Compatriotas

Correia da Fonseca

In­forma-nos a te­le­visão de que são dois mi­lhões os por­tu­gueses na si­tu­ação téc­nica de po­breza. É muito pobre, in­fe­liz­mente. Dada assim, porém, de uma forma tão sin­té­tica, a in­for­mação deixa es­paço para muitas dú­vidas, muita cu­ri­o­si­dade, al­gumas in­ter­ro­ga­ções, e uma destas será acerca dos dados que de­finem a si­tu­ação de po­breza. Talvez al­guns de nós te­nham in­te­ri­o­ri­zado que po­bres, po­bres, são quase apenas os que re­correm à cha­mada ca­ri­dade pú­blica, mas é claro que esse tão aper­tado cri­tério ex­clui muitas formas de po­breza efec­tiva e dra­má­tica, de onde a con­ve­ni­ência, se não a ne­ces­si­dade, de am­pliar o cri­tério para que fi­quemos mais perto da aliás tris­tís­sima ver­dade. E porque esta questão que en­volve po­breza, país e gente, é de uma fun­da­mental im­por­tância, muito bem se com­pre­en­deria que a TV, que aflorou o tema, sobre ele se de­mo­rasse e nos desse a saber mais dados. Não porque a sa­bença fosse desde logo um an­tí­doto contra esse mal, mas porque po­deria ser um bom prin­cípio para um com­bate ne­ces­sário e, como bem se en­tende, ur­gente. Uma vi­agem triste In­fe­liz­mente para nosso e seu mal, a te­le­visão por­tu­guesa, quer na sua versão pú­blica quer nas ver­sões pri­vadas, não dá si­nais de que lhe ape­teça en­ve­redar por esse ca­minho que po­deria talvez re­velar-se pe­dre­goso para ela mas útil para o país. E é esse seu apa­rente fastio que se la­menta. Ao re­co­nhecer a di­mensão da po­breza no nosso país a te­le­visão fica au­to­con­vo­cada para fazer que não nos fi­quemos por nesse re­co­nhe­ci­mento, e a TV pú­blica está ta­ci­ta­mente obri­gada a fazer o ne­ces­sário para que se ul­tra­passe essa si­tu­ação ini­cial. Ao longo dos dias, a te­le­visão mostra-nos muitas coisas, leva-nos a vi­ajar por muitas re­a­li­dades. Pois bem: cumpre-lhe levar-nos a fazer uma vi­agem triste mas ne­ces­sária, uma vi­agem que nos leve aos muitos re­cantos da po­breza em Por­tugal. En­tenda-se: a po­breza é um ini­migo e aos ini­migos é pre­ciso co­nhecê-los para que os pos­samos vencer. E não é acei­tável que se acene com o even­tual ar­gu­mento de que é ao Es­tado que com­pete esse com­bate, pois em ver­dade o Es­tado é na cir­cuns­tância o carro de com­bate de todos nós, que temos sobre ele o di­reito de exigir, de en­ca­mi­nhar, de pedir contas. Neste caso, o di­reito de lhe exigir que com­bata a po­breza e não, como por vezes pa­rece, que com­bata os po­bres para pro­veito dos que estão bem longe de o ser.




Mais artigos de: Argumentos

O AUKUS, o imperialismo e o Dia Internacional da Paz

Assinalou-se anteontem, 21, o Dia Internacional da Paz, consagrado pela Assembleia-geral das Nações Unidas em 2001 e celebrado pela primeira vez no ano seguinte. Os seus objectivos, aparentemente simples – contribuir para aliviar tensões é um deles –, revelam-se de aplicação cada vez mais...

Eles não sabem que o sonho…

É preciso lá ter estado pelo menos uma vez. O espaço, amplo, condensa em poucos hectares o muito do Portugal que existe, em Continente e Ilhas, mas não passa nas notícias (macabra coerência que, por igual, barra o acesso da Festa do Avante! ao alinhamento dos noticiários). Não sofrem, porém,...