Despedimentos em roda livre por todo o País

Assim cresce o desemprego

De Braga a Faro, do Porto aos Açores, em ho­téis e hos­pi­tais, no têxtil ou no tu­rismo, na cons­trução ou na in­dús­tria de be­bidas, vá­rias no­tí­cias deste início de ano mos­tram como a busca do maior lucro de uns poucos exige o sa­cri­fício de muitos.

A bem dos lu­cros, cortam no tra­balho

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Du­rante 2012, mais de 800 em­presas en­cer­raram no dis­trito de Braga, su­bli­nhou no dia 10 a União dos Sin­di­catos, pro­tes­tando contra as me­didas do Go­verno que pro­metem mais aus­te­ri­dade, apesar de estar com­pro­vado o efeito des­tru­tivo de tal po­lí­tica. No dia se­guinte, uma cen­tena de tra­ba­lha­dores do grupo têxtil Or­fama es­tava a re­ceber as cartas para o fundo de de­sem­prego, porque se­gunda-feira seria o seu úl­timo dia de tra­balho – al­guns após mais de 40 anos de ser­viço.

A len­ga­lenga

O des­pe­di­mento co­lec­tivo foi jus­ti­fi­cado com «mo­tivos de mer­cado, cor­res­pon­dentes à re­dução da ac­ti­vi­dade», como alegou a em­presa, ci­tada pela agência Lusa. «É a len­ga­lenga do cos­tume», co­mentou um di­ri­gente do Sin­di­cato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes. Fran­cisco Vi­eira, que também in­tegra o Con­selho Na­ci­onal da CGTP-IN, re­cordou que os tra­ba­lha­dores es­tavam, nos úl­timos tempos, a fazer mais uma hora por dia e, no Natal, não pu­deram gozar os dias de fé­rias que es­tavam pro­gra­mados, para sa­tis­fazer en­co­mendas. A Or­fama, acusou, quer mudar grande parte da pro­dução para o Ban­gla­desh, onde a mão-de-obra é ainda mais ba­rata.

Con­tes­tado logo após ter sido anun­ciado, em me­ados de De­zembro, o des­pe­di­mento co­lec­tivo de 40 tra­ba­lha­dores da Fehst Com­po­nentes, também em Braga, vai ser im­pug­nado em tri­bunal, pois não há nada que o jus­ti­fique, re­velou no dia 4 o SITE Norte. O sin­di­cato voltou a lem­brar que a fá­brica da mul­ti­na­ci­onal tem tido lu­cros e, em 2012, a la­bo­ração nunca es­teve pa­rada, ha­vendo mesmo re­curso a tra­balho su­ple­mentar ex­terno. Por outro lado, a pro­dução pre­vista para 2013 não é in­fe­rior à dos úl­timos três anos. O sin­di­cato, da Fi­e­qui­metal/​CGTP-IN, acusa a Fehst de querer des­pedir os ope­rá­rios mais novos e com menos anos de casa, para os subs­ti­tuir por tra­balho tem­po­rário, com me­nores custos.

Ao con­trário do que exigia o ca­derno de en­cargos da pri­va­ti­zação, a Es­cola Pro­fis­si­onal de Braga re­duziu o seu efec­tivo em 26 tra­ba­lha­dores, desde Agosto de 2011, como o PCP de­nun­ciara e agora o Go­verno con­firmou. A Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Par­tido, ao di­vulgar no dia 11 o con­teúdo da re­posta do Mi­nis­tério da Eco­nomia e do Em­prego a uma per­gunta dos de­pu­tados Agos­tinho Lopes e Rita Rato, des­tacou que ficam assim evi­dentes «as graves con­sequên­cias da pri­va­ti­zação da EPB, de­ci­dida na CM de Braga com os votos fa­vo­rá­veis do PS e da co­li­gação Juntos por Braga».

É o ca­pital

Sem res­postas para travar o au­mento do de­sem­prego, o Go­verno acedeu a con­si­derar como em­presa em re­es­tru­tu­ração o Mil­le­nium BCP, de­pois do banco con­cre­tizar a li­qui­dação de 600 postos de tra­balho, através de res­ci­sões por «mútuo acordo», ob­tido num clima de chan­tagem, de­nun­ciado pelo Sintaf e pelos eleitos uni­tá­rios na CT. No dia 11, foi re­ve­lado que o banco vai avançar com re­formas an­te­ci­padas para mais 150 tra­ba­lha­dores.

O Grupo Sumol+Compal vai avançar com o des­pe­di­mento co­lec­tivo de 70 tra­ba­lha­dores. O Sintab/​CGTP-IN não aceita o ar­gu­mento da crise e afirma, num co­mu­ni­cado de dia 10, logo após a reu­nião re­a­li­zada com a ad­mi­nis­tração, que estes des­pe­di­mentos põem os tra­ba­lha­dores a su­portar os custos da crise ca­pi­ta­lista, tal como os baixos sa­lá­rios pra­ti­cados na Sumol+Compal e a sua não ac­tu­a­li­zação. O sin­di­cato re­cusa pro­cessos de «re­es­tru­tu­ração» de em­presas que «mais não visam do que en­grossar o exér­cito de de­sem­pre­gados e o de­sem­prego es­tru­tu­rado, como sal­va­guarda dos in­te­resses do ca­pital».

