Enfrentamento

Henrique Custódio

O Go­verno agora afaga uma no­vi­dade: a de que umas dé­cimas de su­bida, quer nas fa­mosas «pre­vi­sões» – as que nunca se cum­priram neste Exe­cu­tivo –, quer na «com­pa­ração ho­mó­loga» com o triénio do ano pas­sado sig­ni­ficam... um «in­dício ténue» de «re­toma», que se de­su­nham para que seja vista como «con­sis­tente».

Os fe­lizes go­ver­nantes es­quecem-se de dizer que, mais dé­cima menos dé­cima em «com­pa­ra­ções ho­mó­logas», o de­sem­prego com­pa­rado con­tinua dra­ma­ti­ca­mente acima dos 16% ofi­ciais (no ter­reno, em mi­lhão e meio de pes­soas sem tra­balho), que o dé­fice deste ano in­siste nos 5% e que a dí­vida já anda a rasar os 130% do PIB.

Quanto às «pre­vi­sões» para 2014 – tanto as do Banco de Por­tugal como as do Go­verno –, a re­a­li­dade dos seus ro­tundos e com­pletos fa­lhanços em todo o tra­jecto go­ver­na­mental têm o cré­dito das «poses» de Paulo Portas.

É também uma evi­dência que este Exe­cu­tivo não tem pinga nem de ver­gonha nem de sen­tido de Es­tado, quanto mais res­peito pelo povo e pelo País ou o mais lon­gínquo sen­ti­mento pa­trió­tico. Para esta gente tudo são jo­gadas, ma­no­bras, di­la­ções, con­luios e men­tira sis­te­má­tica que os con­serve no poder, ar­re­ma­tando com uma ir­res­pon­sa­bi­li­dade e uma in­cons­ci­ência tão li­te­rais, que lhes per­mite fingir não per­ceber que têm o País de todos os qua­drantes a clamar, de­ses­pe­rado, pela sua de­missão e con­vo­cação ime­diata de elei­ções an­te­ci­padas.

O seu único se­guro de vida re­side na troika e no Pre­si­dente da Re­pú­blica, sem que al­guém, apa­ren­te­mente, se aper­ceba ou queira per­ceber uma evi­dência: a de que este ob­ses­sivo apoio dos res­pon­sá­veis do «res­gate» a esta po­lí­tica de de­sastre e em­po­bre­ci­mento do nosso País não re­sulta de en­canto pelas lindas caras de Co­elho ou de Ca­vaco mas, sim­ples­mente, de­nun­ciam o de­ses­pero destes se­nhores da Eu­ropa em exibir, com Por­tugal, um «su­cesso» da po­lí­tica de aus­te­ri­dade sel­vagem e de apro­fun­da­mento con­tínuo duma dí­vida obs­cena e im­pa­gável.

Este de­ses­pero da troika afu­nilou-se num cal­ca­nhar de Aquiles com que po­lí­ticos sé­rios e pa­trió­ticos em Por­tugal, Grécia, Es­panha ou Itália podem, de ime­diato, en­costar à pa­rede esta po­lí­tica as­sas­sina que está a san­grar os países in­ter­ven­ci­o­nados (com ou sem res­gate formal), em opu­lento be­ne­fício da Ale­manha e dos seus sa­té­lites. Os mons­tru­osos juros de 6, 7% e mais, que os «in­ter­ven­ci­o­nados» pagam, vão di­rec­ta­mente para bancos e fi­nan­ceiros ale­mães e cor­re­la­tivos. Isto é mais do que uma evi­dência, é um facto.

E en­costar à pa­rede sig­ni­fica, exac­ta­mente, o que a me­tá­fora su­gere: impor o fim deste es­bulho e destas mi­sé­rias na­ci­o­nais a co­berto da di­ta­dura do dé­fice, pondo em causa clara o que, na sombra, está igual­mente em causa – a moeda única e a pró­pria União Eu­ro­peia.

É também claro que nunca se con­tará com o ac­tual Go­verno para con­cre­tizar este en­fren­ta­mento pa­trió­tico à troika, porque este Go­verno é um seu mero ser­viçal.



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