13 de Outubro

Anabela Fino

Aquele 13 de Outubro prometia mudar tudo. Foi o dia em que o mundo esteve suspenso, em que a fé e a esperança deram as mãos, em que gente de todos os credos e de todas as classes sociais comungou da mesma expectativa, em que ninguém duvidou das promessas feitas porque tudo parecia verdadeiro, legítimo e justo.

Os sinos que já haviam tocado a rebate repicaram então como nos dias de festa, as sirenes fizeram-se ouvir como quem anuncia um novo dia, as lágrimas de alegria jorraram por todo o planeta como se a humanidade fosse uma única e grande família.

Naquele 13 de Outubro o mundo (quase) parou para ver o resgate dos 33 mineiros chilenos que estiveram soterrados na mina San José, em Copiapó, durante 69 dias. Um a um voltaram à superfície a bordo da cápsula Fénix, o mundo respirou de alívio e, acreditou-se, o trabalho nas minas iria ser mais seguro.

Dez anos passados, a mina de cobre fechou e no local existe um pequeno museu; os mineiros, esses, caíram no esquecimento.

Há dois anos, a Justiça isentou a empresa mineira San Esteban de responsabilidades no acidente e condenou o Chile a pagar uma indemnização aos mineiros, mas o Conselho de Defesa do Estado recorreu da decisão alegando que já tinham sido ressarcidos por receberem pensões vitalícias. O caso continua em tribunal.

Longe das câmaras, muitos afectados psicologicamente e sem conseguirem arranjar emprego, sobrevivendo com uma pensão irrisória e sem que lhes reconheçam as doenças profissionais que os vão consumindo, como a silicose, os heróis daquele 13 de Outubro tornaram-se descartáveis.

A semelhança com a ave mítica que renasce das próprias cinzas, símbolo da ideia de que o fim é apenas o começo, da eterna esperança, é mera coincidência.




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