Antonio Valdivia, do Partido Comunista do Chile

Os comunistas estiveram na primeira linha dos protestos populares

O po­de­roso mo­vi­mento de massas ini­ciado em Ou­tubro de 2019 des­feriu um pro­fundo golpe no re­gime – in­justo e vi­o­lento – her­dado da di­ta­dura de Pi­no­chet. O res­pon­sável em França pelo Par­tido Co­mu­nista do Chile, An­tonio Val­divia, fez ao Avante! um ba­lanço dos acon­te­ci­mentos e evi­den­ciou as pers­pec­tivas que se abrem aos tra­ba­lha­dores e ao povo chi­lenos.

O Par­tido Co­mu­nista do Chile tem vindo a crescer elei­toral e or­ga­ni­ca­mente

 

Que aná­lise faz o PCC das grandes mo­bi­li­za­ções po­pu­lares ini­ci­adas em Ou­tubro de 2019 e das suas con­sequên­cias po­lí­ticas?

A cha­mada re­volta de Ou­tubro teve uma origem meio es­pon­tânea, e digo «meio» porque os jo­vens que a ini­ci­aram ti­nham já uma larga ex­pe­ri­ência de luta an­te­rior, no mo­vi­mento es­tu­dantil do En­sino Se­cun­dário. Aos es­tu­dantes jun­taram-se logo os tra­ba­lha­dores, as ca­madas po­pu­lares, con­fe­rindo ao mo­vi­mento uma grande am­pli­tude.

A cada dia que pas­sava, as ma­ni­fes­ta­ções au­men­tavam de in­ten­si­dade. E a re­pressão também, com mu­ti­lados, de­sa­pa­re­cidos e mortos, com abusos se­xuais a muitas mu­lheres. Ten­taram, através do medo, travar as ma­ni­fes­ta­ções, mas não con­se­guiram.

 

A dada al­tura a si­tu­ação tornou-se di­fícil de gerir para o go­verno de Se­bas­tian Piñera...

Chegou-se a um ponto in­sus­ten­tável, em que a di­reita já não con­se­guia go­vernar. Res­tava-lhe apenas o golpe de força, que acabou por não poder ser uma opção, pois logo no dia a se­guir ao pre­si­dente Piñera ter afir­mado que se es­tava «em guerra», as che­fias mi­li­tares ga­ran­tiram que não havia qual­quer guerra.

Pro­cu­raram então outro es­tra­ta­gema para tentar travar a luta: propor um «acordo de paz» e pro­meter uma nova Cons­ti­tuição, que era uma exi­gência cen­tral dos pro­testos. Nesse acordo – no qual o PCC não par­ti­cipou por não es­tarem reu­nidas as con­di­ções que exigia e por ter sido ce­le­brado «entre quatro pa­redes», nas costas do povo – foi de­ci­dida a re­a­li­zação de um re­fe­rendo para saber se ha­veria uma nova Cons­ti­tuição e os moldes em que seria or­ga­ni­zada a con­venção cons­ti­tu­ci­onal.

 

E os re­sul­tados foram avas­sa­la­dores...

No re­fe­rendo [re­a­li­zado em Ou­tubro de 2020], cerca de 80% dos elei­tores afir­maram querer uma mu­dança e op­taram pela eleição di­recta de todos os cons­ti­tuintes, der­ro­tando os que que­riam um mo­delo misto, com me­tade dos mem­bros eleitos e os res­tantes de­fi­nidos a partir do ac­tual Par­la­mento, do­mi­nado pela di­reita.

 

E já em Maio deste ano dá-se outro mo­mento im­por­tante, as elei­ções para a con­venção cons­ti­tuinte e para os mu­ni­cí­pios...

A di­reita não atingiu o pa­tamar de um terço que lhe per­mi­tiria blo­quear as de­ci­sões da as­sem­bleia cons­ti­tuinte, o que não sig­ni­fica que não con­tinue a ma­no­brar e a tentar cor­romper al­guns dos eleitos, de modo a al­cançá-lo. Quanto aos que de­fendem uma nova cons­ti­tuição, não cons­ti­tuem um bloco uni­forme. A pla­ta­forma em que o PCC par­ti­cipou, Aprovo Dig­ni­dade, foi a se­gunda mais vo­tada, logo atrás da di­reita, que con­correu unida. Temos es­pe­rança de que a nova Cons­ti­tuição con­sagre a von­tade de mu­dança.

Nas ou­tras elei­ções, ven­cemos em quatro mu­ni­ci­pa­li­dades em­ble­má­ticas, como San­tiago, e du­pli­cámos a vo­tação para con­se­lheiros mu­ni­ci­pais, pas­sando de 80 para 150. Na re­gião de San­tiago, fomos os mais vo­tados e temos a mai­oria dos eleitos.

 

Podem estes re­sul­tados re­pre­sentar um re­co­nhe­ci­mento pelo papel do PCC nas lutas po­pu­lares? Que in­fluência teve o Par­tido em todo este pro­cesso?

Em Março de 2019, o Co­mité Cen­tral do Par­tido tinha ela­bo­rado uma tese que apon­tava para a ne­ces­si­dade de am­pliar a in­ten­si­dade do tra­balho de massas e a mo­bi­li­zação do mo­vi­mento po­pular nas suas di­fe­rentes ex­pres­sões. De certa forma, es­pe­rá­vamos um in­cre­mento das lutas, mas o que efec­ti­va­mente se passou ul­tra­passou todas as ex­pec­ta­tivas. O nosso Par­tido saiu à rua sob a ban­deira da uni­dade e, entre os cha­mados com­pa­nheiros da pri­meira linha, me­tade se­riam co­mu­nistas.

Também a nível or­ga­ni­za­tivo, demos um salto imenso. Cres­cemos em muitos lo­cais e junto da ju­ven­tude. Somos o maior par­tido do país, com mais de 50 mil mem­bros, e a Ju­ven­tude Co­mu­nista tem uma im­por­tante pre­sença na so­ci­e­dade.

 

E para o fu­turo, quais os prin­ci­pais de­sa­fios?

Em No­vembro há elei­ções pre­si­den­ciais e par­la­men­tares. O nosso pré-can­di­dato às pre­si­den­ciais, Da­niel Jadue, não passou nas pri­má­rias, pois a di­reita em­pe­nhou-se em barrar-lhe o ca­minho. Agora, es­tamos a tra­ba­lhar para ga­rantir a eleição de Ga­briel Boric, da Frente Ampla, com quem temos um acordo ba­seado num pro­grama con­creto.

Nas elei­ções par­la­men­tares, es­pe­ramos au­mentar muito o nú­mero de de­pu­tados.




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