PCdoB quer recolocar o Brasil no caminho do progresso

Gustavo Carneiro

EN­TRE­VISTA Ni­valdo San­tana, Se­cre­tário Sin­dical do Par­tido Co­mu­nista do Brasil (PCdoB), adi­antou ao Avante! as ex­pec­ta­tivas para as elei­ções do pró­ximo dia 7 de Ou­tubro, as mais ra­di­ca­li­zadas dos úl­timos anos no grande país sul-ame­ri­cano.

A co­mu­nista Ma­nuela d’Ávila é can­di­data a vice-pre­si­dente da Re­pú­blica

O PCdoB in­tegra com o PT a co­li­gação «O Brasil Feliz de Novo», cor­po­ri­zada na can­di­da­tura de Fer­nando Haddad e Ma­nuela d’Ávila (apoiada por Lula da Silva, im­pe­dido de se can­di­datar)+, que tem vindo a afirmar-se em todo o país. Mas há mais elei­ções nesse dia e os co­mu­nistas con­fiam que vão crescer.

Como ca­rac­te­riza o PCdoB os úl­timos de­sen­vol­vi­mentos da si­tu­ação no Brasil?

O Brasil está a viver uma grave crise (a mais grave desde o fim da di­ta­dura mi­litar) e um pro­cesso elei­toral ra­di­ca­li­zado. Nas elei­ções de 7 de Ou­tubro serão eleitos o Pre­si­dente da Re­pú­blica, 27 go­ver­na­dores, 513 de­pu­tados fe­de­rais, 54 se­na­dores (dois terços do Se­nado) e mais de dois mil de­pu­tados es­ta­duais. A mais im­por­tante é a eleição pre­si­den­cial, que está muito po­la­ri­zada entre a co­li­gação de es­querda (que une PCdoB, PT e Par­tido Re­pu­bli­cano da Ordem So­cial/ PROS), e a de ex­trema-di­reita, en­ca­be­çada por Jair Bol­so­naro. As ou­tras não con­se­guiram grande apoio.

E o ex-pre­si­dente Lula foi im­pe­dido de se can­di­datar…

De­pois do golpe que depôs Dilma Rous­seff, houve mais dois golpes dentro do golpe: a prisão de Lula e a ina­bi­li­tação da sua par­ti­ci­pação nas elei­ções. A co­li­gação de es­querda foi cons­tran­gida a re­tirar da cor­rida elei­toral o mais po­pular líder po­lí­tico do país e a apre­sentar a can­di­da­tura do ex-mi­nistro da Edu­cação e an­tigo pre­feito de São Paulo, Fer­nando Haddad, que tem como can­di­data a vice-pre­si­dente Ma­nuela d’Ávila, do PCdoB.

Porque é que o PCdoB afirma que o pro­cesso en­vol­vendo Lula da Silva con­fi­gura per­se­guição po­lí­tica?

Nós cos­tu­mamos dizer que existia um «con­sórcio opo­si­ci­o­nista» no Brasil, com­posto pelos meios de co­mu­ni­cação e sec­tores do poder ju­di­cial e do Es­tado (como a Po­lícia Fe­deral e o Mi­nis­tério Pú­blico), que con­tava com o apoio da oli­gar­quia e das forças con­ser­va­doras e, cer­ta­mente, a in­ge­rência do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano. A Ope­ração Lava Jato serviu para vi­a­bi­lizar a des­ti­tuição da pre­si­dente Dilma, prender Lula e im­pedir a sua can­di­da­tura. Vi­vemos um pro­cesso de ju­di­ci­a­li­zação da po­lí­tica e na co­mu­ni­cação so­cial não existe pos­si­bi­li­dade de con­tra­ponto.

São ata­ques ci­rúr­gicos, di­ri­gidos às forças de es­querda?

Por vezes, para ten­tarem dar um ar de isenção, visam uma ou outra fi­gura con­ser­va­dora, mas a es­querda é o alvo. É uma sequência in­ter­mi­nável, que vai con­ti­nuar du­rante as elei­ções. Vão tentar apre­sentar o Haddad como al­guém que co­meteu actos ilí­citos, que não está pre­pa­rado, que é uma ma­ri­o­neta do Lula... São as armas tra­di­ci­o­nais da di­reita, que foge ao de­bate pro­gra­má­tico.

