CGTP-IN expõe obstáculos à conciliação

O trabalho e a vida

Numa acção pú­blica, na baixa de Lisboa, o ataque dos pa­trões e do Go­verno contra a re­gu­lação dos ho­rá­rios de tra­balho foi apon­tado como um dos mais graves im­pe­di­mentos à con­ci­li­ação do tra­balho com a vida pes­soal e fa­mi­liar.

Quem tra­balha deve ter mais tempo para si e para os seus fa­mi­li­ares

A ini­ci­a­tiva, que mo­bi­lizou cerca de 300 pes­soas, na tarde de quarta-feira, dia 10, foi pro­mo­vida pela CGTP-IN, através das suas or­ga­ni­za­ções es­pe­cí­ficas, a Co­missão para a Igual­dade entre Mu­lheres e Ho­mens, a In­ter­jovem e a Inter-Re­for­mados. Exi­gindo «Di­reito a tra­ba­lhar com vida pes­soal e fa­mi­liar», no an­fi­te­atro ins­ta­lado na Rua do Carmo foram ex­postos pu­bli­ca­mente «omis­sões, re­cusas e obs­tá­culos», com al­guns re­latos na pri­meira pessoa. Mas foi igual­mente sa­li­en­tada a im­por­tância de, neste campo de pre­o­cu­pa­ções en­co­bertas e ig­no­radas, mas que as­sumem grande re­le­vância, le­vando a que 2014 tenha sido de­cla­rado «Ano Eu­ropeu da con­ci­li­ação entre a vida pro­fis­si­onal e a vida fa­mi­liar» co­nhecer e di­vulgar os di­reitos dos tra­ba­lha­dores, de­nun­ciar, re­sistir e der­rotar in­jus­tiças e ile­ga­li­dades.

Foram ou­vidos, du­rante cerca de duas horas, tes­te­mu­nhos de mu­lheres, a mai­oria, e de al­guns ho­mens. Al­gumas mães e ca­sais ti­nham ali con­sigo cri­anças de colo.

Junto de al­gumas das filas de ca­deiras ali­nharam-se car­ri­nhos de bebé, com frases a evocar si­tu­a­ções que de­correm da des­re­gu­la­men­tação ou des­res­peito do que na le­gis­lação e na con­tra­tação co­lec­tiva (ela também com força de lei) está es­ta­be­le­cido sobre or­ga­ni­zação de ho­rá­rios de tra­balho. Foram re­fe­ridos o au­mento da se­mana de tra­balho na Ad­mi­nis­tração Pú­blica, de 35 para 40 horas; a im­po­sição de «bancos» de horas; a ne­gação do di­reito a ho­rá­rios fle­xí­veis para mães e pais tra­ba­lha­dores com fi­lhos de idade até 12 anos.

A di­fi­cul­dade de con­ci­liar tra­balho e vida pes­soal, jun­ta­mente com a dis­cri­mi­nação de tra­ba­lha­dores com res­pon­sa­bi­li­dades fa­mi­li­ares e com fac­tores como os baixos ren­di­mentos, a pre­ca­ri­e­dade de em­prego e o de­sem­prego «con­tri­buem for­te­mente quer para o adi­a­mento da de­cisão de ter fi­lhos, quer para a re­dução das taxas de na­ta­li­dade», as­si­nala-se no «ma­ni­festo rei­vin­di­ca­tivo», apro­vado no final da acção, logo após a in­ter­venção do Se­cre­tário-geral da CGTP-IN, Ar­ménio Carlos.

O que faz falta

As rei­vin­di­ca­ções para «uma po­lí­tica de con­ci­li­ação entre a vida pro­fis­si­onal e a vida pes­soal e fa­mi­liar» se­guem, em di­versos pontos, as «18 li­nhas de força para uma po­lí­tica de pro­moção da na­ta­li­dade», que a Co­missão Exe­cu­tiva da cen­tral de­fendeu no final de Se­tembro (e que a Inter já tinha apre­sen­tado em 15 de Julho), a co­meçar pela pro­moção de em­prego es­tável e com di­reitos.

