UPS a um passo da greve

António Santos

Cerca de 280 mil tra­ba­lha­dores da Union Parcel Ser­vice (UPS), a em­presa que en­trega as en­co­mendas de sitescomo o Amazon ou o Ebay, au­to­ri­zaram, na se­mana pas­sada, os sin­di­catos a avan­çarem para uma greve na­ci­onal que pro­mete pa­ra­lisar os EUA.

Só nos EUA, a UPS en­trega di­a­ri­a­mente mais de 20 mi­lhões de en­co­mendas, uma carga que re­pre­senta seis por cento do PIB es­tado-uni­dense e que, em 2017, rendeu a David Abney, pre­si­dente exe­cu­tivo e prin­cipal ac­ci­o­nista, lu­cros su­pe­ri­ores a cinco mil mi­lhões de dó­lares, qual­quer coisa como três vezes o PIB de Cabo Verde. E apesar dos lu­cros fa­bu­losos, o titã da lo­gís­tica e dis­tri­buição está a exigir aos 374 mil tra­ba­lha­dores es­tado-uni­denses que aceitem tra­ba­lhar por me­tade do sa­lário.

O ob­jec­tivo do pa­tro­nato é passar 260 mil tra­ba­lha­dores a tempo par­cial (70 por cento do total) para o re­gime de tempo in­teiro, mas sem a ta­bela sa­la­rial dos ou­tros tra­ba­lha­dores a tempo in­teiro. O sa­lário de um mo­to­rista da UPS a tempo in­teiro ronda, em média, 36 dó­lares por hora, en­quanto os tra­ba­lha­dores em part-time, não au­ferem mais de 15 dó­lares por hora. O plano de Abney cri­aria assim duas ta­belas sa­la­riais pa­ra­lelas: a dos con­tratos an­tigos, a 36 dó­lares por hora, e a de todos os con­tratos fu­turos, por menos de me­tade deste valor.

Os tra­ba­lha­dores queixam-se ainda dos ho­rá­rios de­su­manos de tra­balho, onze horas diá­rias para os mo­to­ristas, e do as­sédio moral que so­frem di­a­ri­a­mente. A tí­tulo de exemplo, tornou-se viralna in­ternet, a troca de men­sa­gens entre um mo­to­rista da UPS e o seu chefe: «Tive de ir ao hos­pital no Sá­bado para fazer testes e eles querem que eu volte para falar com o mé­dico para fazer uma biópsia. O Jake pediu-me para te dizer. Tenho uma con­sulta com eles amanhã para saber se tenho cancro», segue-se a te­le­grá­fica res­posta «não con­se­gues mesmo fazer a en­trega no fim-de-se­mana?». Há um ano, os tra­ba­lha­dores da UPS co­me­çaram a tra­ba­lhar aos sá­bados. Agora, a em­presa pede também o do­mingo sem qual­quer com­pen­sação digna de nota.

A au­to­ri­zação para a marcar a greve, um pro­ce­di­mento comum nos EUA, foi dada em re­fe­rendo por 93 por cento dos 280 mil tra­ba­lha­dores sin­di­ca­li­zados e vem acres­centar peso às po­si­ções da In­ter­na­ti­onal Brotherhood of Te­ams­ters (IBT), o prin­cipal sin­di­cato do sector, nas ne­go­ci­a­ções com os pa­trões. «Nin­guém gosta de greves, mas numa ne­go­ci­ação com prazos tão aper­tados, poder marcar uma greve é um ins­tru­mento in­dis­pen­sável», de­clarou o pre­si­dente do sin­di­cato, James Hoffa, à re­vista Forbes. Se a ne­go­ci­ação fa­lhar e os pa­trões não ce­derem até dia 1 de Agosto, o con­trato co­lec­tivo de tra­balho ca­duca e passa a aplicar-se a le­gis­lação geral do tra­balho que, nos EUA, é quase ine­xis­tente.

A acon­tecer, a greve dos Te­ams­tersteria di­men­sões his­tó­ricas e afec­taria toda a eco­nomia.

A úl­tima greve dos tra­ba­lha­dores da UPS, 15 dias se­guidos de pa­ra­li­sação em 1997, custou aos pa­trões 211 mi­lhões de dó­lares e ter­minou com a ce­dência do pa­tro­nato.




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