Mortos e desaparecidos aumentam no Mediterrâneo

Tragédia às portas da Europa

Mais de duas mil pes­soas mor­reram este ano no Me­di­ter­râneo quando ten­tavam al­cançar o con­ti­nente eu­ropeu. Or­ga­ni­za­ções in­ter­na­ci­o­nais de­nun­ciam a tra­gédia. 

Crise de re­fu­gi­ados re­sulta da inacção da UE

O nú­mero de náu­fragos e de mortes no Me­di­ter­râneo au­menta de dia para dia. Nos pri­meiros sete meses deste ano já per­deram a vida mais duas mil pes­soas, se­gundo dados apre­sen­tados, dia 4, pela Or­ga­ni­zação In­ter­na­ci­onal para as Mi­gra­ções (OIM), que cal­culou em 188 mil o nú­mero de mi­grantes so­cor­ridos no mar.

A mai­oria das mortes ocorreu na rota que liga a Líbia à Itália, pelo Canal da Si­cília, com 1930 ví­timas mor­tais, contra 60 na rota que liga a Tur­quia à Grécia.

Mas este ba­lanço ficou ul­tra­pas­sado logo no dia se­guinte, quando uma em­bar­cação de pesca so­bre­lo­tada se afundou. Dos 600 pas­sa­geiros a bordo, só 373 che­garam com vida a Pa­lermo, re­co­lhidos pelas equipas de sal­va­mento.

Ao longo de 2014, foram con­ta­bi­li­zadas 3279 ví­timas fa­tais, das quais 1607 até ao final de Julho.

Em con­fe­rência de im­prensa, o di­rector-geral da OIM, Wil­liam Lacy Swing, con­si­derou «ina­cei­tável que no sé­culo XXI gente que foge de con­flitos, per­se­gui­ções, mi­séria e de­gra­dação, que após ter de passar por ex­pe­ri­ên­cias ter­rí­veis nos seus países e du­rante o per­curso, venha de­pois morrer às portas da Eu­ropa».

De acordo com a OIM, a Itália e a Grécia são os prin­ci­pais des­tinos dos que fogem dos con­flitos no Médio Ori­ente rumo à Eu­ropa. A or­ga­ni­zação re­fere que maior parte é ori­gi­nária da Líbia, país mer­gu­lhado na guerra desde que a NATO li­derou a in­ter­venção mi­litar para des­ti­tuir Mu­ammar Kha­dafi, em 2011.

A inacção da UE

Na mesma se­mana, dia 6, o Alto Co­mis­sa­riado das Na­ções Unidas para os Re­fu­gi­ados (ACNUR) di­vulgou nú­meros ainda mais ele­vados.

O ba­lanço da ONU, ac­tu­a­li­zado até ao final de Julho, dá conta de 224 mil re­fu­gi­ados che­gados à Eu­ropa através do Me­di­ter­râneo desde 1 de Ja­neiro.

Ou seja, em apenas sete meses en­traram mais pes­soas do que ao longo de 2014, ano em que o or­ga­nismo con­ta­bi­lizou um total de 219 mil mi­grantes.

Da­quele nú­mero, 124 mil pes­soas de­sem­bar­caram na Grécia e 98 mil em Itália. No pe­ríodo re­gis­taram-se mais de 2100 mortos ou de­sa­pa­re­cidos no mar.

Os dados do ACNUR con­firmam ainda que o grosso dos mi­grantes é pro­ce­dente da Síria (34%), se­guem-se os eri­treus (12%), os afe­gãos (11%), os ni­ge­ri­anos (5%) e os so­malis (4%).

Como sa­li­entou o porta-voz do Alto Co­mis­sa­riado, «a maior parte dos que ar­riscam a tra­vessia, fogem da guerra ou de per­se­gui­ções, não são mi­grantes eco­nó­micos».

Wil­liam Spin­dler, ci­tado pela AFP, cons­tatou que existe «uma crise de re­fu­gi­ados às portas da Eu­ropa», mas res­salvou que tal «não se deve ao nú­mero de re­fu­gi­ados, mas à in­ca­pa­ci­dade da Eu­ropa de res­ponder de uma forma co­or­de­nada. Os países eu­ro­peus de­viam tra­ba­lhar em con­junto e não apontar o dedo uns aos ou­tros».


ONU insta França a agir

O Alto Co­mis­sa­riado das Na­ções Unidas para os Re­fu­gi­ados (ACNUR) pediu, no dia 7, ao go­verno francês que apre­sente um plano de emer­gência para fazer face à crise mi­gra­tória em Pas de Ca­lais.

A agência da ONU es­tima entre três mil e cinco mil o nú­mero de imi­grantes que se en­con­tram nesta ci­dade por­tuária no Norte de França, onde aguardam uma opor­tu­ni­dade para en­trar no Reino Unido.

Em co­mu­ni­cado di­vul­gado a partir da sua sede em Ge­nebra, a ACNUR apelou a «uma res­posta ur­gente, global e du­ra­doura, em pri­meiro lugar por parte das au­to­ri­dades fran­cesas», a quem re­cordou as suas obri­ga­ções em ma­téria de di­reitos hu­manos, acon­se­lhando a mo­bi­li­zação de meios pró­prios a uma ca­tás­trofe na­tural.




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