Greves e manifestações no público e no privado

Lutas apontam às eleições

De­pois das greves e ma­ni­fes­ta­ções dos úl­timos dias, tra­ba­lha­dores e sin­di­catos da en­fer­magem, Ad­mi­nis­tração Local, forças de se­gu­rança, trans­portes, ho­te­laria e co­mércio anun­ci­aram ac­ções para o pe­ríodo pré-elei­toral.

Os pro­blemas e rei­vin­di­ca­ções dos tra­ba­lha­dores en­tram na cam­panha

As greves de 24 horas, con­vo­cadas pelo Sin­di­cato dos En­fer­meiros Por­tu­gueses, em cada uma das ad­mi­nis­tra­ções re­gi­o­nais de Saúde, ti­veram ín­dices de adesão su­pe­ri­ores a 70 por cento, na área hos­pi­talar, e al­guns cen­tros de Saúde fi­caram sem en­fer­meiros, en­quanto ou­tros fun­ci­o­naram «a meio gás», nos dias 19 (ARS do Centro) e 20 (Norte). Para o SEP/​CGTP-IN, «a onda de des­con­ten­ta­mento dos en­fer­meiros por­tu­gueses, tra­du­zida nos ní­veis de adesão a estes cinco dias de greve, evi­dencia a im­por­tância de o Go­verno, através do Mi­nis­tério da Saúde, apre­sentar con­tra­pro­postas ne­go­ciais e tomar al­gumas me­didas ime­di­atas, que visem a me­lhoria das con­di­ções de tra­balho». «Caso con­trário, a ra­di­ca­li­zação das formas de luta es­tará em dis­cussão», pre­vine-se na nota que o sin­di­cato di­vulgou à co­mu­ni­cação so­cial no dia 20.
O SEP re­a­firmou a exi­gência de con­tra­pro­postas sobre re­visão das gre­lhas sa­la­riais, de­fi­nição de su­ple­mentos re­mu­ne­ra­tó­rios para en­fer­meiros es­pe­ci­a­listas, re­po­sição sa­la­rial em Se­tembro para os en­fer­meiros com con­trato in­di­vi­dual de tra­balho (CIT), cum­pri­mento das 35 horas se­ma­nais con­sa­gradas na car­reira de en­fer­magem. O sin­di­cato pre­tende pros­se­guir a ne­go­ci­ação do acordo co­lec­tivo de tra­balho, que per­mi­tirá har­mo­nizar a si­tu­ação dos en­fer­meiros com CIT, na reu­nião que foi re­a­gen­dada para 15 de Se­tembro, de­vido a fé­rias dos re­pre­sen­tantes do Mi­nis­tério das Fi­nanças e con­forme so­li­ci­tação do Mi­nis­tério da Saúde.
A con­tra­tação de en­fer­meiros é outra exi­gência, que o SEP re­força com o im­pacto da saída de 2495 pro­fis­si­o­nais, no úl­timo ano e meio, sendo que, de Ja­neiro de 2012 até ao final de Junho de 2015, o saldo entre saídas e con­tra­ta­ções é de menos 1631.

No dia 24, se­gunda-feira, quatro as­so­ci­a­ções de pro­fis­si­o­nais da GNR anun­ci­aram que vão pro­mover «uma grande ma­ni­fes­tação» no úl­timo dia de cam­panha elei­toral, para além de, até lá, re­a­li­zarem «di­versas ac­ções de pro­testo» em mo­mentos e lo­cais que podem coin­cidir com ini­ci­a­tivas da co­li­gação PSD/​CDS-PP. Num co­mu­ni­cado con­junto, ci­tado pela agência Lusa, a APG/​GNR, a Aspig, a ANOG e a ANAG dão conta de «um enorme sen­ti­mento de re­volta», por não haver qual­quer ga­rantia de que o es­ta­tuto pro­fis­si­onal já ne­go­ciado venha a vi­gorar ainda na pre­sente le­gis­la­tura. As as­so­ci­a­ções ape­laram ainda a que os pro­fis­si­o­nais da GNR optem, sempre que pos­sível, pela pre­venção e pe­da­gogia, pas­sando menos multas do que seria ha­bi­tual.

