Outro rumo para o País exige ruptura com as privatizações

Assegurar a soberania

No quadro da con­cre­ti­zação das con­clu­sões do XIX Con­gresso do PCP e da re­so­lução saída da reu­nião do Co­mité Cen­tral do PCP de 15 e 16 de De­zembro de 2013, a Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Porto do PCP pro­moveu, no pas­sado dia 16 de Julho, o de­bate «Con­trolo pú­blico dos sec­tores es­tra­té­gicos da eco­nomia. Con­dição para o de­sen­vol­vi­mento e so­be­rania do País».


A ini­ci­a­tiva – in­te­grada num ciclo mais vasto de de­bates pro­mo­vidos pelo PCP no âm­bito das co­me­mo­ra­ções do 40.º ani­ver­sário do 25 de Abril e do ciclo de de­bates sob o lema «Os va­lores de Abril no fu­turo de Por­tugal» – contou com a par­ti­ci­pação, entre ou­tros, de Agos­tinho Lopes, do Co­mité Cen­tral (CC) do PCP e res­pon­sável pela Co­missão de As­suntos Eco­nó­micos junto do CC, de Jaime Toga e de Vasco Car­doso, ambos da Co­missão Po­lí­tica do Co­mité Cen­tral do PCP.

«Es­tamos pe­rante um pro­cesso po­lí­tico que so­freu um claro agra­va­mento com o pacto de agressão e com a trans­fe­rência de ins­tru­mentos de gestão e pla­ne­a­mento eco­nó­mico na­ci­o­nais para a União Eu­ro­peia, com o acordo dos mesmos exe­cu­tantes da po­lí­tica de di­reita dos úl­timos 37, e agora agra­vado com o Tra­tado Or­ça­mental, ori­gi­nando es­tag­nação e re­cessão eco­nó­mica, dé­fices es­tru­tu­rais, dé­fice pú­blico e uma cres­cente de­pen­dência ex­terna que fazem pe­rigar a in­de­pen­dência e so­be­rania na­ci­o­nais», afirmou Jaime Toga.

Desde a contra-re­vo­lução

Vasco Car­doso su­bli­nhou, por seu lado, que o pro­cesso de pri­va­ti­za­ções, apre­sen­tado sempre como si­nó­nimo de mo­der­ni­zação do País e meio para re­so­lução dos grandes pro­blemas na­ci­o­nais, «obe­deceu e obe­dece a uma pro­gra­mada e mul­ti­fa­ce­tada ope­ração que se de­sen­volve desde o início da contra-re­vo­lução».

«Assim tem sido com: a no­me­ação de con­se­lhos de ad­mi­nis­tração de nu­me­rosas em­presas pú­blicas que outra pre­o­cu­pação não ti­veram que não fosse criar as con­di­ções para a sua pri­va­ti­zação; o es­tran­gu­la­mento fi­nan­ceiro e o desvio de verbas para fi­nan­ciar o Or­ça­mento do Es­tado; as su­ces­sivas re­vi­sões cons­ti­tu­ci­o­nais e a abun­dante pro­dução le­gis­la­tiva des­ti­nada a fa­ci­litar a acu­mu­lação ca­pi­ta­lista; a trans­for­mação de em­presas pú­blicas em so­ci­e­dades anó­nimas de ca­pi­tais pú­blicos; uma in­te­gração eu­ro­peia que serviu como ele­mento ca­ta­li­sador da des­truição do sector em­pre­sa­rial do Es­tado», des­creveu.

Na­quele de­bate, o membro da Co­missão Po­lí­tica do PCP lem­brou ainda que «foi através das pri­va­ti­za­ções, com a venda de cen­tenas de em­presas (em regra, abaixo do seu valor), con­jun­ta­mente com ina­cei­tá­veis pri­vi­lé­gios e pro­cessos frau­du­lentos, que muitos dos grupos mo­no­po­listas do tempo do fas­cismo res­sur­giram e re­cu­pe­raram poder eco­nó­mico e po­lí­tico, assim como emer­giram novos grupos eco­nó­micos e flo­resceu o ca­pital fi­nan­ceiro no nosso País».

