Rio pink

Anabela Fino

A justa reivindicação de aumento salarial dos trabalhadores da administração pública acaba de receber o insólito apoio do presidente do PSD. Falando no encerramento do congresso da Juventude Social Democrata, na Póvoa de Varzim, Rui Rio vociferou contra os «devedores da banca» que «ficaram com o nosso dinheiro», garantiu que «não há nenhum milagre económico nem a economia nacional é fluorescente» e lamentou que os funcionários públicos estejam confrontados, mais uma vez, com a redução do seu poder de compra.

Talvez o discurso de Rio visasse empolgar as hostes, num esforço para se libertar do registo sem sal que caracteriza as suas intervenções – há homilias fúnebres bem mais estimulantes! –, mas o resultado, há que reconhecer, esteve longe de atingir os objectivos. Nem os juvenis vibraram mais do que manda a boa educação, nem a mensagem colou. É que isto das palavras tem que se lhe diga e a ordem dos factores, ao contrário do que alguns pensam, não é arbitrária, sobretudo em política.

Sucede que escassos dias antes do conclave dos jotas Rio foi um dos três convidados especiais do congresso do patronato (também abrilhantado por uma secretária-geral adjunta da UGT) com direito a botar faladura para se solidarizar com as exigências dos patrões, desde logo a descida do IRC prometida pelo governo de Passos Coelho, e a famigerada «racionalização da despesa do Estado» que sempre tem significado o corte nos orçamentos dos serviços públicos. Considerando que sem descer o IRC não se pode «pedir mais investimento às empresas», Rio confirmou fazer parte do clube dos que advogam que «é o lucro que faz andar a economia e paga salários», como se desconhecesse que os lucros e a riqueza que geram têm servido e continuam a servir para fazer de Portugal um dos países europeus com maiores desigualdades sociais.

Como se isto fosse pouco, antes dos dois eventos o líder do PSD apresentou ao País o seu «governo sombra», recheado de ex-ministros que já fizeram quase tudo o que os portugueses não querem. Para inovar e renovar, Rio foi buscar seis ex-ministros de governos PSD: Ângelo Correia, do Executivo de Pinto Balsemão; Arlindo Cunha e Silva Peneda, que acompanharam Cavaco Silva; e Luís Filipe Pereira, David Justino e Maria da Graça Carvalho, que integraram o Executivo de Durão Barroso. A benefício do inventário deste «governo sombra», Rio frisou que a média de idades é de 60 anos para os coordenadores e de 45 para os porta-vozes, isto é, «uma renovação».

Dando de barato o que foram as políticas dos sucessivos governos do PSD e suas consequências para os funcionários públicos, forçoso se torna concluir que esta inopinada manifestação de apoio ao aumento salarial dos ditos tresanda a demagogia, a estratégia partidária pink (cor-de-rosa) de calvagar a onda da justa reivindicação. Cores à parte, nada de novo.

 



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