Continuar a exigir o fim das armas nucleares

CPPC Quando se as­si­nalam 70 anos do Apelo de Es­to­colmo, o Con­selho Por­tu­guês para a Paz e Co­o­pe­ração afirma que é ur­gente pôr fim às armas nu­cle­ares, que cons­ti­tuem uma das mais sé­rias ame­aças que pende sobre toda a hu­ma­ni­dade.

Clamor mun­dial pela paz e o de­sar­ma­mento

No dia 15 de Março de 1950 foi lan­çado pelo Co­mité Mun­dial dos Par­ti­dá­rios da Paz – em­brião do Con­selho Mun­dial da Paz, nas­cido no final desse ano – o Apelo de Es­to­colmo, pe­tição mun­dial pela in­ter­dição das armas ató­micas.

Entre os pri­meiros subs­cri­tores en­con­travam-se des­ta­cadas per­so­na­li­dades da cul­tura, da ci­ência e da arte da­quele tempo, como: Fré­déric Jo­liot-Curie, Charlie Parker, Dmitri Shos­ta­ko­vich, Ge­orge Ber­nard Shaw, Henri Ma­tisse, Henri Wallon, Le­o­nard Berns­tein, Louis Aragon, Marc Cha­gall, Pablo Ne­ruda, Pablo Pi­casso, Si­mone Sig­noret, Thomas Mann, Yves Mon­tand, entre muitos ou­tros.

«O teor do Apelo en­con­trou eco entre os povos do mundo, cho­cados com o horror dos cri­mi­nosos bom­bar­de­a­mentos ató­micos norte-ame­ri­canos sobre Hi­ro­xima e Na­ga­sáqui, em Agosto de 1945, e pre­o­cu­pados com a cres­cente tensão que mar­cava o seu tempo. De­pois da es­pe­rança aberta na efe­ti­vação de um mundo de paz com a vi­tória sobre o nazi-fas­cismo na Se­gunda Guerra Mun­dial, na vi­ragem para a dé­cada de 50 as pre­o­cu­pa­ções eram imensas. E jus­ti­fi­cadas», re­fere, em nota de im­prensa,o CPPC.

Cri­ação da Nato
A Guerra Fria foi a res­posta dos EUA e res­tantes po­tên­cias oci­den­tais à «im­pres­si­o­nante vaga li­ber­ta­dora do pós-guerra e às im­pe­tu­osas con­quistas po­lí­ticas, eco­nó­micas, so­ciais, cul­tu­rais e na­ci­o­nais então al­can­çadas: a chan­tagem nu­clear, a cor­rida aos ar­ma­mentos, a dis­se­mi­nação de tropas, bases e equi­pa­mentos mi­li­tares em vá­rios pontos do mundo, a in­ge­rência e a agressão, foram al­guns dos seus ins­tru­mentos».

«A cri­ação da NATO, em Abril de 1949, ins­ti­tuiu a ló­gica de blocos po­lí­tico-mi­li­tares, afas­tando o pro­jeto de cri­ação de um sis­tema de se­gu­rança co­le­tivo na Eu­ropa as­sente nas Na­ções Unidas. Par­ti­cu­lar­mente em Berlim e na Co­reia, fazia-se sentir uma nova ameaça de guerra», re­corda o Con­selho da Paz.

Clamor mun­dial
«As as­si­na­turas para o Apelo foram re­co­lhidas em todo o mundo – nas fá­bricas e nos ser­viços, nos campos e nos mer­cados, nas es­colas e nas uni­ver­si­dades, nas as­so­ci­a­ções e nos clubes, nas praças, ave­nidas e ruas. Nal­guns países, como Por­tugal, sob a di­ta­dura fas­cista de Sa­lazar, houve que iludir e en­frentar per­se­gui­ções e a re­pressão; nou­tros, o Apelo foi as­su­mido aber­ta­mente em grandes ações pú­blicas», acres­centou o CPPC, in­for­mando que, em todo o mundo, «cen­tenas de mi­lhões de pes­soas, de di­fe­rentes pro­fis­sões, áreas de in­ter­venção, op­ções po­lí­ticas e con­fis­sões re­li­gi­osas» as­si­naram o Apelo, que se trans­formou «num imenso clamor mun­dial pela paz e o de­sar­ma­mento, fun­da­mental para travar os ím­petos mais agres­sivos dos que pro­movem a guerra e a chan­tagem nu­clear».

Nas dé­cadas que se se­guiram, após o im­pres­si­o­nante im­pacto do Apelo de Es­to­colmo e de muitas ou­tras cam­pa­nhas e ac­ções do mo­vi­mento mun­dial da paz, foram ce­le­brados im­por­tantes acordos e tra­tados vi­sando o de­sar­ma­mento e o de­sa­nu­vi­a­mento nas re­la­ções in­ter­na­ci­o­nais. A ameaça de guerra nu­clear, nunca to­tal­mente afas­tada, fi­cava assim mais dis­tante.

