O azar do Magalhães

Manuel Gouveia

O Nuno Magalhães do CDS teve azar. Foi num debate com o nosso Miguel Tiago, na RTP3. O sorriso do Miguel enchia o ecrã enquanto lhe dizia: «já disseste tudo».

E de facto tinha dito. Perorava o rapaz do CDS sobre a luta pela democracia e os direitos humanos na Bielorrússia, quando se saiu com esta brilhante sentença: «Espero que o Ocidente (e a Rússia, já agora) escolham o sucessor de Lukashenko que...» quando o Miguel Tiago o interrompe «o Ocidente é que escolhe? Já disseste tudo...».

Teve azar o Magalhães. Tivesse dito aquilo a um «jornalista», e nada se teria passado. Tivesse-o dito num debate com um «oponente» do PS, do PSD ou do BE, e teria passado em claro, reflexo da velha irmandade eurocentrista e subordinada à NATO, que já destruiu a Líbia, a Síria ou a Ucrânia, e agora marcha unida na democrática ingerência contra a Bielorrússia.

O Magalhães até disse o que Macron ou Merkel já tinham dito, e que as televisões tinham difundido alegremente. Ou o que titulava o respeitabilíssimo Finantial Times: «Conversações de Merkel, Macron e Michel reconhecem o papel crucial da Rússia na decisão do destino do presidente bielorrusso Lukashenko». E disse-o num espaço informativo cheio de contradições que ninguém denunciou: onde os 70% do Marcelo são «naturais» e os 80% de Lukashenko «necessariamente suspeitos»; onde um Macron pode reprimir violentamente as manifestações em França e defender o direito de manifestação na Bielorrússia; onde os neo-nazis são combatentes pela liberdade.

O azar do Magalhães foi ter apanhado um comunista pela frente. Que logo demonstrou a hipocrisia dos que dizem lutar pela democracia num país e simultaneamente tentam impor-lhe um governo escolhido pelo imperialismo através de um golpe que começa a ser um clássico. É aliás por isso que é tão raro apanhar um comunista num debate na televisão. O que só faz crescer o azar do Magalhães.




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