Democratas e patriotas, diálogo e convergência

Margarida Botelho (Membro do Secretariado)

O trabalho político unitário é uma linha de sempre da intervenção do Partido. Está muito ligado à influência política e social do Partido e à sua ligação às massas. Tem uma expressão notável na intervenção dos comunistas eleitos no movimento sindical unitário, no movimento das comissões de trabalhadores ou no movimento associativo popular. Tem expressão importante igualmente na CDU, quer no trabalho com os nossos aliados do PEV e da ID, quer na intervenção dos milhares de independentes que participam nas listas para as autarquias locais – cerca de 12 mil nas eleições autárquicas de 2013.

Há em Portugal forças bastantes para dar a volta à situação

O Partido já faz muito no âmbito do trabalho político unitário. Na sua última reunião, o Comité Central colocou o objectivo de reforçar, sistematizar e potenciar esse trabalho.

Essa necessidade de sempre reforça-se pela realidade que o País atravessa, marcada pela epidemia e pelas suas consequências em muitas esferas da vida, pela crise económica, pelos ataques às liberdades, pela ofensiva ideológica, pelas limitações à soberania nacional, pelo contexto internacional. É uma realidade que afecta directamente milhões de portugueses, que encaram o seu futuro com muitas preocupações, e que gera além disso legítimas inquietações em muitos democratas e patriotas quanto ao futuro do país e do mundo.

A dimensão da crise que assola o País e os perigos que se avolumam geram sentimentos de desânimo, descrença e medo, apelos à abstenção e ao atentismo. Mas também geram revolta, indignação, vontade de agir. Os homens e as mulheres democratas, patriotas, de esquerda, não devem ser só espectadores das transformações de sentido negativo. Têm um papel decisivo na denúncia dos retrocessos e das injustiças e nas lutas por avanços e novas conquistas.

O Partido pode e deve ter um papel esclarecedor, mobilizador e agregador nos contactos com pessoas que, independentemente das naturais diferenças de opinião e de posicionamentos sobre os mais variados assuntos de cada empresa, de cada terra, do país e do mundo, estejam seriamente disponíveis para conversar com o PCP sobre esses problemas e sobre as soluções – as que já temos e as que precisamos de construir.

 

Força bastante

Há muita gente que aceita de bom grado conversar com o PCP e que precisa de o fazer. Amigos que participam no movimento sindical unitário, independentes nas listas da CDU, apoiantes de diversos actos eleitorais, personalidades diversas, devem ser desafiados para conhecerem melhor as posições do Partido, para darem opiniões, para a intervenção concreta. Encontraremos gente que convergirá com o Partido em tudo, outros só neste ou naquele tema ou proposta. A todos devemos procurar fazer chegar as posições e iniciativas do Partido – tarefa essencial em tempos de tanta barragem e deturpação na comunicação social – e pedir contributos sobre as suas áreas específicas de saber e intervenção, com as quais teremos muito a aprender.

Há em Portugal forças bastantes para dar a volta à situação. A começar pelos milhões de trabalhadores que diariamente fazem funcionar o País e que foram e serão a força motriz de todas as transformações. Há em cada sector – da economia ao desporto, da saúde à cultura, das engenharias às ciências sociais – gente que partilha o diagnóstico que fazemos da situação. Mais do que isso: que pelos seus conhecimentos, quantas vezes sistematizados ao longo de anos de dedicação e trabalho, tem um contributo indispensável a dar a uma política patriótica e de esquerda.

O impacto que as comemorações do centenário do PCP estão a ter dão-nos a convicção que estes contactos podem contribuir decisivamente para reforçar a ligação, o prestígio e a confiança entre o Partido e milhares de independentes. Para isso é necessário que os organismos do Partido discutam regularmente quem são as pessoas independentes que se destacam neste ou naquele sector e com quem se deve conversar regularmente. Sempre que houve momentos difíceis, de crise, de ataques ao Partido e à democracia, a resposta esteve sempre nas massas, na ligação confiante, aberta e ampla com gente democrata, que defende a liberdade e o seu país.




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