­ceitos; a que, mais do que a ca­mi­sola par­ti­dária, se ves­tisse a ca­mi­sola do tra­balho, a que se dis­cu­tisse os pro­blemas com que es­tamos con­fron­tados, as po­lí­ticas que estão a ser con­du­zidas pelo Go­verno contra os tra­ba­lha­dores e as suas fa­mí­lias, a que se dis­cu­tisse as nossas rei­vin­di­ca­ções e a que, acima de tudo, se dis­cu­tisse as pro­postas da CGTP-IN, para mudar de po­lí­tica, para mudar de Go­verno, para dar ao País um rumo de pro­gresso e jus­tiça so­cial».

Ar­ménio Carlos des­taca que «valeu a pena todos estes tra­ba­lha­dores e tra­ba­lha­doras terem par­ti­ci­pado» na luta, «muitos ho­mens e muitas mu­lheres, muitos jo­vens que, tendo an­te­ri­or­mente vo­tado no PSD e no CDS, es­ti­veram ao lado de muitos ou­tros que vo­taram nos ou­tros par­tidos ou que não vo­taram em ne­nhum».

Foi assim que a greve geral acabou por cons­ti­tuir «uma res­posta con­creta para aqueles que di­ziam que esta era uma luta di­vi­si­o­nista e sec­tária». Ela foi «uma greve abran­gente, no plano in­terno, e re­co­nhe­cida na pró­pria Con­fe­de­ração Eu­ro­peia de Sin­di­catos». Os tra­ba­lha­dores «deram esta res­posta, pela sua dig­ni­dade, mas também pela exi­gência de cres­ci­mento da eco­nomia e do em­prego».

 

Vai haver luta em De­zembro

Os di­ri­gentes e de­le­gados sin­di­cais têm ra­zões para es­tarem sa­tis­feitos pela ex­cep­ci­onal greve geral, mas «não po­demos ficar de res­saca, nem a re­laxar». No Porto, Ar­ménio Carlos ga­rantiu que «não vamos ficar à es­pera, para ver o que vai acon­te­cendo».

Hoje, o Con­selho Na­ci­onal da CGTP-IN de­verá avançar com um ma­ni­festo em de­fesa das fun­ções so­ciais do Es­tado. A apoiar este ma­ni­festo, vai ser lan­çada uma pe­tição, que «de­verá ser uma das pe­ti­ções com mais apoios, para apre­sentar na As­sem­bleia da Re­pú­blica».

Para terça-feira, dia 27, está con­vo­cada uma con­cen­tração, que re­pro­vará na rua o Or­ça­mento do Es­tado que sobe a ple­nário nessa manhã, para a vo­tação final.

Sa­bendo que o Pre­si­dente da Re­pú­blica tem de se pro­nun­ciar no mês de De­zembro, a CGTP-IN «vai cum­prir a sua obri­gação» e es­pera que bre­ve­mente se con­cre­tize a reu­nião pe­dida a Ca­vaco Silva, para lhe apre­sentar um do­cu­mento iden­ti­fi­cando as in­cons­ti­tu­ci­o­na­li­dades do OE.

O Se­cre­tário-geral da Inter adi­antou que «o mês de De­zembro não vai ser mar­cado com prendas ao Go­verno nem com ár­vores de Natal de pro­testo». «De­pois da greve geral que fi­zemos e pelos pro­blemas que temos pela frente, tem que haver uma res­posta or­ga­ni­zada, ao mais alto nível, das tra­ba­lha­doras e dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses, bem como de toda as ou­tras ca­madas da po­pu­lação, à po­lí­tica deste Go­verno», e Ar­ménio Carlos as­se­gura que «em De­zembro vai haver luta, vamos dar uma res­posta ao nível da CGTP-IN».




Mais artigos de: Em Foco

Há condições e obrigação

No 10.º Con­gresso da US Porto, o Se­cre­tário-geral da CGTP-IN de­fendeu que, «de­pois desta greve geral, temos in­fi­nitas pos­si­bi­li­dades para de­sen­volver o nosso tra­balho».

Congresso da USP <br>valoriza exemplo

O êxito da greve geral no distrito, na generalidade dos sectores, foi várias vezes referido durante os trabalhos do 10.º Congresso da União dos Sindicatos do Porto, que teve lugar no dia 16, na Casa Sindical, sob o lema «Dignificar a vida e o trabalho –...

A maior também na indústria

No último balanço que publicou na página electrónica dedicada à greve geral, a CGTP-IN reafirmou que esta «constituiu um marco histórico na luta dos trabalhadores portugueses», considerando-a «uma das maiores jornadas de luta até hoje realizadas no...

Lembrar o militante <br>das palavras imprescindíveis

Se fosse vivo, José Sa­ra­mago tinha com­ple­tado, no pas­sado dia 16, nove dé­cadas de um per­curso cons­truído a pulso, agra­ciado por pré­mios e ho­nores, mas que teve no re­co­nhe­ci­mento e es­tima dos povos talvez a maior das dis­tin­ções. Ca­minho vin­cado pela re­pulsa à in­jus­tiça, à cu­pidez, ao obs­cu­ran­tismo e à ex­plo­ração, e que por isso andou unido à luta pelo pro­jecto re­vo­lu­ci­o­nário do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, que quis que fosse o seu para sempre.