No mesmo dia, o pre­si­dente da di­recção da As­so­ci­ação Sin­dical dos Pro­fis­si­o­nais da PSP disse à Lusa que a acção «100% Pre­venção» co­meçou com «forte adesão» e foi «muito bem aceite» pelos po­lí­cias. Paulo Ro­dri­gues ma­ni­festou a es­pe­rança de que o es­ta­tuto pro­fis­si­onal seja apro­vado hoje, no Con­selho de Mi­nis­tros, para con­cluir um pro­cesso ini­ciado há quatro anos, com ne­go­ci­ação efec­tiva ini­ciada em Fe­ve­reiro e con­cluída em Junho, com ga­rantia de que seria apro­vado pelo Go­verno em Julho. Caso não acon­teça, a ASPP/​PSP e ou­tros três sin­di­catos vão manter a «pre­venção» até final de Se­tembro, a par de pro­testos pú­blicos des­cen­tra­li­zados, mas aquele di­ri­gente não ex­cluiu que possa ocorrer uma «grande ma­ni­fes­tação» nem que esta possa ser com os pro­fis­si­o­nais da GNR. 

De­ci­sões firmes

O Sin­di­cato dos Tra­ba­lha­dores da Avi­ação e Ae­ro­portos con­vocou para amanhã à tarde um ple­nário do pes­soal da SPdH, em Lisboa, para ana­lisar a re­acção da ad­mi­nis­tração às lutas re­a­li­zadas em Julho e para pre­parar a greve mar­cada para o fim-de-se­mana (dias 29 e 30). O Si­tava, da Fec­trans/​CGTP-IN, cri­ticou uma cir­cular que a co­missão exe­cu­tiva da SPdH emitiu «poucas horas de­pois» do ple­nário de 31 de Julho, que de­cidiu esta greve de 48 horas, pela me­lhoria dos ho­rá­rios, pela re­visão sa­la­rial de 2015 e pelo fim da pre­ca­ri­e­dade.
Com cen­tenas de tra­ba­lha­dores que na em­presa de han­dling (as­sis­tência a pas­sa­geiros e ba­gagem) de­sem­pe­nham fun­ções per­ma­nentes mas estão com con­tratos tem­po­rá­rios ou de pres­ta­dores de ser­viços, o sin­di­cato apela a que todos com­pa­reçam no ple­nário para terem voz ac­tiva e sa­li­enta que o pré-aviso de greve também abrange «as em­presas de ne­greiros» (Adecco, Cross Staff, Mul­ti­tempo, In­flight So­lu­tions e RH Mais).

Tra­ba­lha­dores e re­for­mados do Me­tro­po­li­tano de Lisboa reúnem-se hoje, das 10 às 12 horas, em cinco ple­ná­rios des­cen­tra­li­zados, para de­ba­terem ques­tões re­la­tivas ao acordo de em­presa, à ne­go­ci­ação co­lec­tiva, a sa­lá­rios e pen­sões, à sub­con­cessão (pri­va­ti­zação) e à re­es­tru­tu­ração in­terna, re­velou a Fe­de­ração dos Sin­di­catos de Trans­portes e Co­mu­ni­ca­ções.

A Fec­trans in­formou que o seu sin­di­cato STRUN iria par­ti­cipar na reu­nião de ontem de re­pre­sen­tantes dos tra­ba­lha­dores da STCP, para ana­li­sarem a si­tu­ação da em­presa após a anu­lação do con­curso pú­blico de sub­con­cessão da ex­plo­ração em con­junto com a Metro do Porto. O novo passo anun­ciado pelo Go­verno para re­lançar esse pro­cesso «me­re­cerá total opo­sição», ga­rante a fe­de­ração, afir­mando o seu em­penho «numa to­mada de po­sição comum e num plano de mo­bi­li­zação de tra­ba­lha­dores e utentes em de­fesa do ser­viço pú­blico».