No sector da cons­trução civil foram des­truídos mais de 500 mil postos de tra­balho, nos úl­timos quatro anos, aos quais o Grupo Vendap acres­centa 84 tra­ba­lha­dores, com o des­pe­di­mento co­lec­tivo de­ci­dido para o pri­meiro dia deste ano. Para o Sin­di­cato da Cons­trução do Sul, da CGTP-IN, que emitiu um co­mu­ni­cado no dia 12 de De­zembro, a des­truição do apa­relho pro­du­tivo na­ci­onal, fruto das op­ções de vá­rios go­vernos dos úl­timos anos, já de­mons­trou que não serve os tra­ba­lha­dores e o País.

A 27 de De­zembro, por pro­posta da CDU, a As­sem­bleia Mu­ni­cipal de Be­na­vente (con­celho onde a Vendap está se­diada e onde re­side a maior parte dos tra­ba­lha­dores agora des­pe­didos) con­denou por una­ni­mi­dade o des­pe­di­mento, numa moção em que se re­corda que a Vendap tem de­le­ga­ções no con­ti­nente, na Ma­deira, em Es­panha e An­gola, opera no Brasil e em Mo­çam­bique e tem su­cesso nos mer­cados emer­gentes, pos­suindo «uma ex­pres­siva car­teira de cli­entes nas di­versas áreas de ne­gócio».

Sem re­ce­berem sa­lá­rios desde No­vembro, os 13 tra­ba­lha­dores do Hotel Ca­mi­nhos de San­tiago re­cor­reram à sus­pensão dos con­tratos de tra­balho e ma­ni­fes­taram-se na sexta-feira, em San­tiago do Cacém, contra o anun­ciado en­cer­ra­mento da única uni­dade ho­te­leira local, que nasceu da re­cu­pe­ração da an­tiga pou­sada.

O Sin­di­cato da Ho­te­laria do Al­garve pediu a in­ter­venção ur­gente da ACT, con­si­de­rando ilegal o lay-off de­sen­ca­deado no em­pre­en­di­mento Pine Cliffs pela United In­vest­ments, que gere o She­raton Al­garve Hotel, em Al­bu­feira. Para anun­ciar a sus­pensão dos con­tratos, cada um dos 80 tra­ba­lha­dores atin­gidos foi cha­mado aos es­cri­tó­rios e, pe­rante vá­rias pes­soas da di­recção, ins­tado a as­sinar a co­mu­ni­cação, clas­si­fi­cada como con­fi­den­cial, sendo pe­dido que não fa­lasse aos co­legas sobre o as­sunto, de­nun­ciou o sin­di­cato da CGTP-IN, re­cor­dando que a em­presa im­pediu a re­a­li­zação de elei­ções sin­di­cais em Maio pas­sado.

Na sexta-feira, dia 11, a Ben­saúde Tu­rismo, que faz parte do maior grupo pri­vado dos Açores, anun­ciou o des­pe­di­mento de 37 tra­ba­lha­dores e o en­cer­ra­mento do Hotel Ave­nida e da Es­ta­lagem dos Clé­rigos, na ilha de S. Mi­guel. O grupo Ben­saúde, fun­dador do Banif, tem três hol­dings e 34 em­presas, com 2400 tra­ba­lha­dores, e os­tenta, em 2011, um vo­lume de ne­gó­cios de 415 mi­lhões de euros e um total de ac­tivos su­pe­rior a 580 mi­lhões.

 

Saúde ou di­nheiro

Ao Mi­nis­tério da Saúde, neste como no an­te­rior go­verno, «não in­te­ressa um so­corro se­guro, mas sim ba­rato», acusou o Sin­di­cato dos En­fer­meiros Por­tu­gueses, ao chamar a atenção, no dia 8, para o des­pe­di­mento de três en­fer­meiros que, em re­gime de sub­con­tra­tação, ser­viram até ao fim de De­zembro as am­bu­lân­cias SIV de Loulé, Ta­vira e Vila Real de Santo An­tónio. Em 2010 eram dez os pro­fis­si­o­nais nesta si­tu­ação, sendo que o pro­blema se ar­rasta desde 2008.

No mesmo dia, o SEP, o Sin­di­cato dos Tra­ba­lha­dores em Fun­ções Pú­blicas e So­ciais do Norte e a União dos Sin­di­catos do Porto, em co­mu­ni­cado con­junto, con­de­naram a tese de que o Hos­pital de São João po­deria até fazer mais do que faz com menos 20 por cento do pes­soal, como de­fendeu na te­le­visão o pre­si­dente do con­selho de ad­mi­nis­tração da­quela uni­dade. Às afir­ma­ções bom­bás­ticas, mas in­sen­satas e le­vi­anas de An­tónio Fer­reira, que pre­tendem lançar a con­fusão e o pâ­nico entre os tra­ba­lha­dores, as es­tru­turas da CGTP-IN res­pondem com a exi­gência de cla­ri­fi­cação ri­go­rosa do seu sig­ni­fi­cado. No hos­pital tra­ba­lham cerca de 5600 pes­soas, e o di­rector «não se im­porta de juntar mais de mil aos cerca de 200 mil de­sem­pre­gados do dis­trito».




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