Frente ampla no Brasil para derrotar «radicalismo bolsonariano»
«O Estado brasileiro está a regredir na trajectória desenvolvimentista em prol dos interesses nacionais, patrióticos, da democracia e do intento de integração regional. O governo Bolsonaro representa uma tendência fascistizante, de realinhamento completo, servil, à estratégia norte-americana, que é uma estratégia perigosíssima, de ameaças de guerra, de manter a qualquer preço a hegemonia», denuncia Walter Sorrentino, vice-presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Em declarações ao Avante!, realça que «tudo isso se expressa numa plataforma ultraliberal selvagem, que desmonta direitos de há 80 anos, conquistados na luta pelo povo e pelos trabalhadores». E mais: «Bolsonaro tem um discurso regressivo do ponto de vista civilizacional, no terreno dos costumes faz a guerra contra um suposto “marxismo cultural” e tem uma estratégia de construir uma nova ordem política, económica e social, dado que o ciclo aberto com a Constituinte de 1988 se esgotou. Ele só pode impor essa ordem destruindo a que existe e mediante uma escalada autoritária. É uma escalada autoritária, à sombra da Constituição, produzindo um Estado policialesco, o abuso de autoridade e a imposição do seu clã ideológico».
E explica que «a estratégia fundamental do bolsonarismo é vedar o caminho institucional e impedir as forças progressistas e de esquerda de voltarem ao governo nacional».
Frente democrática
O PCdoB considera que a oposição a Bolsonaro implica uma resistência activa, cujo centro é a mobilização da força popular, «a única capaz de defender a soberania, a democracia e os direitos». E essa resistência activa precisa ser praticada «nas urnas, nas ruas, na luta cultural», mas com muita amplitude e sagacidade: «A sagacidade deve-se a que a técnica do governo Bolsonaro é uma técnica de confrontação, de soldar-se com a sua base social, que hoje soma 20 ou 25 por cento, radicalizando, polarizando esta base com uma mensagem odienta e criando no futuro, inclusivamente, milícias».
Isso cria muitas contradições: «O Brasil é uma grande nação, o Estado nacional é muito complexo e todos se sentem inseguros. De modo que o eixo da unidade da oposição, no ponto de vista do PCdoB, é a luta democrática, a composição de um amplo arco de forças pelo Estado de Direito, pela Constituição, contra o Estado policialesco». Segundo Walter Sorrentino, a esquerda sozinha não pode fazer isso: «Nós precisamos de contar com as forças de uma espécie de centro social. Impõe-se uma frente ampla, com objectivos muito simples, muito focados – isolar e derrotar o radicalismo bolsonariano».
Um segundo eixo da luta, propõe o PCdoB, é «a unidade das forças progressistas, da esquerda, centro-esquerda, intelectuais, sociedade civil, em torno de um novo projecto nacional de desenvolvimento, como substrato dessa táctica, porque nós precisamos de oferecer ao povo novas esperanças, saídas reais para a crise, para não fazer uma oposição estéril, que simplesmente mantém a polarização».
Os comunistas brasileiros defendem que a esquerda deve liderar a frente democrática, mas ela «tem de ter suficiente sagacidade neste ambiente e saber lidar com forças que foram nossos adversários ontem, podem ser aliados tópicos hoje, sem deixar de ser adversários amanhã».