Lições, exemplo e estímulo da luta ferroviária em 1969

CINQUENTENÁRIO As lutas dos trabalhadores ferroviários durante o ano de 1969 foram parte importante das movimentações que levariam à constituição da Intersindical, no ano seguinte.

Em cada dia de luta, «o pai não sabe se volta para casa»

Uma cerimónia de evocação dos 50 anos decorridos desde momentos marcantes como o «luto ferroviário», em Janeiro de 1969, os encontros nacionais, em Março e Outubro, as concentrações de 30 de Abril, no Barreiro, e 2 de Agosto, em Lisboa, e a greve de uma hora, a 20 de Outubro, decorreu na tarde da passada quinta-feira, dia 24, no átrio da estação do Rossio, a espreitar o Carmo que em 1974 também entraria na história por força de lutas como estas.

Organizada pela Fectrans/CGTP-IN e o seu Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, a homenagem aos lutadores de há 50 anos – que souberam vencer a repressão e o medo e enfrentaram o governo fascista e os seus mandantes e apaniguados na CP – centrou-se nos combates do presente.

«Desde que há caminho-de-ferro, temos registo de lutas dos ferroviários por melhores condições de trabalho», assinalou o coordenador da Fectrans. José Manuel Oliveira lembrou, a propósito, que em valas comuns de fuzilados pelo franquismo foram encontrados restos mortais de portugueses que trabalhavam na construção da ferrovia da Galiza.

«Mesmo na ditadura, houve organização, mobilização e luta e forçaram o governo e a administração a recuar», salientaria Arménio Carlos, que defendeu a necessidade de realizar mais iniciativas sindicais deste género, no quadro das comemorações do cinquentenário da CGTP-IN, que a central iniciou e se prologam por 2020. Para o Secretário-geral da Intersindical, que falou no final da sessão, as lutas ferroviárias de 1969 «por melhores condições para os trabalhadores e para pôr mais um prego no caixão do fascismo» são hoje «referência» e «um exemplo a seguir».

Imediatamente antes, um jovem dirigente sindical ferroviário tinha já enaltecido a luta de 1969, «pelas reivindicações dos trabalhadores, e também para que possamos estar hoje aqui em liberdade». «Quando somos hoje confrontados com dificuldades, devemos lembrar-nos que não há maior dificuldade do que a repressão fascista» que não travou o movimento há 50 anos, comentou Tiago Matos.

Custódio Ferreira, ferroviário com envolvimento nas lutas de 1969 e dirigente sindical durante vários anos, contou como foi importante o apoio da família e como dizia à filha pequena, em certos dias, que «o pai não sabe se volta para casa hoje». Naquela altura, «fomos todos heróis, cada um com a sua parte», e hoje «todos podemos fazer qualquer coisa» pelos mesmos ideais.

Etelvina Reis, que foi também dirigente sindical ferroviária, relatou a sua experiência de jovem «ratinha» entrada para a CP naqueles anos e que, mesmo sem ainda conhecer muita coisa, não deixou de reivindicar o que achava justo.

Tomaram ainda a palavra, em breves intervenções: Nuno Martins, coordenador do SNTSF; Libério Domingues, coordenador da União dos Sindicatos de Lisboa; César Roussado, em nome da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP); Teresa Carvalho, «filha de ferroviário».

Foi distribuída uma brochura (que também está publicada no site da Fectrans), reproduzindo uma comunicação de Carlos Domingos (que em 1969 acompanhou a luta dos ferroviários como funcionário do PCP) nas comemorações sindicais em 2009.

Só no Avante!

Com a feroz repressão policial, a intimidação e a perseguição, o regime fascista não conseguiu impedir o desenvolvimento da luta dos ferroviários. Conseguiu, no entanto, que ela fosse silenciada na comunicação social da altura e, como assinalou o coordenador da Fectrans, esse silêncio só foi rompido pelas notícias publicadas no Avante! ao longo do ano de 1969.
O «obrigado» ao Avante! suscitou fortes aplausos na sessão. A convite dos organizadores, também o director do órgão central do PCP, Manuel Rodrigues, saudou a comemoração e realçou a actualidade da sua realização.

 



Mais artigos de: Trabalhadores

Jornada de luta na UMP e misericórdias

A greve dos trabalhadores da União das Misericórdias Portuguesas e das santas casas de Misericórdia, no dia 25, sexta-feira, encerrou infantários, creches e centros de dia e fez-se sentir em muitas valências que funcionaram, revelou um dirigente sindical durante a concentração que, nessa...

Encontro nacional da Fesaht

A boa situação económica das empresas, nos sectores da hotelaria e turismo, e igualmente nas indústrias de alimentação e bebidas e no sector agroalimentar, não tem reflexos na melhoria dos salários e das condições de trabalho, protesta-se na resolução aprovada no encontro sindical nacional,...

Não docentes de Sintra em protesto

Trabalhadores não docentes de mais de uma centena de escolas do concelho de Sintra cumpriram ontem uma greve em defesa da contratação do pessoal em falta e da regularização da carreira. O protesto terminou, ao início da tarde, com uma concentração frente a Câmara Municipal de Sintra (CMS). João Santos, dirigente do...

Fectrans e Antram assinaram

Foi assinado anteontem, pela Fectrans/CGTP-IN e a associação patronal Antram, o acordo de revisão do contrato colectivo de trabalho (vertical) para o sector do transporte rodoviário de mercadorias, concluindo um processo negocial iniciado em Maio. A federação realça que, partindo do contrato celebrado em 2018 e que...