Aumenta clamor por mudança de rumo

Cultura é pilar da democracia

A po­lí­tica de des­res­pon­sa­bi­li­zação do Es­tado e de as­fixia fi­nan­ceira, apro­fun­dada de modo par­ti­cular pelo an­te­rior go­verno PSD/​CDS, teve «con­sequên­cias trá­gicas» na Cul­tura. Quem o afirma é o PCP, que também neste ca­pí­tulo quer ver in­flec­tido o rumo da go­ver­nação.

Meta de 1% é o li­miar mí­nimo para o apoio às artes e à Cul­tura

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En­ca­rando a Cul­tura como um pilar fun­da­mental da de­mo­cracia, in­dis­so­ciável na sua óp­tica dessas ou­tras três di­men­sões de que aquela se compõe (po­lí­tica, eco­nó­mica e so­cial), para o PCP o que está em causa é a de­ci­siva aposta (com o ne­ces­sário in­ves­ti­mento) que im­porta fazer com vista a as­se­gurar o acesso de todos à fruição e cri­ação cul­tural.

«O que temos de falar é de Ser­viço Pú­blico de Cul­tura. O que fazer para o es­tru­turar e para que cons­titua um ins­tru­mento de trans­for­mação, eman­ci­pação e li­ber­dade», afirmou, no Par­la­mento, a de­pu­tada co­mu­nista Ana Mes­quita.

Trata-se, mais es­pe­ci­fi­ca­mente, de «re­flectir e avançar com uma es­tra­tégia co­e­rente que ga­ranta o acesso ge­ne­ra­li­zado à ex­pe­ri­ência da cri­ação e fruição cul­tural e ar­tís­tica em todo o ter­ri­tório na­ci­onal, dando es­pe­cial re­le­vância à ver­tente de acesso às formas, meios e ins­tru­mentos de cri­ação», ex­plicou a par­la­mentar co­mu­nista na de­cla­ração po­lí­tica que pro­feriu, em ple­nário, dia 3 de Fe­ve­reiro, em nome da sua ban­cada.

O que pres­supõe, sus­tentou, a exis­tência de um Mi­nis­tério «ver­da­dei­ra­mente digno desse nome, ou seja, do­tado dos de­vidos meios or­ça­men­tais, téc­nicos, po­lí­ticos e hu­manos, que al­meje de facto dar cum­pri­mento à norma cons­ti­tu­ci­onal de de­mo­cra­ti­zação da cul­tura».

Pouca saúde

O que ma­ni­fes­ta­mente não foi o que acon­teceu no con­su­lado de má me­mória do go­verno an­te­rior do PSD e CDS, em­bora a estes custe esse re­co­nhe­ci­mento como bem se viu neste de­bate com o de­pu­tado la­ranja Pedro Pimpão a pro­curar passar uma es­ponja pela acção do exe­cu­tivo que o seu par­tido li­derou, as­se­ve­rando que a «Cul­tura está bem viva».

«O se­cre­tário de Es­tado da Cul­tura [do an­te­rior go­verno] diz que o or­ça­mento é o mais baixo de sempre e vem dizer que a Cul­tura está óp­tima, cheia de saúde, que está bem?», in­ter­rogou-se Ana Mes­quita, di­ri­gindo-se ao par­la­mentar do PSD, a quem ga­rantiu que «não, não está bem». E en­fa­tizou que se al­guma coisa está viva, isso deve-se ao «imenso sa­cri­fício» de quem está no ter­reno a tentar pôr os seus pro­jectos de pé e que en­frenta uma «grande pre­ca­ri­e­dade» e uma enorme «di­fi­cul­dade de so­bre­vi­vência».

Por isso à questão do fi­nan­ci­a­mento deu ainda Ana Mes­quita uma par­ti­cular atenção, de­fen­dendo que é pre­ciso co­locar em cima da mesa a dis­cussão da meta de 1% para a Cul­tura. «Temos de falar nela e de co­meçar a dar passos nessa di­recção», su­bli­nhou, en­ten­dendo que esse é o «li­miar mí­nimo de dig­ni­dade para o de­sen­vol­vi­mento da arte e da cul­tura».

Porque en­quanto se ficar abaixo dessa meta, «es­ta­remos sempre a correr atrás do pre­juízo», ad­vertiu, lem­brando a este pro­pó­sito o preço «tre­men­da­mente ele­vado» que o País pagou pela des­truição ori­gi­nada pelo «de­sin­ves­ti­mento sis­te­má­tico», es­va­zi­a­mento e su­bal­ter­ni­zação a que a Cul­tura foi su­jeita.