Mundo mais in­se­guro

Nos úl­timos anos, a fi­si­o­nomia ge­o­po­lí­tica do mundo al­terou-se pro­fun­da­mente.«Ao de­sa­pa­re­ci­mento do Pacto de Var­sóvia não cor­res­pondeu o des­man­te­la­mento da NATO, mas, pelo con­trário, o seu re­forço e alar­ga­mento», apontou o CPPC, re­fe­rindo que «a pro­messa de um mundo mais se­guro, ter­mi­nada a Guerra Fria, não se cum­priu». «As guerras de agressão pro­mo­vidas pelos EUA, a NATO e os seus ali­ados su­cedem-se em vá­rios pontos do mundo, assim como in­ge­rên­cias e blo­queios eco­nó­micos contra países so­be­ranos; as des­pesas mi­li­tares não param de au­mentar; a mi­li­ta­ri­zação atinge cada vez mais es­feras da vida e o pró­prio cosmos; os EUA des­res­peitam im­por­tantes acordos in­ter­na­ci­o­nais que con­ti­nham os ar­ma­mentos nu­cle­ares; em redor da China e da Rússia, os EUA er­guem bases, ins­ta­la­ções e con­tin­gentes mi­li­tares e frotas na­vais», des­creve o Con­selho da Paz.

«Con­si­de­rando a di­mensão e poder dos ar­se­nais nu­cle­ares exis­tentes, uma guerra nu­clear entre as prin­ci­pais po­tên­cias não se li­mi­taria a re­pro­duzir o horror vi­vido em Hi­ro­xima e Na­ga­saki há 75 anos, antes o mul­ti­pli­caria por muito: mi­lhões de seres hu­manos mor­re­riam no mo­mento das ex­plo­sões e nos meses se­guintes, de­vido aos efeitos da ra­di­ação sobre a saúde e am­bi­ente, que per­sis­ti­riam du­rante muitos anos. As con­sequên­cias se­riam ca­tas­tró­ficas, in­cluindo o cha­mado in­verno nu­clear. Tal guerra, a ocorrer, com­pro­me­teria se­ri­a­mente a so­bre­vi­vência da pró­pria hu­ma­ni­dade», adi­anta o CPPC.

Ac­tu­al­mente, es­tima-se exis­tirem cerca de 14 mil ogivas nu­cle­ares no mundo, nos ar­se­nais de nove países (EUA, Fe­de­ração Russa, Reino Unido, França, China, Is­rael, Índia, Pa­quistão e a Re­pú­blica Po­pular De­mo­crá­tica da Co­reia). Ou­tros cinco (Ale­manha, Bél­gica, Itália, Ho­landa e Tur­quia) al­bergam for­mal­mente armas nu­cle­ares dos EUA, que no seu con­ceito es­tra­té­gico ad­mitem o uso de armas nu­cle­ares num pri­meiro ataque, po­sição que a NATO acom­panha.

Exi­gên­cias pre­mentes

# De­fesa e res­ta­be­le­ci­mento de acordos e tra­tados que visam a con­tenção e de­sar­ma­mento nu­clear;
# Re­jeição de uma nova es­ca­lada ar­ma­men­tista e da ins­ta­lação de novas armas nu­cle­ares, in­cluindo dos EUA na Eu­ropa;
# As­si­na­tura e ra­ti­fi­cação pelos Es­tados do Tra­tado de Proi­bição de Armas Nu­cle­ares, adop­tado a 7 de Julho de 2017 por uma con­fe­rência nas Na­ções Unidas.

Arma de terror e de ex­ter­mínio

«Exi­gimos a in­ter­dição ab­so­luta da arma ató­mica, arma de terror e de ex­ter­mínio em massa de po­pu­la­ções. Exi­gimos o es­ta­be­le­ci­mento de um vi­go­roso con­trolo in­ter­na­ci­onal para a apli­cação dessa me­dida de in­ter­dição. Con­si­de­ramos que o go­verno que pri­meiro uti­lizar a arma ató­mica, não im­porta contra que país, co­me­terá um crime contra a hu­ma­ni­dade e será tra­tado como cri­mi­noso de guerra. Pe­dimos a todos os ho­mens de boa von­tade no mundo in­teiro que as­sinem este apelo.»

Crimes contra a Ve­ne­zuela e o Irão

No sá­bado, 21 de Março, o CPPC con­denou a re­cusa do Fundo Mo­ne­tário In­ter­na­ci­onal de con­ceder um em­prés­timo de cinco mil mi­lhões de dó­lares pe­dido pelo go­verno ve­ne­zu­e­lano para pre­venir e en­frentar a crise de saúde pú­blica cau­sada pelo Covid-19. «De forma ina­cei­tável e ilegal, este or­ga­nismo fi­nan­ceiro in­ter­na­ci­onal sus­tenta a sua re­cusa de apoio com a ale­gada falta de “le­gi­ti­mi­dade” do go­verno de Ni­colas Ma­duro, dando assim co­ber­tura à ma­nobra de de­ses­ta­bi­li­zação e gol­pista dos EUA contra o país sul-ame­ri­cano, em clara afronta à Carta das Na­ções Unidas e ao di­reito in­ter­na­ci­onal», con­dena o Con­selho da Paz.

No mesmo dia, o CPPC cri­ticou as novas san­ções, im­postas pelos EUA, contra o Irão, país que en­frenta um dos pi­ores surtos do novo co­ro­na­vírus no mundo. Vá­rias or­ga­ni­za­ções so­ciais con­si­deram esta me­dida como ter­ro­rista, trans­for­mando um grave pro­blema de saúde pú­blica numa arma po­lí­tica e eco­nó­mica.



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