Defender a democracia <br>no Brasil
A actual situação política no Brasil tem muitas semelhanças com a que existia em 1964, antes do golpe que impôs a brutal ditadura militar. O alerta foi deixado por Moara Crivelente, do Partido Comunista do Brasil, no debate promovido pelo CPPC no passado dia 14, na Casa do Alentejo, em Lisboa. A militante acusa as forças conservadoras de procurarem agora, de forma ilegítima, o que não conseguiram nas eleições de 2014, nas quais o seu candidato, Aécio Neves, foi derrotado por Dilma Rousseff. Moara Crivelente chamou ainda a atenção para o absurdo de uma situação na qual responsáveis políticos investigados por corrupção estão a pedir a destituição da presidente da República, que não é acusada nem sequer suspeita de nada.
A outra oradora, Alcione Scarpin (do Partido dos Trabalhadores), começou precisamente por condenar a acção dos grandes órgãos de comunicação social brasileiros – que considerou de «golpistas» –, que contribuem decisivamente para a mistificação do que efectivamente está em causa. Esta activista lembrou ainda que se estes casos de corrupção estão a ser investigados é porque os sucessivos governos Lula/Dilma se empenharam no combate à corrupção. E fizeram-no, como prometeu a actual presidente, «doa a quem doer».
Do público, sobressaíram as intervenções dos representantes da CGTP-IN, do MDM e da Frente Anti-Racista e dos membros do Colectivo Andorinha, grupo de mais de 150 universitários brasileiros actualmente a estudar em Portugal que foi criado precisamente para fazer face ao golpe que se prepara no seu país. Muitos destes contributos realçaram os avanços alcançados nos últimos 13 anos – de que a retirada de 36 milhões de pessoas da miséria é o mais relevante – e desvendaram as reais intenções por detrás da tentativa de destituição de Dilma Rousseff: reverter as grandes conquistas sociais, colocar de novo o país sob alçada dos EUA e parar as investigações por corrupção, que mancham sobretudo os partidos da direita.
A terminar, Moara Crivelente e Alcione Scarpin garantiram que só travando o golpe será possível ao povo brasileiro continuar a conquistar direitos e a aprofundar a democracia, através da «reforma política» há muito exigida pelas forças progressistas cuja discussão a tentativa de golpe da direita acabou por adiar. O CPPC, representado na mesa pelo seu vice-presidente Filipe Ferreira, reafirmou a solidariedade às forças progressistas brasileiras e a necessidade de travar nova vaga da ofensiva dos EUA contra os processos progressistas da América Latina.