«Annus Horribilis»

Carlos Gonçalves

Os media do­mi­nantes, no ba­lanço/​pre­visão de 2012-2013, re­petem as opi­niões re­cor­rentes de todos os «annus hor­ri­bilis» que a po­lí­tica de di­reita tem pro­du­zido. Há mesmo «opi­na­dores» que re­correm a um texto base que ac­tu­a­lizam, adornam e mandam pu­blicar, que «tempo é di­nheiro» e o ca­pital não lhes paga pelo rigor, mas pela efi­cácia na guerra ide­o­ló­gica. Nestas pre­vi­sões do novo ano, a «linha de ex­ce­lência» para o co­mando do poder eco­nó­mico sobre o poder po­lí­tico é es­conder ele­mentos subs­tan­ciais da re­a­li­dade ob­jec­tiva – eco­nó­mica, so­cial e po­lí­tica –, numa teia de mis­ti­fi­ca­ções e lei­turas fu­la­ni­zadas e sub­jec­tivas, para sus­citar novas «ine­vi­ta­bi­li­dades».

Re­sulta um cor­tejo de ab­surdos, que abriu com o ine­fável «pro­fessor Sousa» a dizer, há dias, que pedir a Ca­vaco para vetar o OE con­traria a sua «visão do cargo pre­si­den­cial… é como pedir a um her­bí­voro para ser car­ní­voro». Assim se mis­ti­fica que o PR in­ter­veio no pas­sado para apressar o pacto de agressão e que não he­si­taria em vetar um outro OE pa­trió­tico e de es­querda. E assim se tenta im­pedir uma ainda pos­sível der­rota deste Or­ça­mento.

Re­leva um pa­ra­doxo, que tre­sanda nos media da se­mana, que as men­sa­gens de Natal de Passos Co­elho – a ofi­cial e a «in­ti­mista» –, se «con­tra­dizem» e mos­tram «de­so­ri­en­tação» e «zero de em­patia», como se não fosse fre­quente a vi­ti­mi­zação en­ce­nada para obter apoios e não fosse ob­ses­sivo o cum­pri­mento «até ao fim» do diktat de classe e apá­trida do saque ao povo e do de­sastre do País.

Su­blinha uma mão cheia de to­lices, com Portas «con­tra­riado» com o OE, «do­ente» com o corte apon­tado de quatro mil mi­lhões nas des­pesas so­ciais e sem sair do Go­verno por «in­te­resse na­ci­onal», como se o CDS-PP não es­ti­vesse como sempre dis­po­nível para as ta­refas sujas (e bem pagas) do ca­pital fi­nan­ceiro. Ou o Se­guro «quase a perder a pa­ci­ência» e a pôr o PS a cen­surar o Go­verno, como se não fosse «de sangue» o com­pro­misso com a po­lí­tica de di­reita e a troika e de fundo a agenda de chegar ao go­verno tão tarde quanto pos­sível.

Tal como nas mis­ti­fi­ca­ções da po­lí­tica de di­reita e dos seus ac­tores, será a luta a es­cla­recer e a vencer a «ine­vi­ta­bi­li­dade» de um «hor­rível» 2013. Com con­fi­ança e de­ter­mi­nação.



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