Jerónimo de Sousa reafirma
a existência de alternativa

No povo reside a força

«Existem pro­postas con­cretas para cons­truir uma al­ter­na­tiva po­lí­tica ba­seada numa po­lí­tica al­ter­na­tiva», afirmou Je­ró­nimo de Sousa, que rei­terou também a con­fi­ança do PCP «de que é no povo que re­side a força para operar as mu­danças ne­ces­sá­rias que ga­rantam o pre­sente e o fu­turo do nosso País».

O ca­minho da mu­dança trilha-se na luta

A en­cerrar a sessão da pas­sada sexta-feira, 5, o Se­cre­tário-geral do Par­tido lem­brou que «tal como a Re­vo­lução de Abril nos com­provou pela prá­tica, e tal como a Cons­ti­tuição con­sagra na sua ma­triz, a so­be­rania e a in­de­pen­dência na­ci­o­nais são parte in­te­grante da de­mo­cracia nas suas quatro ver­tentes – a eco­nó­mica, a so­cial, a po­lí­tica e a cul­tural.»

Sendo a so­be­rania na­ci­onal «o di­reito do povo por­tu­guês a de­ter­minar o seu pró­prio des­tino» e «da sua re­lação com os povos do mundo», de­fendê-la «é de­fender a ver­da­deira noção e con­ceito de de­mo­cracia», a qual «tem con­teúdos con­cretos» e «não é uma pa­lavra oca des­pro­vida de op­ções de classe», pros­se­guiu.

O di­ri­gente co­mu­nista lem­brou, assim, que «não há uma ver­da­deira de­mo­cracia so­cial num País onde a ri­queza pro­du­zida é ca­na­li­zada para os grandes grupos eco­nó­micos e seus pro­pri­e­tá­rios, grande parte deles as­so­ci­ados ao grande ca­pital es­tran­geiro, ao mesmo tempo que se acen­tuam o de­sem­prego, a po­breza e mesmo a fome; quando go­vernos, como o ac­tual, se sub­metem e co­la­boram com in­te­resses alheios ao in­te­resse na­ci­onal, ca­na­li­zando grande parte dos nossos re­cursos para ali­mentar a gula do grande ca­pital fi­nan­ceiro numa es­piral de en­di­vi­da­mento sem fim; quando su­ces­sivos go­vernos aprovam na UE tra­tados, di­rec­trizes e ori­en­ta­ções que im­põem aos tra­ba­lha­dores e ao povo – e por­tanto ao País – o em­po­bre­ci­mento, uma re­gressão sem pa­ra­lelo dos di­reitos so­ciais e la­bo­rais ou a des­truição e pri­va­ti­zação de ser­viços pú­blicos.»

Do mesmo modo, acres­centou, não se pode falar de uma ver­da­deira de­mo­cracia eco­nó­mica quando se en­trega aos in­te­resses pri­vados e ao grande ca­pital es­tran­geiro quase todas as ala­vancas da eco­nomia na­ci­onal; quando vemos des­truídos cen­tenas de mi­lhares de postos de tra­balho em poucos anos, quando im­por­tamos grande parte do que co­memos; quando vemos re­du­zida a me­tade a nossa frota pes­queira, quando es­tamos a perder a so­be­rania sobre a nossa es­tru­tura na­ci­onal de co­mu­ni­ca­ções, de energia ou mesmo de abas­te­ci­mento de água, ou quando es­tamos em risco de deixar de ter uma com­pa­nhia aérea na­ci­onal.»

Para Je­ró­nimo de Sousa, também «não há ver­da­deira de­mo­cracia po­lí­tica num País em que as suas ins­ti­tui­ções são cada vez mais es­va­zi­adas e su­bal­ter­ni­zadas; quando se con­centra o poder po­lí­tico em ins­ti­tui­ções su­pra­na­ci­o­nais co­man­dadas por elites es­co­lhidas em função dos in­te­resses dos mo­no­pó­lios.

