Reaccionarices

João Frazão

Há certos co­men­ta­dores es­pe­ci­a­li­zados em re­ac­ci­o­na­rices, e há re­ac­ci­o­na­rices que, de forma re­cor­rente, vêm à liça pela mãos destes ou de ou­tros.

No pri­meiro caso está Ma­nuel Car­valho (MC), di­rector do Pú­blico, que nos brinda amiúde com os seus es­critos, sempre ei­vados de ódio pelo papel que o PCP tem nesta nova fase da vida po­lí­tica na­ci­onal e, no se­gundo caso estão as 35 horas de tra­balho se­manal, ob­jec­tivo pelo qual os tra­ba­lha­dores lutam há dé­cadas.

Esta se­mana, MC in­digna-se porque, ima­gine-se, nin­guém propõe a re­versão da re­po­sição das 40horas na Ad­mi­nis­tração Pú­blica.

Amar­rado que está à ideia de um re­gime la­boral com um ho­rário de sol a sol, MC fala das 35 horas como um «luxo de país rico», fin­gindo não saber que o ho­rário de 40 horas se­ma­nais é, esse sim, um luxo a que con­ti­nuam a poder per­mitir-se a mai­oria dos pa­trões deste país, ame­a­lhando toda a ri­queza pro­du­zida, apesar de qual­quer tra­ba­lhador pro­duzir mais hoje em 35h do que, se­gu­ra­mente, há dé­cadas em 50 ou 60 horas se­ma­nais.

MC não está pre­o­cu­pado com os tra­ba­lha­dores do pri­vado (e muito menos com os muitos que já tra­ba­lham 35 horas), pois se assim fosse bas­tava aderir à pro­posta do PCP da fi­xação das 35 horas como ho­rário se­manal má­ximo para todos.

O que pre­o­cupa MC é que o avanço da re­po­sição das 35 horas na Ad­mi­nis­tração Pú­blica e o seu alar­ga­mento a todos os tra­ba­lha­dores com Con­trato In­di­vi­dual de Tra­balho, no qual o PCP teve um de­ter­mi­nante papel, possa ser um es­tí­mulo à luta de todos os tra­ba­lha­dores com esse ob­jec­tivo.

Para MC, pri­vi­lé­gios, só mesmo os do ca­pital, de ex­plo­rarem li­vre­mente os tra­ba­lha­dores. Esses sim, são au­tên­ticas vacas sa­gradas.

Me­lhores sa­lá­rios, di­reitos, ho­rá­rios dignos são coisas que in­co­modam MC.

E é por isso que zurze em tudo quanto sejam avanços con­quis­tados por todos os tra­ba­lha­dores.




Mais artigos de: Opinião

O enésimo assalto à TVI

Nesta legislatura, com a «mãozinha» e o silêncio cúmplice de PS, PSD e CDS, prosseguiu a concentração de propriedade na comunicação social, em conflito frontal com o texto constitucional (Art.º 38.º). Os media privados de âmbito nacional estão todos na posse do capital financeiro e comandados por cadeias de «informação»,...

Larguem a juventude da mão

O capitalismo tem uma óbvia e eficiente linha de massas, estreitamente associada à sua rede global de manipulação mediática. E como o capitalismo não tem qualquer espécie de escrúpulos, manipula a partir de zonas vulneráveis e indefesas: a disponibilidade mental das crianças que descobrem o mundo, o desejo juvenil de...

Espúria

A azáfama eleitoral desencadeou um frenesim de promessas, que só visto. Até o PAN realiza um congresso em Telheiras para pôr a cabeça de fora e mostrar que já não se limita aos direitos dos animais, agora também preconiza um «Serviço Nacional de Saúde» para os mesmos, enquanto insiste «não ser de esquerda nem de...

A Festa da solidariedade internacionalista

A ex­tra­or­di­nária re­a­li­zação po­lí­tico-cul­tural que é a Festa do Avante!, que amanhã se inicia, tem na sua as­su­mida e inequí­voca ex­pressão de so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista uma das suas mais im­por­tantes e ím­pares di­men­sões.

As ambições de Macron

A Cimeira do G7 de Biarritz constituiu uma gigantesca operação de diversão para induzir na opinião pública a ideia de que, apesar das suas indisfarçáveis maleitas, o capitalismo não está assim tão mal, e para desviar a atenção dos demais problemas resultantes precisamente daquilo que o G7 tudo fez para esconder: o...