Aeroporto no Montijo apenas serve à Vinci

DENÚNCIA O pa­recer da Agência Por­tu­guesa do Am­bi­ente, que vi­a­bi­liza a cons­trução do novo ae­ro­porto de Lisboa no Mon­tijo, não apaga o erro desta opção e a sub­missão do Go­verno aos in­te­resses da mul­ti­na­ci­onal Vinci.

À re­velia da mai­oria dos pa­re­ceres, a APA deu aval ao Mon­tijo

O PCP co­mentou o pa­recer da APA logo no dia 31 de Ou­tubro, através de uma nota do seu Ga­bi­nete de Im­prensa e de de­cla­ra­ções do de­pu­tado Bruno Dias, pro­fe­ridas na As­sem­bleia da Re­pú­blica. A po­sição do Par­tido sobre o as­sunto é so­be­ja­mente co­nhe­cida: a opção pelo Mon­tijo é er­rada e apenas serve os in­te­resses da mul­ti­na­ci­onal Vinci (a quem foi en­tregue a gestão dos ae­ro­portos na­ci­o­nais); o que me­lhor servia os in­te­resses na­ci­o­nais era a cons­trução fa­seada do novo ae­ro­porto in­ter­na­ci­onal no Campo de Tiro de Al­co­chete.

Os co­mu­nistas re­cordam que é esta úl­tima opção que res­pei­taria a qua­li­dade de vida das po­pu­la­ções e a pre­ser­vação dos va­lores am­bi­en­tais, ao mesmo tempo que apon­taria a uma es­tra­tégia capaz de po­ten­ciar e de­sen­volver o con­junto de infra-es­tru­turas ae­ro­por­tuá­rias exis­tentes no País, in­cluindo aquelas, como o Ae­ro­porto de Beja, que se en­con­tram cla­ra­mente su­ba­pro­vei­tadas. Aliás, ga­rante o PCP, do pró­prio de­bate na­ci­onal que se de­sen­volveu du­rante anos quanto à lo­ca­li­zação do novo ae­ro­porto so­bres­saiu a evi­dência de que a sua cons­trução nos ter­renos pú­blicos da zona do Campo de Tiro de Al­co­chete seria a opção «mais capaz de res­ponder às exi­gên­cias que se co­locam».

A opção pelo Mon­tijo é, as­sume o PCP, uma «so­lução a prazo, que não re­solve ne­nhum dos pro­blemas es­tru­tu­rais e le­vanta ou­tros, bem mais com­plexos e pre­o­cu­pantes». Como são, desde logo, os im­pactos na qua­li­dade de vida das po­pu­la­ções dos con­ce­lhos en­vol­ventes, a de­gra­dação am­bi­ental e novos riscos no plano da se­gu­rança ae­ro­por­tuária.

Para o PCP, o con­teúdo da De­cla­ração de Im­pacte Am­bi­ental di­vul­gada na vés­pera pela APA, que dá «co­ber­tura a uma opção es­tra­té­gica er­rada por via da ins­crição de umas quantas me­didas mi­ti­ga­doras exi­gí­veis para a vi­a­bi­li­zação da Base Aérea do Mon­tijo para fins civis», in­sere-se num pro­cesso de es­can­da­loso be­ne­fício da Vinci, que «com­pro­mete os in­te­resses na­ci­o­nais e o de­sen­vol­vi­mento do País».

Im­pactos tre­mendos

Também o Par­tido Eco­lo­gista «Os Verdes» re­agiu à po­sição da APA, ma­ni­fes­tando a sua «pro­funda pre­o­cu­pação» pelo seu teor. Apesar de dis­cordar do pa­recer, ele não sur­pre­endeu o PEV, de­vido à «ina­cei­tável pressão exer­cida pelo Go­verno junto de di­fe­rentes or­ga­nismos». Os eco­lo­gistas re­alçam que as me­didas mi­ti­ga­doras pro­postas pela APA ao nível do ruído, da avi­fauna e da mo­bi­li­dade são «in­com­pre­en­sí­veis».

Quanto ao pri­meiro factor, o PEV con­si­dera que as po­pu­la­ções da Moita e do Bar­reiro «irão ficar con­fi­nadas às pa­redes das suas ha­bi­ta­ções sem po­derem abrir portas ou ja­nelas para não serem afec­tadas pelo ruído». No que res­peita à avi­fauna, aos ha­bi­tats e a todo o ecos­sis­tema da Re­serva Na­tural do Es­tuário do Tejo, Os Verdes ga­rantem que os im­pactos «não são mi­ti­gá­veis», lem­brando que as áreas pro­postas para a mi­ti­gação «já fazem parte do plano de or­de­na­mento e gestão da re­serva na­tural». Re­la­ti­va­mente à mo­bi­li­dade, a pro­posta de compra de dois na­vios é «atirar areia» para os olhos dos por­tu­gueses, já que as ne­ces­si­dades são enormes a este nível na re­gião e só au­men­tarão com o ae­ro­porto.