«E mesmo no plano cul­tural as con­sequên­cias estão à vista, acusou, pois não se pode falar de ver­da­deira de­mo­cracia cul­tural num País em que se des­trói o sis­tema pú­blico de en­sino ao mesmo tempo que se em­purra para o es­tran­geiro jo­vens al­ta­mente qua­li­fi­cados e com com­pe­tên­cias que apro­fun­da­riam o pa­tri­mónio cul­tural, ci­en­tí­fico e tec­no­ló­gico na­ci­onal; que em vez de ga­rantir as con­di­ções que pro­movam a cri­ação, pro­dução, di­fusão e fruição cul­tu­rais, pelo con­trário, as li­mita e res­tringe; que não de­fende e pro­move a sua língua» e está «cada vez mais sub­me­tido aos in­te­resses dos grandes grupos eco­nó­micos trans­na­ci­o­nais da co­mu­ni­cação. Não se pode falar de de­mo­cracia e de um ver­da­deiro País so­be­rano quando a in­to­le­rância, o ra­cismo e a xe­no­fobia fazem ca­minho por entre a crise so­cial e a po­lí­tica de ne­o­co­lo­ni­a­lismo do­mi­nante, e quando o Go­verno por­tu­guês con­tribui para esse caldo de cul­tura ao as­so­ciar e sub­meter Por­tugal às po­lí­ticas que estão na origem desses fe­nó­menos e às es­tra­té­gias da União Eu­ro­peia e da NATO de in­ter­ven­ci­o­nismo e mi­li­ta­rismo nos mais di­versos pontos do globo.»

Há so­lução

Con­si­de­rando que Por­tugal «en­contra-se no­va­mente numa en­cru­zi­lhada his­tó­rica», o Se­cre­tário-geral do Par­tido afirmou exis­tirem «apenas dois ca­mi­nhos pos­sí­veis: ou apro­fundar o rumo ac­tual pondo em causa a vida e a dig­ni­dade dos por­tu­gueses, o re­gime de­mo­crá­tico e o fu­turo so­be­rano do País ou, pelo con­trário, operar as rup­turas po­lí­ticas ne­ces­sá­rias para, afir­mando e cum­prindo a Cons­ti­tuição e re­pondo os va­lores de Abril como eixos es­tru­tu­rantes da es­tra­tégia de de­sen­vol­vi­mento, abrindo ca­minho a uma re­cu­pe­ração de di­reitos, de con­di­ções de vida, de ca­pa­ci­dade de de­sen­vol­vi­mento e de so­be­rania.»

Je­ró­nimo de Sousa re­alçou, em se­guida, que «a todos os que fazem a le­gí­tima per­gunta: “qual então o ca­minho e a al­ter­na­tiva?!», o PCP in­siste que «esse ca­minho e essa al­ter­na­tiva estão nas suas pró­prias mãos, von­tade e acção.

«Um ca­minho que se trilha na luta», adi­antou ainda, antes de pro­ceder a «cla­ri­fi­ca­ções ne­ces­sá­rias: A al­ter­na­tiva para Por­tugal passa por manter o gar­rote e saque da dí­vida ou passa por uma re­ne­go­ci­ação da mesma?; passa por con­ti­nuar a aceitar im­po­si­ções, no­me­a­da­mente no âm­bito do mer­cado único, que des­troem o apa­relho pro­du­tivo na­ci­onal, e pela con­ti­nu­ação da pri­va­ti­zação das ala­vancas eco­nó­micas do País, ou, pelo con­trário, passa por uma co­ra­josa po­lí­tica de va­lo­ri­zação da pro­dução na­ci­onal, no­me­a­da­mente pela re­cu­pe­ração para o con­trolo pú­blico de sec­tores e em­presas es­tra­té­gicas, de­sig­na­da­mente do sector fi­nan­ceiro, no­me­a­da­mente por via da na­ci­o­na­li­zação?; passa por dar con­ti­nui­dade ao ac­tual rumo da UE, man­tendo Por­tugal amar­rado, ou por uma po­lí­tica co­ra­josa, em co­or­de­nação com ou­tros povos e países, que re­jeite as im­po­si­ções do euro e da UE re­cu­pe­rando para o País a sua so­be­rania eco­nó­mica, or­ça­mental e mo­ne­tária, no­me­a­da­mente es­tu­dando, pre­pa­rando e cri­ando as con­di­ções para uma saída de Por­tugal do euro?»

«Estas ques­tões, partes cons­ti­tuintes de uma po­lí­tica so­be­rana que pugne pelos in­te­resses na­ci­o­nais, a par com ou­tras como a po­lí­tica sa­la­rial e de ren­di­mentos, da re­po­sição dos di­reitos so­ciais e la­bo­rais e seu alar­ga­mento ou a po­lí­tica fiscal, são ques­tões es­sen­ciais e ime­di­atas quando fa­lamos de al­ter­na­tiva e de rup­tura», sin­te­tizou.

 



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