Claudia Flórez, do Comité Executivo do CC do Partido Comunista Colombiano

«O importante é avançar num verdadeiro processo de paz

Claudia Flórez, directora do semanário Voz e membro do Comité Executivo do Comité Central do Partido Comunista Colombiano (PCC), esteve este ano pela primeira vez na Festa do Avante! e dela leva «uma impressão muito forte».

«Na Colômbia, apesar da expectativa criada pela assinatura, em 2016, de um acordo de paz entre as FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo) e o governo do anterior presidente, Juan Manuel Santos, com este novo governo, de direita, não se avançou. Ao contrário, constituiu-se um novo ciclo de violência, no qual situações que se tinham vivido no final dos anos 90 e princípios de 2000, com a presidência de Álvaro Uribe, se voltam a repetir – o assassinato de líderes sociais. Já foram assassinados cerca de 700 líderes, dos quais cerca de 150 são ex-combatentes das FARC», afirmou Cláudia Floréz.

Além isso, pormenoriza, «retorna a prática de actos macabros e danosos, como massacres em diversas regiões, a activação do para-militarismo em todo o território nacional, em especial nas zonas rurais, ligada ao plano económico das transnacionais». A oligarquia na Colômbia «mantém-se no poder usando a violência como instrumento» e, ao mesmo tempo, apropria-se das terras e das riquezas do país.

«Esperamos, a esquerda e sectores alternativos, nas próximas eleições regionais e locais, participar e conquistar autarquias à direita, à oligarquia colombiana. Esses são passos para gerar outras alternativas no país», adianta.

Para essas eleições, em Outubro, o PCC trabalha para encontrar convergências, cenários amplos que permitam «unir vozes em função da mudança de que necessita o país».

Hoje, o partido intervém politicamente no seio da União Patrótica e procura a unidade com o movimento Colômbia Humana, que apoiou Gustavo Petro, candidato nas últimas eleições presidenciais que ficou em segundo lugar. A estratégia principal do PCC é procurar convergências: «Em muitas regiões, onde isso é possível, fazemos a unidade com o movimento indígena, com Colômbia Humana, com o partido FARC (Força Alternativa Revolucionária do Comum) e outros sectores».

Avançar para a paz

Claudia Floréz denuncia o incumprimento, pelo governo, do acordo de paz, que «significava paz não só para os guerrilheiros que se encontravam nas fileiras das FARC-EP mas também para os territórios rurais». Na Colômbia «não há uma reforma rural que permita ao camponês ter a propriedade da terra que trabalha. Mantém-se o latifúndio, que ao longo dos tempos foi um dos problemas que esteve na origem do conflito armado».

Os comunistas consideram fulcral uma solução política negocial para o conflito, que se complexificou recentemente com o anúncio que fez Iván Márquez e um número importante de outros ex-guerrilheiros, que decidiram voltar a pegar em arma.

Para o PCC, «o importante é avançar num verdadeiro processo de paz, no cumprimento do acordo entre o Estado e as FARC-EP, de molde a que possamos construir um movimento de paz que garanta às próximas gerações uma Colômbia distinta. Uma Colômbia onde exista democracia, onde haja condições de vida aceitáveis para o povo, onde possamos todos viver melhor, com justiça social».




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