Re­feria-se a de­pu­tada do PCP ao efeito de­vas­tador da po­lí­tica de saque de re­cursos na­ci­o­nais a que muitos chamam de «aus­te­ri­dade» e que no caso da Cul­tura «não só des­trói o que existe, des­trói o que fica im­pe­dido de existir». Mais, frisou, «des­trói o imenso po­ten­cial trans­for­mador, ino­vador e cri­ador da Cul­tura, sem o qual não há de­sen­vol­vi­mento nem pro­gresso de­mo­crá­tico».

Ga­rantir di­reitos

Antes, Ana Mes­quita abor­dara já a si­tu­ação ultra-pre­cária das gentes da cul­tura», essa re­a­li­dade ad­versa mar­cada pelo fla­gelo dos re­cibos verdes e em que o «di­reito ao fu­turo se en­contra se­ve­ra­mente ame­a­çado».

E porque «Cul­tura é tra­balho» e «tra­balho tem de ser tra­balho com di­reitos», con­si­derou que é ur­gente dar res­posta aos «pro­blemas sócio-la­bo­rais que afectam todos os que tra­ba­lham na Cul­tura».

Este é, de resto, um as­pecto cen­tral da­quilo que no en­tender do PCP deve ser uma outra forma de en­carar a Cul­tura, na mul­ti­pli­ci­dade de formas que a com­põem. No fundo, ex­pli­citou Ana Mes­quita, trata-se de dar corpo a uma outra po­lí­tica que ponha termo ao «sub­fi­nan­ci­a­mento cró­nico das ac­ti­vi­dades cul­tu­rais», «in­vista nos apoios cen­trais à de­mo­cra­ti­zação da cul­tura», «com­bata a bu­ro­cra­ti­zação das es­tru­turas e dos pro­ce­di­mentos», «re­jeite e mer­can­ti­li­zação da cul­tura, a mer­ca­do­ri­zação dos bens cul­tu­rais, a eli­ti­zação e a pri­va­ti­zação», «olhe para a Cul­tura de forma es­tra­té­gica, cui­dando das co­ne­xões e si­ner­gias entre mi­nis­té­rios e ser­viços» que têm uma pa­lavra a dizer neste do­mínio.

 

Anos de des­truição

Sob o fogo cer­rado da crí­tica de Ana Mes­quita es­teve a po­lí­tica do an­te­rior go­verno, por si acu­sado de ter im­pri­mido, de­sig­na­da­mente no plano da Cul­tura, uma «ori­en­tação anti-de­mo­crá­tica».

As con­sequên­cias dessa po­lí­tica falam por si e es­pe­lham bem o grau de afas­ta­mento dos seus au­tores re­la­ti­va­mente ao que pre­ceitua a Cons­ti­tuição nesta ma­téria.

Su­mariá-las, como fez a de­pu­tada do PCP, cons­titui-se, pois, não só num ver­da­deiro li­belo acu­sa­tório contra a po­lí­tica se­guida nos úl­timos quatro anos, como é um sinal de alerta para a ne­ces­si­dade de dar um novo rumo ao Mi­nis­tério da Cul­tura.

Lem­brou Ana Mes­quita que da acção do an­te­rior exe­cu­tivo do PSD e do CDS reza a his­tória que fez o in­ves­ti­mento pú­blico cair a pique, num quadro de «ba­ra­funda or­gâ­nica», com cortes nos apoios às artes, «con­tí­nuos atrasos nos con­cursos e mu­danças de re­gras a meio do jogo».

O seu traço des­truidor ficou gra­vado ainda nos «pro­gramas, fes­ti­vais e es­pec­tá­culos que foram can­ce­lados», bem como nas «com­pa­nhias que ti­veram de fe­char portas», lem­brou a de­pu­tada co­mu­nista, que não es­queceu os mu­seus, pa­lá­cios e mo­nu­mentos na­ci­o­nais onde, face à não con­tra­tação de novos tra­ba­lha­dores e à re­forma de muitos dos seus qua­dros, se vai «per­dendo a ca­pa­ci­dade de "pas­sagem do tes­te­munho» e a sal­va­guarda do co­nhe­ci­mento».

Isto sem falar na tu­tela do Pa­tri­mónio Cul­tural que foi «en­fra­que­cida e es­va­ziada de meios hu­manos e ma­te­riais, com evi­dentes di­fi­cul­dades de in­ter­venção no ter­reno», ou do pa­tri­mónio, alvo de de­gra­dação, «fruto da in­cúria de dé­cadas, e que ficou aban­do­nado ou, pior ainda, foi ven­dido a pa­taco».

 



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