Não se paga as contas com o «banco» de horas
LUTA O CESP/CGTP-IN organizou acções de protesto na sede do Pingo Doce e do Grupo Jerónimo Martins e em lojas do Continente (Grupo Sonae). Na próxima semana realizam-se vários plenários na DHL.
Quem recebe 635 euros por mês ficará a perder 541,50 euros por ano
As empresas da grande distribuição comercial estão a aproveitar as possibilidades oferecidas pelas alterações à legislação laboral que oGoverno do PS promoveu no ano passado, com o apoio de PSD e CDS, explicou o Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal. Na sexta-feira, 25 de Setembro, ao anunciar acções de protesto para o dia seguinte, o CESP referiu que os processos de referendo que são necessários para impor o «banco» de horas grupal começaramno Pingo Doce (3 de Agosto) e estão agora a ocorrer noutras empresas.
«Não pago as contas, a casa e a comida com o “banco” de horas», destaca o sindicato, em folhetos distribuídos aos trabalhadores da FNAC e da DHL Supply Chain (logística), em Setembro. O sindicato refere que estas empresas (como a generalidade do sector) pagam o salário mínimo ou pouco mais à grande maioria dos trabalhadores e estes, até devido a reduções de pessoal, já viram aumentar a sua carga de trabalho. Seria justo um aumento significativo dos salários, mas os patrões querem obter «150 horas anuais de graça».
Com um «banco» de horas neste máximo legal, as empresas evitam contratar mais trabalhadores e também deixam de pagar horas extraordinárias. Nas contas apresentadas pelo CESP, cada trabalhador com salário de 635 euros ficará a perder 541,50 euros por ano – valores que, naturalmente, ficam nos cofres patronais.
Por dia, a cada trabalhador poderão ser exigidas até duas horas para além do período normal de trabalho.
Na informação difundida ao pessoal da Sonae (Continente, lojas especializadas e logística), que foi chamado ao referendo de 21 a 27 de Setembro, o CESP denunciou «uma vasta campanha de desinformação» patronal e sublinhou vários aspectos gravosos do famigerado «banco». Por exemplo: em situações imprevisíveis, o acréscimo de duas horas pode ser exigido a qualquer momento e só poderá ser recusado com motivo atendível e justificado; para usar as horas acumuladas, o trabalhador deve fazer a comunicação com cinco dias de antecedência e a empresa terá de dar acordo.
Resistir
e persistir
No dia 26, sábado, o sindicato organizou protestos no exterior de lojas Continente em Telheiras (Lisboa), Valongo e Coimbra.
A vigília de 24 de Setembro, frente à sededo Pingo Doce e do Grupo Jerónimo Martins, em Lisboa – iniciativa em que participou Isabel Camarinha, Secretária-geral da CGTP-IN –, propiciou mais uma ocasião para lembrar em que condições os trabalhadores votaram há dois meses: na sala do gerente, com este a ver; sob ameaça de não pagar prémios a quem votasse «não»; e sem que os trabalhadores e o sindicato pudessem fiscalizar o processo.
Também a FNAC interditou o CESP de entrar nas instalações da empresa esta terça-feira e nos demais dias de votação, revelou o sindicato, rejeitando «que a questão epidémica sirva de pretexto para limitar direitos sindicais» e reafirmando que «continuará a denúncia pública e tudo fará para garantir os direitos dos trabalhadores».
Plenários de trabalhadores da DHL estão convocados para 6 a 12 de Outubro, em Vila Nova da Rainha, Alverca, Vialonga, Carregado, Palmela e Espadanal da Azambuja.