Cacarejando
O movimento social-democrata «Portugal Não Pode Esperar», dinamizado pelo ex-líder da Juventude Social Democrata Pedro Rodrigues, apresentava-se há um ano na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa como um grupo «sério mas sereno», vocacionado para fazer a ponte entre os partidos e a sociedade civil, mas como assumida «plataforma partidária». Por outras palavras, uma espécie de corrente alternativa dentro do PSD. À época, Pedro Reis, tido por ideólogo do PSD, afirmava que o «problema de Portugal não é um problema de diagnóstico, é um problema de implementação», garantindo que «há excelentes senadores, mas péssimos executores» e que «discutimos muito, fazemos pouco».
Seria caso para pensar, tendo presente o número de anos que o PSD já esteve no governo, que tais palavras encerravam uma autocrítica, mas tão generoso (ou ingénuo) pensamento, como os factos vêm comprovar, seria manifestamente precipitado. Sucede que um ano volvido sobre tão preclaras palavras o mesmo movimento veio anunciar a apresentação, na primeira semana de Janeiro, do ovo de Colombo para os problemas do País, a saber, a edição do Tomo I do livro «Portugal Não Pode Esperar», o que, convenhamos, para título, é um desarrincanço em termos de originalidade.
A obra, segundo Pedro Rodrigues afirmou à Lusa por estes dias, faz um «enquadramento dos desafios que Portugal enfrentará nos próximos 30 anos» centrados em quatro áreas: Portugal no mundo, bem-estar, cidadania e competitividade.
Para se abalançar a três décadas de previsão o PSD não recorreu a nenhuma bola de cristal, não foi à bruxa, nem consultou os astros. Como explica o intrépido Pedro Rodrigues, «este livro faz o enquadramento global, as grandes tendências de evolução e identifica os principais desafios de Portugal em cada uma destas áreas. É uma espécie de visão de helicóptero (sublinhado nosso) do país».
Se esta imagem voadora para aferir as necessidades nacionais suscita perplexidade, mormente quanto à eficácia, descansem os espíritos que este é só o primeiro Tomo; a seguir promete-se um «segundo ciclo: já com o enquadramento feito, faremos uma visão mais microscópica (sublinhado nosso) sobre cada uma das áreas, nas quais procuraremos apresentar medidas concretas até às legislativas de 2019». Deduz-se que os restantes ficam para depois.
A obra tem como coautores, entre militantes e independentes, empresários, advogados, empreendedores e inovadores sociais, estudantes e funcionários públicos, apresentados como os sectores «mais dinâmicos da sociedade portuguesa» e que «mostraram disponibilidade para contribuírem para o início da construção de uma agenda de futuro para Portugal», isto é, uma alternativa ao «governo de esquerda radical» (sic).
Na expectativa do livro, fica a impressão de que estes estrategas da política do helicóptero ao microscópio são assim como as galinhas: cacarejam muito, mas voam pouco.