No «ma­ni­festo» exige-se «formas de or­ga­ni­zação do tempo de tra­balho fa­vo­rá­veis ao exer­cício das fun­ções pa­ren­tais e res­pei­ta­doras da saúde, no­me­a­da­mente através da ma­nu­tenção das 35 horas de tra­balho se­manal na Ad­mi­nis­tração Pú­blica e da re­dução pro­gres­siva do ho­rário de tra­balho nos res­tantes sec­tores, sem di­mi­nuição de sa­lário».

O efec­tivo pa­ga­mento de sa­lário igual por tra­balho igual ou de igual valor é com­ple­tado pela rei­vin­di­cação de au­mento geral dos sa­lá­rios e das pen­sões.

Além de com­bate ao des­pe­di­mento ilegal de tra­ba­lha­doras grá­vidas, puér­peras e lac­tantes, re­clama-se a re­po­sição da sua pro­tecção acres­cida contra des­pe­di­mentos.

Com a pro­moção da plena igual­dade de di­reitos entre mu­lheres e ho­mens, no exer­cício das suas res­pon­sa­bi­li­dades pa­ren­tais, e o in­cen­tivo à par­tilha destas res­pon­sa­bi­li­dades, vem a exi­gência de pro­tecção so­cial ga­ran­tida, para todos os de­sem­pre­gados que te­nham dei­xado de re­ceber pres­ta­ções por de­sem­prego.

In­sis­tindo em que haja uma in­ter­venção atem­pada e eficaz das au­to­ri­dades ins­pec­tivas, em casos de in­cum­pri­mento, a CGTP-IN exige infra-es­tru­turas so­ciais de apoio, pú­blicas, de qua­li­dade e a preços aces­sí­veis, que pos­si­bi­litem a con­ci­li­ação e per­mitam har­mo­nizar as fun­ções de pais e avós.

Deve ser re­vo­gado o DL nº 70/​2010, que al­terou as «con­di­ções de re­curso» e fez com que muitas fa­mí­lias per­dessem o di­reito ao abono de fa­mília, ao ren­di­mento so­cial de in­serção, ao sub­sídio so­cial de pa­ren­ta­li­dade e de­mais pres­ta­ções so­ciais que exigem prova de ren­di­mento.

A Inter de­fende a re­po­sição da uni­ver­sa­li­dade do abono de fa­mília, en­quanto di­reito das cri­anças e jo­vens, e o pa­ga­mento a cem por cento da dis­pensa por risco es­pe­cí­fico, do sub­sídio ini­cial de pa­ren­ta­li­dade por 150 dias (haja ou não par­tilha de dias de dis­pensa entre os pais) e da li­cença de pa­ren­ta­li­dade (in­de­pen­den­te­mente da du­ração e da forma de par­tilha es­co­lhida).

Devem ser cri­adas li­cenças re­mu­ne­radas de ou­tros tipos (com valor su­fi­ci­ente para que todos possam aceder a elas), para per­mitir que mães e pais acom­pa­nhem os fi­lhos, sem res­tri­ções de idade nem es­tado de saúde.

Ao re­clamar que os pais de fi­lhos me­nores possam com­pa­ti­bi­lizar as suas fé­rias com as pausas es­co­lares, mesmo que tra­ba­lhem em em­presas ou ser­viços di­fe­rentes, a CGTP-IN volta a exigir a re­po­sição dos fe­ri­ados e dias de fé­rias rou­bados.

Para que este con­junto de me­didas seja de­ci­dido e apli­cado, a cen­tral re­a­firma a exi­gência de rup­tura com a ac­tual po­lí­tica e o ac­tual Go­verno, avan­çando para uma po­lí­tica de es­querda e so­be­rana.

 



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