Debate do OE e das GOP para 2020

Aprovado o OE 2020 na generalidade é tempo agora de acção e proposta

DE­BATE Mais de 40 pro­postas de al­te­ração ao Or­ça­mento do Es­tado para 2020 foram já en­tre­gues pelo PCP desde se­gunda-feira, 13, pri­meiro dia da sua apre­ci­ação na es­pe­ci­a­li­dade.

O PCP não de­siste de lutar por um Por­tugal com fu­turo

Após apro­vação do do­cu­mento na ge­ne­ra­li­dade na pas­sada sexta-feira, de­zenas de ou­tras pro­postas de al­te­ração serão for­ma­li­zadas du­rante as pró­ximas duas se­manas, pe­ríodo que an­te­cede a sua vo­tação final global, pre­vista para dia 6 de Fe­ve­reiro.

De in­ter­venção e luta é feita assim a res­posta dos co­mu­nistas ao que con­si­deram ser as «in­su­fi­ci­ên­cias e li­mi­ta­ções» de um Or­ça­mento com me­didas que ficam aquém das so­lu­ções que a si­tu­ação do País re­clama.

A apre­sen­tação de um tão ele­vado nú­mero de al­te­ra­ções por parte do PCP é re­ve­la­dora da sua de­ter­mi­nação em con­tra­riar op­ções e re­sis­tên­cias do Go­verno que têm obs­ta­cu­li­zado as res­postas que o País pre­cisa para ul­tra­passar os seus pro­blemas es­tru­tu­rais.

Esta po­sição da ban­cada co­mu­nista está em linha, de resto, com o ob­jec­tivo por si tra­çado de não dar por es­go­tadas as pos­si­bi­li­dades de avançar na de­fesa, re­po­sição e con­quista de di­reitos e, in­clu­si­va­mente, na su­pe­ração de blo­queios e cons­tran­gi­mentos que con­ti­nuam a im­pedir o nosso de­sen­vol­vi­mento so­be­rano.

Foi essa ava­li­ação e esse in­tuito de levar mais longe a res­posta aos pro­blemas na­ci­o­nais, aliás, que es­teve na base e jus­ti­ficou a abs­tenção as­su­mida pelo Grupo Par­la­mentar do PCP na vo­tação que cul­minou sexta-feira, 10, dois dias de de­bate do OE na ge­ne­ra­li­dade. Apro­vado apenas com os votos fa­vo­rá­veis do PS, o do­cu­mento contou com as abs­ten­ções, além da ban­cada co­mu­nista, de PEV, BE, PAN e Livre. Contra vo­taram PSD, CDS, Ini­ci­a­tiva Li­beral e Chega.

Menor al­cance

Na apre­sen­tação da pro­posta de OE o pri­meiro-mi­nistro con­si­derou não haver nela qual­quer «re­tro­cesso» re­la­ti­va­mente ao ca­minho per­cor­rido desde 2016, fa­lando mesmo em «con­ti­nui­dade e pro­gresso».

Não foi essa a ava­li­ação do PCP. Sem deixar de re­co­nhecer que a úl­tima le­gis­la­tura «in­ter­rompeu a marcha for­çada da ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento» im­posta pelos go­vernos dos PEC e do pacto de agressão, do mesmo modo que deu um «im­por­tante con­tri­buto» para um ca­minho de de­fesa, re­po­sição e con­quista de di­reitos, o Se­cre­tário-geral do PCP ob­servou con­tudo que neste OE não se en­contra o mesmo «ritmo e abran­gência» dos an­te­ri­ores or­ça­mentos.

Exem­pli­fi­cando, Je­ró­nimo de Sousa tomou como termo de com­pa­ração avanços que vão desde os «au­mentos de pen­sões à gra­tui­ti­dade dos ma­nuais es­co­lares, da re­dução do IRS à eli­mi­nação do Pa­ga­mento Es­pe­cial por Conta, da re­dução dos custos dos trans­portes à tri­bu­tação dos grandes lu­cros e pa­tri­mónio ou mesmo o des­con­ge­la­mento das pro­gres­sões na Ad­mi­nis­tração Pú­blica e a re­po­sição de im­por­tantes di­reitos eli­mi­nados pelo go­verno PSD/​CDS, de­sig­na­da­mente das 35 horas de tra­balho se­manal».

