Mais ingerências na Líbia e no Sahel

Carlos Lopes Pereira

A Turquia está a transferir centenas de mercenários da Síria para a Líbia em socorro do governo de Trípoli, de Fayez el-Sarraj, cujas milícias estão em dificuldades perante a ofensiva das forças de Khalifa Haftar, chefe militar da facção que domina o Leste líbio.

Mais: o presidente Recep Erdogan anunciou que o parlamento votará, ainda em Janeiro, a autorização do envio de tropas turcas para a Líbia, em auxílio do governo reconhecido pela ONU.

«Apoiaremos por todos os meios o governo de Trípoli, que resiste a um general golpista ajudado por países árabes e europeus», garantiu o dirigente turco. Segundo a imprensa, Haftar é apoiado pela Arábia Saudita, Egipto e Emiratos Árabes Unidos, países que mantêm relações tensas com a Turquia e com outro aliado de Tripoli, o Qatar.

O envio pela Turquia de mercenários, já em curso, e, eventualmente, de tropas regulares, para a Líbia, é mais um exemplo da crescente intervenção militar estrangeira no Norte de África.

Estreitamente ligada ao caos provocado pela agressão da NATO à Líbia, em 2011, a situação no Sahel agravou-se também.

Multiplicam-se os ataques de jihadistas contra os exércitos do Mali, Burkina Faso e Níger, provocando pesadas baixas – além de milhares de deslocados e refugiados –, acções que atingem também as forças expedicionárias francesas estacionadas nesses países, no Chade e na Mauritânia.

A França, que perdeu recentemente 13 militares no Mali, num choque de dois helicópteros da Operação Barkhane, contribui para o agravamento do conflito: confirmou agora a utilização de drones armados como parte do seu arsenal utilizado na faixa saheliana.

Em Paris, o Ministério da Defesa informou que se trata de veículos aéreos não-tripulados Reaper MQ-9, de fabrico estado-unidense, equipados com mísseis guiados por laser e GPS, baseados em Niamey. E o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, voltou a justificar a presença militar no Sahel com o argumento de que «é necessária para a segurança e estabilidade dos países da região e da França».

Enfrentando enorme contestação social no seu país, o presidente Emmanuel Macron visitou há dias a Costa do Marfim, a pretexto de celebrar o Natal com as tropas francesas ali estacionadas. Em Port-Bouet, perto da capital, Abidjan, a França dispõe de uma base militar, com cerca de um milhar de efectivos, que prestam apoio logístico aos operacionais da Barkhane. Macron e o seu homólogo marfinense, Alassane Ouattara, discutiram mais um projecto de «ajuda» francesa: a criação de uma Academia Internacional contra o Terrorismo, que será um centro de treino militar para a África Ocidental.

No mesmo périplo, Macron fez escala em Niamey, onde a França tem outra base militar, aérea, em conjunto com os EUA. Na capital do Níger, reuniu-se com o presidente Mahamadou Issoufou, um aliado de Paris, e prestou homenagem aos 71 soldados nigerinos que perderam a vida recentemente, num ataque jihadista.

Mas a visita a Abidjan e Niamey teve, sobretudo, o objectivo de preparar a cimeira franco-saheliana, prevista para 13 de Janeiro, em Pau, no Sudoeste francês. Macron e os presidentes do G5-Sahel (Níger, Burkina Faso, Mali, Chade e Mauritânia) vão discutir, precisamente, o agravamento da situação militar e a intervenção de tropas estrangeiras na região.

 



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