Refugiados empurrados de violência em violência

VÍTIMAS Pro­curar re­fúgio é cada vez mais fugir de vi­o­lência para vi­o­lência e para esta ser for­çado a voltar. As cri­anças são par­ti­cu­lar­mente atin­gidas e os afe­gãos obri­gados por países eu­ro­peus a re­gressar tri­pli­caram, in­dicam os dados mais re­centes.

De­por­tados são co­lo­cados sob risco de tor­tura, se­questro e morte

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Os nú­meros ofi­ciais ou de­nun­ci­ados por or­ga­ni­za­ções hu­ma­ni­tá­rias não deixam margem para dú­vidas quanto à dura re­a­li­dade vi­vida por aqueles que sendo obri­gados a aban­donar os res­pec­tivos países – mer­gu­lhados na guerra, na ar­bi­tra­ri­e­dade e na mi­séria ex­trema –, en­con­tram no cha­mado «pri­meiro mundo» a ne­gação do di­reito de asilo e ou­tras formas de vi­o­lência.

No final da se­mana pas­sada, o Alto-Co­mis­sa­riado das Na­ções Unidas para os Re­fu­gi­ados (ACNUR) cal­cu­lava em pelo menos 22,5 mi­lhões de pes­soas o total de re­fu­gi­ados no mundo, cerca de me­tade das quais cri­anças, e aler­tava para o facto de aqueles serem ví­timas de in­sultos, dis­cri­mi­nação e maus-tratos.

No caso dos me­nores a si­tu­ação atinge con­tornos ainda mais graves por­quanto o nú­mero de cri­anças iden­ti­fi­cadas pela ACNUR como es­tando so­zi­nhas (na fron­teira entre os EUA e o Mé­xico; na Eu­ropa, oriundas da Síria e em geral do Médio Ori­ente ou do Sudão do Sul, de­talha-se) tem vindo a crescer.

A con­firmar este ce­nário, a partir de Bel­grado, os Mé­dicos Sem Fron­teiras (MSF) ad­ver­tiram que cri­anças e jo­vens que se en­con­tram com mi­lhares de adultos blo­que­ados na Sérvia são alvo de cons­tantes actos de vi­o­lência «exer­cida por po­lí­cias nas fron­teiras dos es­tados-mem­bros da União Eu­ro­peia [Croácia, Hun­gria e Bul­gária, que fe­charam as res­pec­tivas fron­teiras com a Sérvia em Março de 2016]».

«Há mais de um ano que os nossos mé­dicos e en­fer­meiros ouvem a mesma coisa, as mesmas his­tó­rias re­pe­ti­tivas de jo­vens es­pan­cados, hu­mi­lhados e ata­cados por cães, pelo sim­ples facto de pre­ten­derem de­ses­pe­ra­da­mente con­ti­nuar o seu ca­minho», acres­centa a MSF

«É ver­go­nhoso que países mem­bros da UE usem in­ten­ci­o­nal­mente a vi­o­lência para im­pedir cri­anças e jo­vens de pedir asilo», pros­segue a or­ga­ni­zação, para quem, além dos «sé­rios danos fí­sicos e psi­co­ló­gicos» com que ficam, os me­nores são ainda em­pur­rados «para os braços dos tra­fi­cantes que a UE pre­tende com­bater».

Drama afegão

Si­mul­ta­ne­a­mente, a Am­nistia In­ter­na­ci­onal (AI) di­vulgou um re­la­tório em que de­nuncia que os países eu­ro­peus estão a en­viar mi­lhares de re­que­rentes de asilo de volta para o Afe­ga­nistão. Ba­se­ando-se em es­ta­tís­ticas da pró­pria UE, a AI re­alça que entre 2015 e 2016 o nú­mero de afe­gãos for­çados a re­gressar ao ter­ri­tório quase que tri­plicou, pas­sando de 3290 para 9460.

De acordo com a Lusa, a or­ga­ni­zação acusa também os países eu­ro­peus de serem «in­ten­ci­o­nal­mente cegos pe­rante a evi­dência de que a vi­o­lência está em ní­veis re­corde e ne­nhuma parte do Afe­ga­nistão é se­gura».

Os de­por­tados são assim co­lo­cados sob «risco de tor­tura, se­questro, morte e ou­tros hor­rores», afirma a AI, antes de lem­brar, a pro­pó­sito, que o nú­mero de ví­timas civis do con­flito ar­mado na­quele país as­cendeu a 11 418 em 2016.

Ale­manha, Grécia, Suécia, Reino Unido, No­ruega, França, Áus­tria, Ho­landa, Fin­lândia e Itália são, se­gundo a Am­nistia In­ter­na­ci­onal, os países mais de­ter­mi­nados em au­mentar o nú­mero de de­por­ta­ções exe­cu­tando uma po­lí­tica con­trária à le­gis­lação in­ter­na­ci­onal sobre a ma­téria, su­blinha-se.

Já esta se­mana, o Co­mité In­ter­na­ci­onal da Cruz Ver­melha de­cidiu re­duzir as res­pec­tivas ac­ti­vi­dades no Afe­ga­nistão e en­cerrá-las mesmo no Norte do país, na sequência da morte de sete dos seus fun­ci­o­ná­rios em re­sul­tado de três ata­ques ar­mados no es­paço de nove meses.

Antes, os EUA pe­diram à NATO para re­forçar em cerca de mil o nú­mero de sol­dados em «missão» no Afe­ga­nistão. A ad­mi­nis­tração Trump prevê au­mentar em quatro mil o total de mi­li­tares es­tran­geiros no ter­ri­tório (três mil norte-ame­ri­canos) no quadro do que chama de «nova es­tra­tégia» para o país, mas até ver não há no­vi­dade face ao pas­sado re­cente no envio de mais tropas para uma re­gião do­mi­nada por de­zenas de grupos mer­ce­ná­rios a soldo de se­nhores da guerra e do ópio.

 



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