O todo poderoso capital

A predação do capital produtivo pelo capital bancário, resultado directo do desenvolvimento do capitalismo, tornou cativas das instituições de crédito praticamente todas as actividades económicas, independentemente da sua dimensão. As operações que geram esse fenómeno são várias e prendem-se com aspectos e dimensões diversos do capitalismo, estando, no entanto, a quase totalidade descrita e até mesmo prevista por Marx. Lenine, no seu estudo sobre a fase superior do capitalismo, aponta como natural a fusão entre o capital bancário e o capital produtivo (industrial), fusão que cria o designado capital financeiro, e que subordina o segundo ao primeiro com custos para a economia e com graves consequências na divisão internacional do trabalho e no equilíbrio económico e social.

A criação e crescimento de grupos de génese monopolista é uma das fases do desenvolvimento da organização capitalista. Pela sua própria natureza de acumulação, o capitalismo tende para o monopólio. Os grandes grupos económicos e financeiros constituem-se a escalas diversas como grupos monopolistas na medida em que a sua matriz é a da acumulação e o seu funcionamento o da canalização do crédito e do dinheiro em função estrita do seu interesse de maximização dos lucros. Dispõem assim da capacidade de condicionar os fluxos, as direcções e os sentidos do crédito, influenciando no concreto o desenvolvimento das forças produtivas, as opções económicas e políticas e o sucesso ou falhanço de uma determinada actividade. Pelo que a propriedade privada da banca significa colocar um tremendo poder político, económico e financeiro nas mãos dos accionistas da instituição bancária, poder esse que bule e se sobrepõe – em muitos casos já domina – ao exercício do poder político, em sentido contrário ao disposto na lei, principalmente na Constituição da República, onde se consagra que é o poder económico que se subordina ao poder político e não o inverso.



Mais artigos de: Em Foco

A queda de um símbolo<br>da política de direita

Perceber o que se passou no caso BES/GES implica ir à génese do banco, como consolidou posições e alargou a sua esfera de interesses durante o fascismo, o seu desenvolvimento, os fluxos e refluxos, a nacionalização em 75, a privatização...

Marcha Nacional

A CDU apela à participação, no dia 6 de Junho, em Lisboa, na Marcha Nacional «A força do povo». A iniciativa conta com o apoio de conhecidas figuras da vida nacional, que vão desfilar do Marquês de Pombal aos Restauradores.  

Uma relação promíscua

Fundado em 1820 pelos filhos de José Maria do Espírito Santo Silva, a partir da casa bancária que este havia fundado em 1911 (J. M. Espírito Santo), o Banco Espírito Santo (BES) funde-se em 1937 com o Banco Comercial de Lisboa (BCL) e assume a...

PCP abre o caminho

Desde Junho de 2013 que o PCP vinha alertando o Governo e o Banco de Portugal para a situação do BES e do GES. Aliás, numa audição do Governador do Banco de Portugal, questionou directamente a idoneidade de Ricardo Salgado. E tinha razões para o fazer...

Obstáculos, omissões e ilusões

O PCP discordou desde o primeiro momento que a visão de PSD, mas também em boa medida de PS e CDS – a construção de um monstro moral, o sacrifício de um banqueiro caído em desgraça –, passasse, independentemente das grandes responsabilidades reais e...

Um governo capturado<br>pelos interesses dos poderosos

A forma como o Governo PSD/CDS não só não cumpriu o seu dever de ser garante último da estabilidade financeira como contribuiu para empenhar recursos públicos na salvação de uma instituição, socializando prejuízos e funcionando como agente de limpeza...

A urgência da alternativa política

O momento é o da assumpção de uma política de recuperação da soberania política e económica, colocando o sistema financeiro como instrumento dessa política. É inaceitável que o esforço colectivo e o...