Larguem a juventude da mão

Filipe Diniz

O ca­pi­ta­lismo tem uma óbvia e efi­ci­ente linha de massas, es­trei­ta­mente as­so­ciada à sua rede global de ma­ni­pu­lação me­diá­tica. E como o ca­pi­ta­lismo não tem qual­quer es­pécie de es­crú­pulos, ma­ni­pula a partir de zonas vul­ne­rá­veis e in­de­fesas: a dis­po­ni­bi­li­dade mental das cri­anças que des­co­brem o mundo, o de­sejo ju­venil de in­ter­venção po­si­tiva nesse mundo.

Vem isto a pro­pó­sito de uma ini­ci­a­tiva am­bi­en­ta­lista, Plastic Tide Tur­ners – PTT (Virar a maré do plás­tico), pa­tro­ci­nada por or­ga­ni­za­ções da ONU, Grã-Bre­tanha, Quénia, WWF, es­cu­teiros, Clean Seas, Ju­nior Achi­e­ve­ment. Uma pes­quisa sobre esta úl­tima é elu­ci­da­tiva: a sua acção as­senta no «com­pro­misso com os prin­cí­pios da eco­nomia de mer­cado e do em­pre­en­de­do­rismo». A secção por­tu­guesa (a sede, ob­vi­a­mente, é nos EUA) opera na área da Edu­cação para «formar jo­vens em­pre­en­de­dores», «des­pertar o em­pre­en­dedor que há em nós».

Para tal co­meçam com o alvo 6-7 anos («a fa­mília»), pros­se­guem nos 7-8 anos («como fun­ci­onam os ne­gó­cios dentro de uma co­mu­ni­dade»), nos 10-12 anos («a Eu­ropa e eu», «ex­plorar ne­gó­cios eu­ro­peus»), nos 13-15 anos («é o meu ne­gócio: em­pre­en­de­do­rismo, con­ceitos de ne­gócio», e «eco­nomia para o su­cesso»). Uma la­vagem ao cé­rebro de sete vul­ne­rá­veis anos.

Ne­nhum grande pro­blema am­bi­ental ac­tual é se­pa­rável da anar­quia da pro­dução, da sede de lucro e do con­su­mismo ca­pi­ta­lista. Será por isso que toda a ar­gu­men­tação da PTT é no sen­tido da cor­res­pon­sa­bi­li­zação geral pela «maré do plás­tico». É assim que quem deite uma beata para o chão paga uma pe­sada multa mas a Coca-Cola, que produz anu­al­mente três mi­lhões de to­ne­ladas de em­ba­la­gens de plás­tico (https://​www.the­guar­dian.com/​bu­si­ness/​2019/​mar/​14/​coca-cola-ad­mits-it-pro­duces-3m-tonnes-of-plastic-pac­ka­ging-a-year), não paga.




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