Ora, «não há me­didas novas com este sig­ni­fi­cado na pro­posta do Go­verno», in­sistiu no de­curso do de­bate o de­pu­tado co­mu­nista Du­arte Alves.

E por isso o PCP con­cluiu que este «não é um or­ça­mento de con­ti­nui­dade» nem o «me­lhor or­ça­mento», como re­pe­ti­da­mente afirmou o chefe do Go­verno.

Ne­ces­si­dades por su­prir

A marcar o de­bate es­teve também o «ex­ce­dente or­ça­mental» as­su­mido e eri­gido pelo Go­verno como grande ob­jec­tivo e feito de pro­por­ções his­tó­ricas.

Opção jus­ti­fi­cada por An­tónio Costa em nome da re­dução da dí­vida pú­blica e de «pre­parar o fu­turo».

Pers­pec­tiva que es­teve longe de ser par­ti­lhada pela ban­cada co­mu­nista. «Trata-se de um ex­ce­dente que não é al­can­çado em re­sul­tado do di­na­mismo e do cres­ci­mento eco­nó­mico, nem de uma justa tri­bu­tação da ri­queza pro­du­zida, nem do corte com os pri­vi­lé­gios e mor­do­mias de que be­ne­fi­ciam os grupos eco­nó­micos», afirmou Je­ró­nimo de Sousa. Pelo con­trário, acres­centou, é ob­tido «à custa do in­ves­ti­mento que faz falta nos hos­pi­tais, nas es­colas, nos tri­bu­nais, na fer­rovia, nas es­tradas, na flo­resta, nos sec­tores pro­du­tivos, sa­cri­fi­cando au­mentos nas pen­sões de re­forma e nas pres­ta­ções so­ciais, li­mi­tando a con­tra­tação dos mi­lhares de tra­ba­lha­dores que fazem falta ao SNS, à Es­cola Pú­blica ou às Forças de Se­gu­rança».

«O ex­ce­dente or­ça­mental não seria um pro­blema se ao mesmo tempo os pro­blemas do País fossem re­sol­vidos, no­me­a­da­mente no âm­bito da Ad­mi­nis­tração Pú­blica», re­forçou o líder par­la­mentar do PCP, João Oli­veira.

In­tervir sempre

Re­a­fir­mada com cla­reza pela ban­cada co­mu­nista foi também a con­vicção firme de que a opção do Go­verno «não tinha, nem tem de ser assim» e de que há al­ter­na­tiva. «Havia e há meios bas­tantes no País para que não se con­tinue a adiar aquilo que há muito é re­cla­mado pelo povo por­tu­guês. Fossem ou­tras as op­ções do Go­verno e os tais meios, os tais mi­lhões, não dei­xa­riam de apa­recer para dar res­posta aos pro­blemas na­ci­o­nais», re­alçou Je­ró­nimo de Sousa.

De­ter­mi­nado a ter uma in­ter­venção ac­tiva no de­bate do OE na es­pe­ci­a­li­dade, o PCP ex­pressou ainda o pro­pó­sito de «com­bater tudo o que de ne­ga­tivo queira ser im­posto ao povo por­tu­guês», afir­mando-se si­mul­ta­ne­a­mente pronto para «apoiar tudo quanto seja avanço e con­quista».

E um úl­timo su­bli­nhado foi dei­xado da tri­buna do he­mi­ciclo pelo Se­cre­tário-geral co­mu­nista: «De­ci­di­remos da vo­tação final em função da­quilo que de con­creto re­sultar de avanço na fase de es­pe­ci­a­li­dade, do quadro po­lí­tico mais geral em que o Or­ça­mento será dis­cu­tido e dos seus de­sen­vol­vi­mentos».

 

 

 

 

 

 

 



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