É nesse de­bate pro­gra­má­tico que vão in­sistir?

O Brasil está con­fron­tado com a es­tag­nação eco­nó­mica, mais de 13 mi­lhões de de­sem­pre­gados, pre­ca­ri­zação vi­o­lenta das re­la­ções de tra­balho e au­mento das de­si­gual­dades. Temos um pro­blema es­tru­tural de de­si­gual­dade e mi­séria e o que se avançou nos 13 anos de go­vernos Lula e Dilma foi agora re­ver­tido com o go­verno de Temer. Por tudo isto, Lula li­de­rava as son­da­gens… É fun­da­mental que o nosso campo po­lí­tico, as­sente nos mo­vi­mentos so­ciais, mo­vi­mento sin­dical e forças de­mo­crá­ticas e pa­trió­ticas, se centre neste de­bate.

Quais são as ex­pec­ta­tivas para as elei­ções pre­si­den­ciais?

Com Lula seria pos­sível ga­nhar as elei­ções à pri­meira volta e o nosso grande de­safio é as­se­gurar a trans­fe­rência destes votos para Fer­nando Haddad, que não é au­to­má­tica. Pen­samos que a nossa can­di­da­tura tem con­di­ções para sus­citar um apoio muito forte, pois é a me­lhor al­ter­na­tiva para vi­a­bi­lizar um pro­grama de­mo­crá­tico, de de­sen­vol­vi­mento e pro­gresso so­cial, que res­ta­be­leça a nor­ma­li­dade ins­ti­tu­ci­onal. Res­pei­tamos as ou­tras can­di­da­turas do campo de­mo­crá­tico, mas a mais ampla e re­pre­sen­ta­tiva é aquela em que par­ti­ci­pamos.

A cam­panha elei­toral tem sido in­tensa...

Re­cen­te­mente, houve um «aten­tado» contra o can­di­dato de ex­trema-di­reita, Jair Bol­so­naro. Foi uma si­tu­ação es­tranha, até porque quem mais fa­lava de vi­o­lência e a es­ti­mu­lava era o pró­prio can­di­dato… Os grandes meios de co­mu­ni­cação e certos sec­tores po­lí­ticos estão a tentar criar um clima de co­moção na­ci­onal que per­mita ala­vancar a can­di­da­tura de Bol­so­naro. Ao início, as forças ne­o­li­be­rais e con­ser­va­doras apos­tavam em Ge­raldo Alkmin, do PSBD, que está com grandes di­fi­cul­dades, e os votos estão a mi­grar para a ex­trema-di­reita.

E para as ou­tras elei­ções, quais as ex­pec­ta­tivas?

Con­fi­amos que vamos crescer. Que­remos manter a re­pre­sen­tação no Se­nado e am­pliar as ban­cadas na Câ­mara Fe­deral e nas as­sem­bleias es­ta­duais. Acre­di­tamos que vamos re­e­leger o Go­ver­nador do Ma­ra­nhão, Flávio Dino, com grandes hi­pó­teses de vencer à pri­meira volta. A pre­si­dente na­ci­onal do PCdoB, Lu­ciana Santos, com grandes hi­pó­teses de ser eleito a vice-go­ver­na­dora do Es­tado de Per­nam­buco e em Minas Ge­rais e Rio Grande do Norte também de­vemos eleger os vice-go­ver­na­dores, pois são can­di­da­turas fa­vo­ritas.

Como se in­serem estas ba­ta­lhas elei­to­rais na acção mais geral do PCdoB?

O PCdoB re­a­lizou o seu XIV con­gresso no ano pas­sado e de­finiu como ori­en­tação tác­tica cen­tral a cons­trução de uma frente ampla no Brasil para der­rotar a di­reita e as forças con­ser­va­doras. Nós que­ríamos que essa frente fosse mais além das forças de es­querda e pu­desse aglu­tinar sec­tores de­mo­crá­ticos e per­so­na­li­dades, dando corpo a um mo­vi­mento amplo e uni­tário para cons­truir uma al­ter­na­tiva mais avan­çada no país. A pré-can­di­da­tura da Ma­nuela d’Ávila serviu para di­vulgar essa pro­posta e o pro­grama de uni­dade. Esse ob­jec­tivo foi par­ci­al­mente al­can­çado.




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