Esquerda chilena quer Constituição de Pinochet no caixote de lixo da História
Daniel Jadue, alcaide da comuna de Recoleta, em Santiago do Chile, exortou os partidários de uma nova Constituição para o Chile a conseguir mais de dois terços de delegados na Convenção Constituinte. O edil comunista, hoje a figura da oposição mais bem avaliada nas sondagens para uma candidatura presidencial, afirmou que no referendo de 25 de Outubro próximo os sectores progressistas «devem lutar por alcançar mais de dois terços para aproximar-se quanto possível de uma Assembleia Constituinte».
Jadue foi um dos participantes no acto organizado, a 25 de Setembro, na capital, na Praça Baquedano, pelo movimento Chile Digno, constituído por vários partidos de esquerda e numerosas forças sociais e que apela a votar daqui a um mês «Aprovo» e «Convenção Constituinte», visando avançar para uma nova Constituição para o Chile.
O alcaide comunista apelou aos cidadãos a votar «Aprovo» para «lançar no caixote de lixo da História a Constituição de Pinochet» (ainda em vigor) e alertou que uma parte da direita procura colocar obstáculos para impedir o avanço do processo constitucional.
Além disso, instou a quem se opõe à mudança da carta magna chilena a respeitar o resultado das urnas, assegurando que o Chile não quer voltar aos governos de direita nem aos da social-democracia neoliberal mas sim conseguir as transformações profundas por que luta o movimento popular.
O objectivo de alcançar os dois terços pelas forças progressistas tem a ver com o facto de na Convenção Constituinte se requerer essa maioria, para aprovar questões de fundo que seriam basilares para redigir uma lei fundamental que garantisse realmente as alterações exigidas pela maioria da população ao modelo político e social vigente.
Novos protestos populares
A um mês da realização dessa consulta popular, arrancou na sexta-feira, 25, a campanha de divulgação do referendo, com o início dos anúncios televisivos das forças políticas e movimentos sociais a favor ou contra a mudança constitucional e a realização de iniciativas em diversos pontos da capital.
Enquanto na Praça da Independência, em frente ao Palácio de La Moneda, se concentraram partidários do Não, a Praça Baquedano, baptizada Praça da Dignidade pelos participantes do levantamento popular iniciado a 18 de Outubro de 2019, foi escolhida pelo movimento Chile Digno, partidário do Sim.
No mesmo dia, à tarde e à noite, protestos populares voltaram à Praça Baquedano, havendo registo de 16 pessoas detidas após a repressão das forças policiais que, como é habitual, utilizaram canhões de água contra os manifestantes.
O protesto foi convocado pela Federação de Associações de Funcionários da Saúde (Fenats), para apoiar reivindicações laborais dos técnicos de enfermagem. Os participantes na manifestação, cerca de 40, número autorizado pelas medidas sanitárias impostas, concentraram-se mas, ao cair da tarde, juntaram-se centenas de pessoas. Os confrontos tiveram lugar quando a polícia interveio para dispersar à força os manifestantes.