Só nos úl­timos três anos foram en­tre­gues, so­bre­tudo ao grande ca­pital es­tran­geiro, a ANA – Ae­ro­portos, a EDP, a REN, os Se­guros da CGD, a CIMPOR, a PT, os CTT e os Es­ta­leiros Na­vais de Viana do Cas­telo. Pelo ca­minho ficou adiada a pri­va­ti­zação da TAP e da RTP, sendo que estão também na calha o Metro de Lisboa, a Carris, a So­ci­e­dade de Trans­portes Co­lec­tivos do Porto (STCP), para além dos re­sí­duos só­lidos da EGF e as Águas de Por­tugal, entre ou­tras em­presas.

Con­dição para Por­tugal

Neste sen­tido, a re­cu­pe­ração do con­trolo pú­blico dos sec­tores es­tra­té­gicos da eco­nomia é não apenas um eixo fun­da­mental da po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda de que o País pre­cisa, mas so­bre­tudo uma con­dição para que Por­tugal se possa de­sen­volver, as­se­gurar a sua so­be­rania, num quadro de re­la­ções eco­nó­micas mu­tu­a­mente van­ta­josas com ou­tros povos.

«Seja por na­ci­o­na­li­za­ções, seja por acordos, ou outro tipo de me­didas de in­ter­venção do Es­tado, é ta­refa de um go­verno pa­trió­tico e de es­querda romper com o poder dos mo­no­pó­lios e abrir ca­minho à re­cu­pe­ração para as mãos do povo por­tu­guês dos sec­tores es­tra­té­gicos», de­fendeu, fri­sando que esta é uma opção que «se ar­ti­cula na­tu­ral­mente com a exi­gência da re­ne­go­ci­ação da dí­vida nos seus prazos, juros e mon­tantes, e a pre­pa­ração do País face a uma saída do euro; com a re­cu­pe­ração dos sa­lá­rios, pen­sões e ren­di­mentos que foram en­tre­tanto rou­bados; com a de­fesa e pro­moção da pro­dução na­ci­onal; com a tri­bu­tação efec­tiva do grande ca­pital e uma re­forma fiscal que alivie os tra­ba­lha­dores e as pe­quenas e mé­dias em­presas; com a va­lo­ri­zação dos ser­viços pú­blicos e as fun­ções so­ciais do Es­tado; com a afir­mação da so­be­rania na­ci­onal, de­sig­na­da­mente pe­rante a União Eu­ro­peia e ou­tras es­tru­turas».

Con­trolo pú­blico dos sec­tores es­tra­té­gicos da eco­nomia

«Só o con­trolo pú­blico pode ga­rantir que são sal­va­guar­dados os com­po­nentes da se­gu­rança na­ci­onal (con­ceito es­tra­té­gico de de­fesa), da so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­o­nais», ex­plicou, no de­bate re­a­li­zado no Porto, Agos­tinho Lopes, re­fe­rindo que «a forma de o fazer, de con­cre­tizar o exer­cício do con­trolo pú­blico, es­tará muito de­pen­dente da es­tru­tura ope­ra­ci­onal e eco­nó­mica» das em­presas/​sec­tores.

«Tra­tando-se de grandes em­presas (de di­mensão na­ci­onal), com infra-es­tru­turas em rede, pro­du­zindo um quadro de mo­no­pólio ou oli­go­pólio, a exi­gência é que sejam em­presas de pro­pri­e­dade pú­blica, com gestão pú­blica e uma ló­gica de fun­ci­o­na­mento de ser­viço pú­blico. O que não é in­com­pa­tível com uma au­to­nomia em­pre­sa­rial, no quadro dos ob­jec­tivos e ori­en­ta­ções es­tra­té­gicos, de missão de­fi­nida pelo Es­tado, re­pre­sen­tante do in­te­resse pú­blico», de­fendeu, acres­cen­tando: «O mesmo se dirá para sec­tores que, pela na­tu­reza muito es­pe­cial das suas pro­du­ções – caso do ar­ma­mento – ou por se tratar de re­cursos es­cassos, exi­gindo uma cri­te­riosa ex­plo­ração e gestão da sua apli­cação – mi­nério/​ouro – a sal­va­guarda do in­te­resse na­ci­onal exige a pre­sença e in­ter­venção di­recta do Es­tado».

