Pilhagem patronal sem precedentes motiva alerta na indústria

FIR­MEZA «É pre­ciso re­sistir a um pro­cesso de pi­lhagem sem pre­ce­dentes, vi­sando os sa­lá­rios e os di­reitos dos tra­ba­lha­dores, in­cluindo o di­reito ao em­prego», alertou dia 20 a Fi­e­qui­metal/​CGTP-IN.

A bem dos lu­cros das em­presas, os custos vão para os tra­ba­lha­dores

 

A Federação Intersindical das indústrias metalúrgicas, químicas, eléctricas, farmacêutica, celulose, papel, gráfica, imprensa, energia e minas destacou, num comunicado, que «estado de emergência não significa encerramento das empresas» e criticou «a enorme passividade do Ministério do Trabalho e da Autoridade para as Condições do Trabalho».

Re­curso abu­sivo ao lay-off, ten­ta­tivas de impor an­te­ci­pação de fé­rias, agra­va­mento de ho­rá­rios de tra­balho e des­pe­di­mento de tra­ba­lha­dores com vín­culo pre­cário são re­fe­ridas como ex­pressão de «um pro­cesso de pi­lhagem de di­reitos e sa­lá­rios dos tra­ba­lha­dores», de­sen­ca­deado por «vá­rias mul­ti­na­ci­o­nais dos sec­tores au­to­móvel, me­ta­lúr­gico, quí­mico, ma­te­rial eléc­trico e elec­tró­nico», «a co­berto do grave pro­blema de saúde pú­blica ori­gi­nado pela COVID-19».

Como «prin­cipal traço da ati­tude das ad­mi­nis­tra­ções», a fe­de­ração in­dica «a chan­tagem, a in­ten­si­fi­cação da ex­plo­ração e o apro­vei­ta­mento do clima de pâ­nico, por elas ali­men­tado, para fu­girem às obri­ga­ções de res­pon­sa­bi­li­dade so­cial que tanto apre­goam» e tendo «apenas como pro­pó­sito de­fender os lu­cros da mul­ti­na­ci­o­nais e co­locar os tra­ba­lha­dores a pagar a fac­tura».

«A res­posta tem de ser a vi­gi­lância, a uni­dade e o re­forço dos sin­di­catos de classe, au­men­tando a sin­di­ca­li­zação», con­trapõe a Fi­e­qui­metal, exor­tando os tra­ba­lha­dores a «agirem e exi­girem a de­fesa da sua saúde, o pa­ga­mento in­te­gral do sa­lário, a sal­va­guarda do em­prego e o res­peito pelos di­reitos» e su­bli­nhando que «é pos­sível or­ga­nizar a pro­dução, ga­ran­tindo a pro­tecção da saúde e dos di­reitos e o pa­ga­mento in­te­gral da re­tri­buição».

Como «claro apro­vei­ta­mento», o SITE Centro-Norte alertou a mi­nistra do Tra­balho para o re­curso ao «lay-off sim­pli­fi­cado», que a PSA Man­gualde anun­ciou no dia 17. Na vés­pera, a em­presa tinha co­mu­ni­cado que a la­bo­ração seria in­ter­rom­pida entre os dias 18 e 26 deste mês, por falta de com­po­nentes.

O sin­di­cato, na carta à go­ver­nante, re­cordou os lu­cros al­can­çados na fá­brica (mais de 23 mi­lhões de euros, de 2015 a 2018) e no Grupo PSA (3200 mi­lhões de euros em 2019), con­si­de­rando «ina­cei­tável» que a mul­ti­na­ci­onal não as­suma o pa­ga­mento dos sa­lá­rios aos seus tra­ba­lha­dores.

Nas suas fá­bricas em Campo Maior e Por­ta­legre, a Hut­chinson usou a pan­demia de COVID-19 como pre­texto para impor bancos de horas, acusou o SITE Sul, no dia 22. No dia se­guinte, em co­mu­ni­cado, a Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Por­ta­legre do PCP con­denou a pressão e chan­tagem sobre os tra­ba­lha­dores, para os forçar a ab­dicar de di­reitos.

No dia 17, o sin­di­cato exigiu me­didas de pre­venção, por parte da Ges­tamp, em Vendas Novas, e da AIS, em Mon­temor-o-Novo, e re­jeitou os des­pe­di­mentos en­ce­tados e a im­pu­tação total dos pre­juízos aos tra­ba­lha­dores.

Da Kemet, em Évora, o SIESI exigiu no dia 19 «me­didas de fundo» para a pro­tecção da saúde e se­gu­rança dos tra­ba­lha­dores, para além de «me­didas ge­né­ricas» in­su­fi­ci­entes.

Já na Fau­recia Mol­dados, em São João da Ma­deira, os 30 tra­ba­lha­dores co­lo­cados em qua­ren­tena vão re­ceber o sa­lário por in­teiro, disse à agência Lusa, no dia 17, um di­ri­gente do SITE Centro-Norte.

A Eugster & Frismag al­terou o ho­rário de tra­balho, para dois turnos, en­cerrou os re­fei­tó­rios e não aplicou me­didas de con­tenção nas li­nhas de mon­tagem, de­nun­ciou na se­mana pas­sada a União Sin­dical de Torres Ve­dras.

A RARI e a Is­po­reco, através da Glo­bal­tempo, de­ci­diram des­pedir tra­ba­lha­dores tem­po­rá­rios, pro­testou a União dos Sin­di­catos de Se­túbal, no dia 19. Acusou ainda as em­presas do es­ta­leiro naval da Mi­trena de não cum­prirem o plano de con­tin­gência, não for­ne­cendo equi­pa­mentos de pro­tecção in­di­vi­dual, trans­por­tando os tra­ba­lha­dores como antes da pan­demia e fa­zendo só após o de­sem­barque os testes às tri­pu­la­ções que chegam. A es­tru­tura dis­trital da CGTP-IN cri­ticou igual­mente a Hanon e a Vis­teon.

Como «si­tu­a­ções de pressão e vi­o­lação pa­tronal», alvo da in­ter­venção sin­dical, a Fe­de­ração dos Sin­di­catos da Cons­trução, Ce­râ­mica e Vidro re­feriu, esta se­gunda-feira, entre ou­tras: im­po­sição de fé­rias nas fá­bricas Bor­dalo Pi­nheiro, Vista Alegre Atlantis e Ce­rutil, do Grupo Vi­sa­beira; al­te­ração para turno único na Carl Zeiss (Se­túbal), e des­pe­di­mento de meia cen­tena de tra­ba­lha­dores com vín­culo a uma em­presa de tra­balho tem­po­rário; im­po­sição de fé­rias e banco de horas, na Es­silor (Lisboa).

Na cons­trução civil, a Fe­viccom/​CGTP-IN re­gistou de­nún­cias de tra­ba­lha­dores sobre falta de me­didas e meios de pro­tecção, em vá­rias obras.

Em­presas de con­fec­ções, como a Grasil, a Lança e a La­ni­fato, estão a forçar o uso de fé­rias, «de forma ar­ti­cu­lada e se­guindo ori­en­ta­ções da sua as­so­ci­ação», acusou o Sin­di­cato do Sector Têxtil da Beira Baixa. Já a Di­elmar en­cerrou, «sem in­dicar em que mo­da­li­dade».

Foi le­van­tado pelo sin­di­cato – e co­lo­cado pelo PCP no Par­la­mento – o pro­blema criado aos tra­ba­lha­dores das em­presas em la­bo­ração com a sus­pensão das li­nhas in­te­rur­banas da Transdev.

 



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