Congresso da Fenprof focado na luta pelo estatuto profissional e a Educação
MOBILIZAÇÃO Os resultados da unidade e da luta dos professores dão confiança para a acção sindical numa situação em que «tanto PS como PSD aguardam condições políticas para rever “em baixa” o ECD».
Carreira dignificada é garantia de educação de qualidade para todos
No Programa de Acção para o próximo triénio, aprovado por unanimidade, o 13.º Congresso da Federação Nacional de Professores começa por reiterar que «a dignificação do estatuto profissional dos professores é indissociável da valorização da escola e da educação».
Ao longo dos dias 14 e 15 (sexta-feira e sábado), no Fórum Lisboa, os 650 delegados ouviram, viram e aplaudiram a ideia que ficou sublinhada no Programa de Acção, intitulado com o lema do congresso: «Carreira docente dignificada, condição de futuro».
No principal documento saído da reunião magna da Fenprof – e que vai orientar a acção dos órgãos dirigentes agora eleitos para um mandato até 2022 – destaca-se que, «ao lutarem por uma carreira dignificada e por melhores condições de exercício da profissão, os docentes não estão apenas a defender direitos seus enquanto profissionais, estão também a procurar garantir uma educação de qualidade para todos, conscientes de que uma carreira dignificada é um dos factores de atractividade da profissão e, logo, de garantia da qualidade da formação das actuais e futuras gerações».
O ECD (Estatuto da Carreira Docente, aplicável a educadores de infância e professores dos ensinos Básico e Secundário, aprovado pelo DL N.º 139-A/90, depois de um processo negocial iniciado em 1984 e que ficou marcado por uma intensa e prolongada luta) mereceu no Congresso uma grande importância.
A reivindicação de um estatuto profissional específico surgiu como «questão central da luta dos professores» no congresso constituinte da Fenprof, em 1983, mas era uma aspiração expressa desde os primórdios do sindicalismo docente, em 1892.
São também recordadas no Programa e Acção as lutas nos anos seguintes à publicação do ECD.
O final do ano de 2015, com eleições que ditaram uma diferente relação de forças no Parlamento, abriu «uma janela de oportunidade para a resolução dos problemas que há muito afectavam as escolas e os docentes», reconhecendo a Fenprof que, «num primeiro momento, isso aconteceu». «Houve avanços, insuficientes, é certo, mas alguns avanços», só que o tempo «viria a revelar uma oportunidade que o avanço da legislatura confirmou estar a ser pouco aproveitada, em resultado de opções, prioridades e constrangimentos adoptados pelo Governo e pelo PS».
Evitar retrocesso
Nos dias de hoje, em final de legislatura e a poucos meses das eleições, no Programa de Acção são manifestados «fundados receios de que o que se pretende é rever o ECD a curto ou médio prazo, mal as condições políticas o permitam, desvalorizando-o drasticamente ou acabando mesmo com ele». «Tornar a carreira docente mais barata» é um objectivo que «poderá ser conseguido através da transferência dos docentes para a tabela remuneratória única».
A Fenprof alerta que se vive uma situação «propícia para um governo, em nome de uma alegada regularização, tentar justificar a extinção da actual estrutura de carreira». Assinala ainda que «tanto PS como PSD aguardam condições políticas para rever “em baixa” o ECD».
Neste contexto, «aos professores compete, em primeiro lugar, contribuir para que não se verifiquem as condições políticas favoráveis a quem pretende alterar negativamente o estatuto e destruir a sua carreira».
O Congresso realça que «a luta dos professores conseguiu no passado o que muitos julgavam impossível: a publicação do ECD, a eliminação da prova de candidatura, a recuperação de tempo de serviço (em duas alturas distintas) ou o fim da divisão da carreira entre titulares e professores».
«A luta não deixará hoje de estar à altura das ameaças e do desafio que é tão importante para a profissão docente», a valorização da carreira profissional, afirma-se no Programa de Acção.
Recuperar todo o tempo de serviço
«Resistir a qualquer tentativa de eliminação da carreira docente e consequente integração dos docentes na tabela remuneratória única» é um dos principais eixos inscritos na Resolução sobre Acção Reivindicativa, também aprovada no dia 15.
No topo das «prioridades reivindicativas», reflectindo o peso do problema na luta dos professores e no decurso do Congresso, a Fenprof inscreve «recuperar integralmente o tempo de serviço cumprido nos períodos de congelamento das carreiras (9 anos, 4 meses e 2 dias)».
Na intervenção de abertura, o Secretário-geral da Fenprof frisou igualmente a exigência de «refazer a carreira docente» e, «neste âmbito, garantir a sua recomposição, que passa por recuperar integralmente o tempo de serviço que os professores cumpriram, posicionando-os no escalão devido». No palco, ao longo dos dois dias, permaneceram em grande formato as letras e números do tempo a recuperar: 9A4M2D.
Mário Nogueira retomou o tema no encerramento – sessão em que interveio também o Secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos –, para lembrar que no 12.º Congresso, em 2016, «o tempo estava congelado». Em 2017 «o Governo descongelava as carreiras, menos as especiais e as dos professores». Em 2018 «por força da luta, teve de descongelar também as carreiras dos professores, mas dizia que não recuperava o tempo de serviço». E hoje, com a recuperação total decidida nas regiões autónomas, para os docentes no Continente «2 anos, 9 meses e 18 dias já cá cantam e aquilo que nos falta são 6 anos, 6 meses e 23 dias».
A imposição do Governo é considerada «um ponto intermédio da recuperação integral».
Dos próximos momentos de luta por este objectivo, no Congresso foi destacada a manifestação nacional marcada para 5 de Outubro, Dia Mundial do Professor e também véspera das eleições legislativas.
Na Resolução ficou inscrita a decisão de realizar várias outras acções, tanto no curto prazo, considerando o período eleitoral, como no início da nova legislatura.