De igual forma, no caso de sec­tores/​ac­ti­vi­dades su­por­tados por inú­meras em­presas de di­versas di­men­sões – agri­cul­tura e pescas, por exemplo, «o con­trolo pú­blico exi­girá po­lí­ticas pú­blicas ade­quadas, in­cluindo a forte re­gu­lação dos mer­cados – no­me­a­da­mente do co­mércio ex­terno – para ga­rantir as pro­du­ções ne­ces­sá­rias, o con­se­quente es­co­a­mento, a preços aces­sí­veis, com­pa­tí­veis com o bom uso (eco­nó­mico, so­cial, am­bi­ental, sus­ten­tável) dos re­cursos ex­plo­rados – a terra, o mar», des­creveu Agos­tinho Lopes.




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Para o PCP, a de­fesa da pro­dução na­ci­onal, nos seus grandes ramos de ac­ti­vi­dade – agri­cul­tura e flo­resta, pescas, in­dús­trias trans­for­ma­doras e ex­trac­tiva – sempre cons­ti­tuiu uma «ban­deira po­lí­tica», uma vez que não há pá­tria so­be­rana e in­de­pen­dente sem pro­dução ma­te­rial.

Em 1977, nas con­clu­sões da Con­fe­rência Na­ci­onal do PCP «A saída da crise» pode ler-se: «O au­mento de pro­dução com a má­xima uti­li­zação dos re­cursos na­ci­o­nais é uma exi­gência im­pe­ra­tiva e pri­meira con­dição para o equi­lí­brio da ba­lança de pa­ga­mentos e a re­cu­pe­ração eco­nó­mica do País».

Com a po­lí­tica de di­reita pros­se­guida por PS, PSD e CDS, a pro­dução na­ci­onal es­teve sempre con­di­ci­o­nada, sub­me­tida e guiada pelos in­te­resses do grande ca­pital na­ci­onal e es­tran­geiro e dos grandes grupos mo­no­po­listas, o que levou ao ca­tas­tró­fico en­di­vi­da­mento ex­terno.

Re­jei­tando este ca­minho de re­cu­pe­ração do ca­pital mo­no­po­lista, dos in­te­resses dos grandes pro­pri­e­tá­rios fun­diá­rios e do im­pe­ri­a­lismo, o Par­tido com­bateu e de­nun­ciou a po­lí­tica do PS, PSD e CDS contra a pro­dução na­ci­onal, apre­sen­tando uma po­lí­tica al­ter­na­tiva à po­lí­tica de de­sastre total que está em curso.

En­tre­tanto, até De­zembro deste ano, o Par­tido lançou a cam­panha na­ci­onal «A força do povo, por um Por­tugal com fu­turo», com o ob­jec­tivo de de­bater de forma in­te­grada os eixos nu­cle­ares da po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda que o Par­tido apre­senta ao povo por­tu­guês.

Até ao pró­ximo do­mingo (19 de Ou­tubro), es­tará em dis­cussão a di­ver­si­fi­cação e o au­mento da pro­dução na­ci­onal, a re­cu­pe­ração para o Es­tado do sector fi­nan­ceiro e de ou­tras em­presas e sec­tores es­tra­té­gicos in­dis­pen­sá­veis ao apoio à eco­nomia, o au­mento do in­ves­ti­mento pú­blico e o fo­mento da pro­cura in­terna.


Comboio do grande capital europeu em andamento

Karl Marx e Fri­e­drich En­gels as­si­na­lavam no Ma­ni­festo Co­mu­nista, pu­bli­cado pela pri­meira vez em 1848, a di­nâ­mica ex­pan­si­o­nista e cen­tra­li­za­dora do ca­pital através da acção da sua classe, a bur­guesia. De como esse mo­vi­mento criava o es­tado-nação de que o ca­pital e a bur­guesia ne­ces­si­tavam.

«Cada vez mais a bur­guesia su­prime a dis­persão dos meios de pro­dução, dos ha­veres e da po­pu­lação. Aglo­merou a po­pu­lação, cen­tra­lizou os meios de pro­dução e con­cen­trou a pro­pri­e­dade em poucas mãos. A con­sequência ne­ces­sária deste pro­cesso foi a cen­tra­li­zação po­lí­tica. Pro­vín­cias in­de­pen­dentes ou pre­ca­ri­a­mente unidas, com in­te­resses, leis, go­vernos, e di­reitos al­fan­de­gá­rios di­versos, foram es­par­ti­lhadas (ou reu­nidas) numa nação, num go­verno, numa lei, no in­te­resse na­ci­onal de uma classe, num sis­tema adu­a­neiro», es­cre­veram.


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