Ainda as eleições…
Há duas semanas revisitámos aqui algumas linhas que marcaram a campanha para as eleições para o Parlamento Europeu. Agora, quase um mês depois, já é fácil concluir que quem determina as opções editoriais dominantes ainda não terminou o trabalho.
Depois das sondagens terem servido de pretexto para tirar deputados à CDU quando ainda ninguém tinha votado, os resultados provisórios na noite eleitoral – ainda numa altura em que havia vários mandatos por atribuir (entre os quais o segundo lugar da CDU) – serviram para alguns (televisões, rádios e jornais) reproduzirem esses mesmos resultados com uma nuance: dando por adquirido que a CDU se ficaria por um deputado.
Apesar de posteriormente corrigida, sabe-se (por experiências nacionais e internacionais) que a mediatização de resultados provisórios enviesados e que se vêm a revelar incorrectos tem, muitas vezes, como resultado que fica na memória de todos o resultado errado. Nalgumas redacções parece ter sido esse o caso…
Essa seria a explicação mais ingénua para uma peça recente sobre os novos deputados, publicada por um jornal tido como de referência. Lá estão experiências dos primeiros dias em Bruxelas de novos deputados do PS, do PSD, do BE, do PAN… Do PCP não, claro. Não foi notícia que tinham eleito apenas um?
Um outro jornal, depois de duas semanas a publicar textos em que antevinha o crescimento exponencial de uma outra candidatura, com um triplicar de eleitos que os votos dos portugueses vieram a desmentir, em vez de o reconhecer, logo na semana seguinte dedicou duas páginas a um perfil de um dos 13 novos eleitos e logo da mesma força política. A peça continha ainda uma inenarrável efabulação em torno da eleição de Sandra Pereira pela CDU, dizendo-se (porventura para menorizar o facto) que teria entrado pela «quota do PEV».
São as mesmas televisões, rádios e jornais que passaram as últimas décadas a desvalorizar o PEV e a sua intervenção sobre múltiplas questões ambientais. As mesmíssimas que nas últimas semanas e meses foram-nas apresentando como órfãs de quem lute por elas, para logo valorizar a intervenção de outras forças. Convenientemente, foi às portas da última campanha eleitoral que saiu um dos múltiplos rankings, este sobre a intervenção dos deputados no Parlamento Europeu em defesa do ambiente, que dava mais pontos a alguns que defendem a abertura desta área ao negócio, à frente dos deputados eleitos pela CDU.
Passada a campanha eleitoral, não cessa a campanha mediática, agora recentrada nas questões nacionais. E, também cá dentro, vamos vendo os mesmos truques. Ainda recentemente se viu, atribuindo ao partido novidade (que continua a ser tratado como tal pelos média, apesar de ter dez anos e representação parlamentar desde 2015) a paternidade de medidas para a redução da utilização de plásticos quando o PEV há anos as vem propondo. Mas para esses o tratamento é o silêncio.