O PEV con­clui que o Go­verno se aliou a uma mul­ti­na­ci­onal, «em vez de de­fender os por­tu­gueses e as suas ri­quezas na­tu­rais». O in­te­resse pú­blico exi­giria, por outro lado, que os «cri­té­rios am­bi­en­tais e de se­gu­rança das pes­soas e do ter­ri­tório es­ti­vessem em pri­meiro lugar».

De­cidir pri­meiro,
ex­plicar de­pois

A Pla­ta­forma Cí­vica Ae­ro­porto BA6-Mon­tijo Não! pro­nun­ciou-se no mesmo sen­tido. Numa nota de 31 de Ou­tubro, ga­rante que a APA não levou em con­si­de­ração, no seu pa­recer, os in­te­resses es­tra­té­gicos de Por­tugal no do­mínio das suas infra-es­tru­turas ae­ro­náu­ticas civis e do de­sen­vol­vi­mento sus­ten­tado do País. Re­a­fir­mando aquela que é a sua po­sição de sempre – que o uso da Base Aérea do Mon­tijo para o ae­ro­porto é a que mais im­pactos ne­ga­tivos tem sobre a po­pu­lação –, a Pla­ta­forma sus­tenta-a com mo­tivos de saúde, se­gu­rança e meio am­bi­ente.

Na prin­cipal rota de apro­xi­mação à pista pelo Sul, por exemplo, estão si­tu­adas es­colas, um hos­pital e uni­dades in­dus­triais ca­rac­te­ri­zadas pela ma­ni­pu­lação, trans­porte e uso de subs­tân­cias tó­xicas e vo­lá­teis. Outra rota so­brevoa uma zona ha­bi­tada por mais de 30 mil pes­soas.

A Pla­ta­forma acusa ainda a APA de, no seu pa­recer, re­ferir-se ao «maior nú­mero de par­ti­ci­pa­ções du­rante o pro­cesso de con­sulta pú­blica (1180, a maior de sempre re­gis­tada até hoje)», mas de ig­norar «qual o seu sen­tido e muito menos quais as ob­jec­ções apon­tadas». E ad­mite a hi­pó­tese de se pre­tender de­cidir pri­meiro e só de­pois ex­plicar. Sendo co­nhe­cido que ne­nhuma das or­ga­ni­za­ções am­bi­en­ta­listas se pro­nun­ciou fa­vo­ra­vel­mente à opção Mon­tijo é ad­mis­sível que a mai­oria das par­ti­ci­pa­ções no pro­cesso de de­bate pú­blico seja con­trária à cons­trução do ae­ro­porto na­quele local. Torna-se, assim, di­fícil de ex­plicar o pa­recer fa­vo­rável da APA…


Um pouco de his­tória

Na nota emi­tida no dia 31, o PCP in­sere a in­sis­tência do Go­verno pela cons­trução do ae­ro­porto do Mon­tijo no pro­cesso ini­ciado com a pri­va­ti­zação da ANA – Ae­ro­portos, pela mão do an­te­rior go­verno PSD/​CDS, que con­cedeu à Vinci di­reitos de ex­plo­ração de 10 ae­ro­portos na­ci­o­nais por um pe­ríodo de 50 anos. Tudo isso acom­pa­nhado das «res­pec­tivas (e subs­tan­ciais) re­ceitas ae­ro­por­tuá­rias».

Esta opção, que re­pre­sentou um «im­por­tante revés para o País», como ga­rantem os co­mu­nistas (e a vida com­prova), foi se­guida de uma es­tra­tégia de agra­va­mento subs­tan­cial das taxas ae­ro­por­tuá­rias e de con­tenção do in­ves­ti­mento por parte da mul­ti­na­ci­onal fran­cesa. É neste quadro, re­alça o PCP, que surge a pos­si­bi­li­dade da uti­li­zação da pista na Base Aérea do Mon­tijo, com­ple­mentar ao Ae­ro­porto Hum­berto Del­gado, em vez da cons­trução fa­seada de um novo ae­ro­porto in­ter­na­ci­onal.

É, pois, com estes in­te­resses a que o Go­verno do PS se sub­meteu, acusa o Par­tido, para quem de­viam ter sido uti­li­zados todos os meios para de­fender os in­te­resses na­ci­o­nais. Para o PCP, o País «não pode su­jeitar o seu de­sen­vol­vi­mento e a res­posta às suas ne­ces­si­dades aos in­te­resses dos grupos eco­nó­micos na­ci­o­nais ou es­tran­geiros». Ou­tros casos estão aí, a de­monstrá-lo na prá­tica…



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