O menino e a água do banho

Margarida Botelho

Por­tugal tem das mais baixas taxas de mor­ta­li­dade in­fantil do mundo. Um facto que é in­dis­so­ciável da Re­vo­lução de Abril e da cri­ação do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde.

Sa­bemos o ataque que as con­quistas de Abril têm so­frido, sem ex­cepção. Mesmo numa cor­re­lação de forças des­fa­vo­rável, a ver­dade é que há in­di­ca­dores de saúde que con­ti­nu­aram a evo­luir. Essa é uma vi­tória da luta, dos tra­ba­lha­dores em geral e do SNS em par­ti­cular, dos utentes, dos pro­fis­si­o­nais de saúde que em­pe­nham o me­lhor dos seus co­nhe­ci­mentos e das suas car­reiras à evo­lução do nosso SNS.

É o caso da saúde in­fantil. Por­tugal é exemplo para o mundo em muitas áreas, do Plano Na­ci­onal de Va­ci­nação ao bo­letim de saúde in­fantil, dos ras­treios aos cui­dados às grá­vidas e aos recém-nas­cidos. O que se exige é que nada do que está bem feito ande para trás e que avance tudo o que é pos­sível nos cui­dados às nossas cri­anças. É nessa ba­talha que o PCP está: a de­fender uma nova lei de bases da saúde, a va­lo­ri­zação das car­reiras dos pro­fis­si­o­nais, a ga­rantia de mé­dico e en­fer­meiro de fa­mília a todas as cri­anças, a di­ver­si­fi­cação de es­pe­ci­a­li­dades mé­dicas nos cui­dados de saúde pri­má­rios – pe­di­a­tras, den­tistas, psi­có­logos, nu­tri­ci­o­nistas, etc -, o alar­ga­mento do Plano Na­ci­onal de Va­ci­nação.

A forma apres­sada e de­ma­gó­gica como al­guns en­car­tados ini­migos do SNS vi­eram pô-lo em causa a pro­pó­sito dos dados pro­vi­só­rios da mor­ta­li­dade in­fantil no ano pas­sado, é cho­cante. Porque só com um SNS forte po­demos con­ti­nuar a pro­gredir nos in­di­ca­dores de saúde. A morte de cri­anças não pode ser usada como arma de ar­re­messo contra o me­lhor ins­tru­mento que temos para de­fender que cresçam sau­dá­veis e fe­lizes. Es­tudem-se os casos, tirem-se con­clu­sões, tomem-se me­didas. Mas não se deite fora o me­nino com a água do banho.




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