Tunísia

Aniversário tenso

O terceiro aniversário do início da revolta social que culminou com o derrube da ditadura liderada por Ben Ali foi assinalado, dia 17, num ambiente tenso. Várias manifestações foram promovidas por diferentes organizações políticas na região de Sidi Bouzid, berço das movimentações populares de 2010 e 2011, desencadeadas depois de o jovem comerciante Mohamed Buazizi, desesperado com a pobreza e a repressão policial, se ter imolado em praça pública.

O partido islamita Al-Nahda, o conservador Hizb al Tahrir, e a União Geral dos Trabalhadores Tunisinos (UGTT) e a Frente Popular, de esquerda, realizaram marchas próprias. A provar o clima de incerteza e de frustração crescentes na Tunísia, os representantes de órgãos de soberania – o chefe de Estado Monsef Marzuki, o presidente do parlamento Ben Yafaar, e o primeiro-ministro Ali Laridi –, contrariamente ao previsto, não se deslocaram a Sidi Bouzid, cingindo-se a uma cerimónia oficial à porta fechada na capital, Tunes. Laridi e Yafaar temiam voltar a ser recebidos pelo povo de Sidi Bouzid com uma salva de pedras, como aconteceu em 2012.

As razões dos protestos de então não só se mantêm como se agravaram. A pobreza é a principal chaga social, avolumada pelo desemprego persistente, o qual, segundo cifras oficiais, afecta 24,4 por cento da população activa e 57,1 por cento dos jovens com formação universitária. Acresce um clima político complexo.

O partido no poder, o Al-Nahda, e grande parte da oposição caucionam sem reservas aparentes a substituição do actual chefe do governo, Laridi, pelo ministro da Indústria, Mehdi Joma, que fica encarregado de formar um gabinete de «independentes». Não obstante, a UGTT insiste em prosseguir as negociações em torno do calendário de formação do executivo que assumirá funções de transição até à convocação de novas eleições.

O presidente Marzuki pretende que o sufrágio ocorra antes do Verão de 2014, mas esta não é a única questão em cima da mesa, faltando acordar a data e os termos de consulta popular sobre a nova Constituição do país, e ultimar o seu conteúdo.

Recorde-se que este ano uma crise política juntou-se à crise económica e social que atinge a Tunísia, isto depois dos assassinatos, em Fevereiro e Julho, dos líderes populares Chokri Belaid e Mohamed Brahmi.




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