Prossegue acção destruidora da troika e do Governo

Só a Banca tem motivo para sorrir

Passos Co­elho foi sexta-feira pas­sada à AR re­go­zijar-se com os re­sul­tados das mais re­centes ava­li­a­ções da troika. «Bem su­ce­didas», assim as ava­liou. Para Je­ró­nimo de Sousa, tudo não passou de uma ten­ta­tiva de «es­conder a ver­dade aos por­tu­gueses».

Go­verno vende ilu­sões para tapar o de­sastre da sua po­lí­tica

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Foi a res­posta do Se­cre­tário-geral do PCP à in­ter­venção ini­cial do pri­meiro-mi­nistro no de­bate quin­zenal onde este pro­curou fazer passar a ideia de que estão reu­nidas «pra­ti­ca­mente todas» as con­di­ções para Por­tugal con­cluir o cha­mado pro­grama de ajus­ta­mento «com su­cesso».

Disse mesmo que se vive um «mo­mento his­tó­rico», que se apro­xima o «mo­mento da ver­dade» e que o «Go­verno está de­ter­mi­nado» em cum­prir as metas acor­dadas para o dé­fice e cum­prir o ob­jec­tivo de «voltar a an­corar a con­so­li­dação or­ça­mental pelo lado das des­pesa», uma ma­neira de dizer que não vai abrandar na po­lí­tica de cortes a todo o custo.

Pelo meio, as­se­gurou que o País «não está a acres­centar dí­vida à que já tem», que o «nível de pers­pec­tiva sobre a eco­nomia não é tão ne­ga­tivo» como antes. Falou in­clu­sive em «in­versão do de­clínio», que as es­ti­ma­tivas sobre a evo­lução macro-eco­nó­mica apontam para uma «re­cessão menor que o pre­visto», di­zendo acre­ditar que ha­verá «cres­ci­mento efec­tivo em 2014» e que «há seis meses que dados apontam para uma re­dução do de­sem­prego».

Pers­pec­tivas e ce­ná­rios a que Je­ró­nimo de Sousa não deu qual­quer re­le­vância, in­sis­tindo em que o pri­meiro-mi­nistro se li­mi­tara a er­guer uma cor­tina de fumo para iludir a re­a­li­dade dos factos, a exemplo do que fi­zera na vés­pera em con­fe­rência de im­prensa o vice-pri­meiro-mi­nistro Paulo Portas.

Ilu­sões

Desde logo, porque o Go­verno mantêm todas as me­didas de aus­te­ri­dade de 2013 e, em se­gundo lugar, porque acres­centa mais aus­te­ri­dade para 2014, in­clu­sive com me­didas que foram afir­madas como sendo con­jun­tu­rais.

Exem­pli­fi­cando, Je­ró­nimo de Sousa as­si­nalou que se mantêm os cortes nos sa­lá­rios e pen­sões – «e quando não se corta con­gela-se», frisou –, en­ten­dendo por isso que o Go­verno tem «um com­por­ta­mento de venda de ilu­sões».

Pôs ainda em evi­dência o logro que é o anúncio do «início da re­cu­pe­ração eco­nó­mica» quando é sa­bido que o Exe­cu­tivo pre­para novos cortes nas pen­sões, cortes na saúde, cortes na edu­cação, cortes na pro­tecção so­cial (par­ti­cu­lar­mente aos de­sem­pre­gados e aos do­entes), pros­se­guindo si­mul­ta­ne­a­mente com a ali­e­nação de pa­tri­mónio pú­blico em­pre­sa­rial. E a pro­pó­sito desta úl­tima linha de ataque, o Se­cre­tário-geral do PCP não deixou de re­parar na au­sência nesta ma­téria de qual­quer «fibra de pa­tri­o­tismo» por parte do Go­verno. Em sua opi­nião, é disso que se trata quando se as­siste à venda da EDP, da REN, da ANA, da Cimpor e, agora, da PT que «voou para o Brasil».

«Não tem um gesto de dig­ni­dade na­ci­onal, se­nhor pri­meiro-mi­nistro?», in­quiriu o di­ri­gente co­mu­nista, alu­dindo ao que chamou de «venda ao des­ba­rato da­quilo que é ren­tável, de ins­tru­mentos fun­da­men­tais para o nosso de­sen­vol­vi­mento e cres­ci­mento eco­nó­mico».

Po­de­rosa Banca

O Se­cre­tário-geral do PCP ad­mitiu, por outro lado, que «está tudo dito» quando o pri­meiro-mi­nistro de­fine como ob­jec­tivo cen­tral desta po­lí­tica e deste Go­verno a «es­ta­bi­li­dade do sector fi­nan­ceiro». «Bem podem es­perar os pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios, bem podem es­perar os em­pre­sá­rios da res­tau­ração por uma outra po­lí­tica fiscal», re­feriu o líder co­mu­nista, con­victo de que essa será uma es­pera em vão, «porque o Go­verno já de­cidiu: tudo para a Banca, tudo o que for ne­ces­sário para a Banca; nada para aqueles que podem con­tri­buir para o cres­ci­mento e o de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico».

Sobre a dí­vida (a ca­minho dos 130%) e o ser­viço da dí­vida, pa­ra­fra­se­ando o Pre­si­dente da Re­pú­blica, Je­ró­nimo de Sousa con­si­derou que «só por ma­so­quismo é que se pode con­si­derar que é sus­ten­tável uma dí­vida desta na­tu­reza». E fez questão de lem­brar que «o tal em­prés­timo, a “ajuda” da troika era para re­solver o pro­blema do dé­fice, o pro­blema da dí­vida».

Quanto ao pro­pa­lado «su­cesso» desta po­lí­tica e da ava­li­ação da troika, Je­ró­nimo de Sousa re­gistou por fim o facto de os ban­queiros «terem sido os únicos a con­si­derar que as coisas estão a ir bem». Mas a me­lhor ava­li­ação, re­gistou, foi efec­tuada a 29 de Se­tembro, al­tura em que «os por­tu­gueses dis­seram que este Go­verno está a mais, que deve ser de­mi­tido, e dada a pa­lavra ao povo em elei­ções».

«Esta é que é a grande ava­li­ação da si­tu­ação ac­tual que vi­vemos», con­cluiu.

 

Ma­nobra suja

Cha­madas para pri­meiro plano por Je­ró­nimo de Sousa foram também as ques­tões do de­sem­prego. A este res­peito elevou o de­sem­penho de Paulo Portas à ca­te­goria de «ver­da­deiro ar­tista». É que an­dando a taxa de de­sem­prego na casa dos 16 e tal por cento, re­cordou, foi anun­ciado há uns tempos que o mesmo po­deria ir até aos 18%, para agora o Go­verno vir dizer que afinal só vai até aos 17,7%. Ou seja, con­cluiu, está-se pe­rante a «ex­pressão es­pan­tosa de que “não vamos con­se­guir o de­sem­prego que gos­ta­ríamos, mas não vai subir tanto como pre­víamos”».

«Oh! se­nhor vice-pri­meiro-mi­nistro, oh! se­nhor pri­meiro-mi­nistro, se­jamos sé­rios!», instou Je­ró­nimo de Sousa, su­bli­nhando que está em causa a vida de cen­tenas de mi­lhares de por­tu­gueses que hoje se vêem pri­vados do seu em­prego. Es­ta­tís­tica onde não en­tram os cerca de 200 mil por­tu­gueses que ti­veram de emi­grar, ob­servou ainda, antes de se in­ter­rogar sobre qual seria a taxa de de­sem­prego se aqueles não ti­vessem de­ci­dido partir em busca do pão que a pá­tria lhes nega.

 



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