«O PCE aposta na máxima unidade da esquerda transformadora»

Hugo Janeiro

EN­TRE­VISTA Pre­sente na Festa do Avante! em re­pre­sen­tação do Par­tido Co­mu­nista de Es­panha (PCE), Yo­landa Ro­dri­guez Gon­zalez, do se­cre­ta­riado do PCE e res­pon­sável pela área da con­ver­gência e uni­dade po­pular, con­cedeu ao Avante! uma en­tre­vista em que ex­plica ob­jec­tivos e prin­cí­pios do par­tido no ac­tual con­texto po­lí­tico-so­cial.

«Es­tamos a tra­ba­lhar na cons­ti­tuição de uma frente que re­pre­sente a mai­oria so­cial»

Como ava­lias a si­tu­ação em Es­panha com a subs­ti­tuição do go­verno do PP pelo do PSOE?

Quando ocor­reram as elei­ções [le­gis­la­tivas], o PCE in­dicou a ne­ces­si­dade de através de uma ali­ança de go­verno im­pedir a con­ti­nu­ação da di­reita cor­rupta, re­pre­sen­tada no Par­tido Po­pular e Ma­riano Rajoy e seus ali­ados, de­sig­na­da­mente o Ciu­da­danos. Nesse mo­mento, tal ob­jec­tivo não foi al­can­çado.

Só quando eclodiu um novo caso gra­vís­simo de cor­rupção [en­vol­vendo o PP], o PSOE se ma­ni­festou dis­po­nível para apre­sentar uma moção de cen­sura. Os co­mu­nistas apoi­aram essa de­cisão e, con­se­quen­te­mente, a moção de cen­sura.

Evi­den­te­mente, não en­trámos para o go­verno. Este é um go­verno do PSOE e a vida está a mos­trar que con­tinua a re­pre­sentar as po­si­ções da troika e a im­ple­mentar as po­lí­ticas eco­nó­micas que afectam a mai­oria so­cial – os tra­ba­lha­dores e as tra­ba­lha­doras. Aplicam uma «po­lí­tica de gestos», com im­por­tantes me­didas como o avanço na igual­dade de gé­nero e contra a vi­o­lência ma­chista, por exemplo. Con­tudo, isso não al­tera que, no fun­da­mental, este go­verno pros­segue as ori­en­ta­ções da troika.

Nesse con­texto, que ob­jec­tivos tem o PCE com a sua in­ter­venção pró­pria?

Pro­curar, no ime­diato, que os or­ça­mentos do Es­tado con­te­nham me­didas que fa­vo­reçam as classes la­bo­ri­osas, bem como abolir a re­forma da le­gis­lação la­boral, cujo efeito foi o agra­va­mento da pre­ca­ri­e­dade e a pro­li­fe­ração da mi­séria para a mai­oria.

Basta ver que nos úl­timos anos os ricos de entre os mais ricos, ou seja, com for­tunas su­pe­ri­ores a 300 mi­lhões de euros, pas­saram de 300 pes­soas a mil. Pelo con­trário, a mai­oria dos tra­ba­lha­dores e das tra­ba­lha­doras estão cada vez mais pre­ca­ri­zados e cresce o nú­mero dos tra­ba­lha­dores e das tra­ba­lha­doras po­bres, isto é, da­queles que es­tando ocu­pados e re­mu­ne­rados não se con­se­guem sus­tentar um mês in­teiro com o res­pec­tivo sa­lário.

Entre estes tem cres­cido o nú­mero de mu­lheres.

Dados da Cá­ritas, or­ga­ni­zação que nin­guém se atreve a dizer que é «bol­che­vique», in­dicam que em Es­panha sub­sistem pelo menos oito mi­lhões de pes­soas po­bres.

As ques­tões na­ci­o­nais estão sempre na ordem do dia em Es­panha. Estão porém agora mais vivas com o de­sen­rolar do pro­cesso na Ca­ta­lunha. Como ava­liam a si­tu­ação e que abor­dagem de­fendem para as ques­tões na­ci­o­nais?

O PCE con­si­dera que quer o PP quer o PSOE co­me­teram um equí­voco ao apli­carem o Ar­tigo 155 [o qual fa­culta a in­ter­venção da ad­mi­nis­tração cen­tral caso esta con­si­dere que as au­to­ri­dades de uma de­ter­mi­nada re­gião vi­olam os pre­ceitos cons­ti­tu­ci­o­nais ou le­gais e o in­te­resse geral]. O PCE sempre de­fendeu o di­reito dos povos à au­to­de­ter­mi­nação, para a Ca­ta­lunha como para todas as de­mais cha­madas «na­ci­o­na­li­dades his­tó­ricas». Para além desta po­sição de prin­cípio, também sempre de­fen­demos a uni­dade de todas as co­mu­ni­dades numa re­pú­blica fe­deral.

O que re­sulta claro é que a in­ter­venção da ad­mi­nis­tração cen­tral na Ca­ta­lunha não serviu para nada. Só trouxe mais con­fronto e o apro­fun­da­mento do ex­tremar de po­si­ções. In­dis­cu­ti­vel­mente teve o efeito con­trário ao pre­ten­dido, isto é, acabou por pro­mover o sen­ti­mento in­de­pen­den­tista na Ca­ta­lunha.

Dito isto, im­porta es­cla­recer que o PCE não ad­voga os par­tidos in­de­pen­den­tistas em Es­panha. Con­si­de­ramos que os pro­blemas que, no caso, os ca­ta­lães en­frentam são iguais aos que en­frentam todos os ou­tros. A re­forma da le­gis­lação la­boral e a sua apli­cação, como as po­lí­ticas da troika, são im­postas de igual forma e com igual vi­o­lência quer na Ca­ta­lunha quer no res­tante ter­ri­tório.

O di­reito dos povos a de­cidir é um prin­cípio inal­te­rável, mas o que de­fen­demos é a união numa re­pú­blica fe­deral.

Hoje, nós, PCE, co­lo­camos muito em causa o pro­cesso de tran­sição [com o fim da di­ta­dura fran­quista]. Por isso en­ten­demos igual­mente que é ne­ces­sário um novo pro­cesso cons­ti­tuinte, em cujo texto fun­da­mental passe a ter no seu centro as pes­soas.

No pró­ximo ano vão ocorrer elei­ções para o Par­la­mento Eu­ropeu. Com que ob­jec­tivos vai o PCE abordar esse su­frágio?

O PCE aposta na má­xima uni­dade da es­querda trans­for­ma­dora. Nesse sen­tido, es­tamos a tra­ba­lhar na cons­ti­tuição de uma frente que re­pre­sente a mai­oria so­cial. Es­tamos num pro­cesso de ne­go­ci­ação com as dis­tintas forças po­lí­ticas e acre­di­tamos que no pró­ximo mês de De­zembro, exis­tirão já con­di­ções para apre­sentar uma pro­posta de pro­grama so­cial.

Com que im­pressão fi­caste da Festa do Avante!?

Esta é a ex­pressão de um par­tido or­ga­ni­zado, muito en­rai­zado no povo e que, por isso, pro­move uma ini­ci­a­tiva de con­teúdos con­trá­rios aos do ne­o­li­be­ra­lismo. Fez-me re­cordar muito as pri­meiras festas or­ga­ni­zadas pelo PCE.

Quando o povo se or­ga­niza, quando o par­tido co­mu­nista se or­ga­niza, há fu­turo.




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