Os tra­ba­lha­dores da So­flusa de­ci­diram fazer greve, por três horas em cada turno, nos dias 7 e 8 de Se­tembro, «pelo cum­pri­mento in­te­gral do acordo de em­presa, pela ne­go­ci­ação co­lec­tiva e contra a onda re­pres­siva tra­du­zida em cerca de 90 pro­cessos dis­ci­pli­nares». A Fec­trans in­formou que a de­cisão foi to­mada dia 20, num ple­nário de tarde, que pa­ra­lisou a ac­ti­vi­dade da em­presa. O pes­soal da Trans­tejo já tinha to­mado uma de­cisão se­me­lhante, para os mesmos dias.

Os tra­ba­lha­dores do ser­viço flu­vial da Mo­ve­A­veiro (ferry entre São Ja­cinto e o Forte da Barra, na Ga­fanha da Na­zaré) fi­zeram greve entre os dias 19 e 24, com uma adesão média de 50 por cento, contra cortes sa­la­riais de 100 a 300 euros e pelo re­co­nhe­ci­mento da an­ti­gui­dade na tran­sição para a Câ­mara de Aveiro, disse à Lusa um di­ri­gente do Sin­di­cato dos Trans­portes Flu­viais, da Fec­trans/​CGTP-IN.

No dia 21, sexta-feira, tra­ba­lha­dores dos Em­pre­en­di­mentos Tu­rís­ticos Mon­te­belo (Grupo Vi­sa­beira) fi­zeram greve e con­cen­traram-se em Viseu, à en­trada do Mon­te­belo Hotel & Spa, onde apro­varam uma moção que foi ali en­tregue à ad­mi­nis­tração. O pro­testo, or­ga­ni­zado pelo Sin­di­cato da Ho­te­laria do Centro, da Fe­saht/​CGTP-IN, teve por ob­jec­tivo con­testar a de­cisão pa­tronal de al­terar a con­venção co­lec­tiva que vi­gora há anos na em­presa, o que impõe aos tra­ba­lha­dores perda das diu­tur­ni­dades, da ma­jo­ração das fé­rias, do sub­sídio de ali­men­tação nas fé­rias, do fe­riado do Car­naval e da pro­gressão au­to­má­tica na car­reira, entre ou­tros di­reitos, como ex­plicou à Lusa um di­ri­gente do sin­di­cato.

Na Lo­gís­tica do Con­ti­nente (Grupo Sonae), na Maia, foi de­ci­dido re­tomar as greves por au­mentos sa­la­riais. O CESP/​CGTP-IN in­formou que as pa­ra­li­sa­ções de duas horas por turno de­cor­re­riam entre ontem e sá­bado. Na sexta-feira, o Se­cre­tário-geral da CGTP-IN es­tará com o pi­quete. Uma nova série de greves po­derá re­a­lizar-se de 2 a 5 de Se­tembro, caso a em­presa man­tenha a re­cusa em ne­go­ciar sa­lá­rios, con­ge­lados há cinco anos.

 

STAL fez 40 anos a lutar

No dia 24, quando se cum­priu o 40.º ani­ver­sário da sua fun­dação, o Sin­di­cato Na­ci­onal dos Tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Local re­a­lizou uma con­cen­tração de di­ri­gentes e ac­ti­vistas, du­rante al­gumas horas, no jardim junto à re­si­dência ofi­cial do pri­meiro-mi­nistro. Os 40 anos do STAL/​CGTP-IN foram as­si­na­lados com a apre­sen­tação do livro «STAL – Sin­di­cato de Abril (1975-2015), 40 anos em de­fesa de quem tra­balha» e com in­ter­ven­ções de di­ri­gentes sin­di­cais, entre os quais o Se­cre­tário-geral da Inter, Ar­ménio Carlos.
Numa re­so­lução apro­vada e en­tregue na re­si­dência ofi­cial de Passos Co­elho re­a­firma-se a exi­gência de «uma nova po­lí­tica, que res­peite o tra­balho e os tra­ba­lha­dores, como pi­lares da cri­ação de uma so­ci­e­dade mais justa». Das rei­vin­di­ca­ções ime­di­atas des­taca-se «a pu­bli­cação ime­diata de todos os acordos ne­go­ci­ados entre os sin­di­catos e as au­tar­quias lo­cais, pondo fim ao ina­cei­tável blo­queio da con­tra­tação co­lec­tiva na Ad­mi­nis­tração Local».

 



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