Andrei Krasilnikov e Ilona Bakun, do PC da Bielorrússia

Face à ingerência, defender a soberania e os direitos do povo

An­drei Kra­sil­nikov, res­pon­sável do De­par­ta­mento In­ter­na­ci­onal do Par­tido Co­mu­nista da Bi­e­lor­rússia, acom­pa­nhado por Ilona Bakun, res­pon­sável-subs­ti­tuta, falou ao Avante! sobre a si­tu­ação no seu país, em par­ti­cular sobre os es­forços para der­rotar a in­ge­rência es­tran­geira que tenta mudar o rumo da po­lí­tica con­du­zida pelo pre­si­dente Alek­sandr Lu­ka­chenko e a sua ori­en­tação so­cial, que tem o apoio do PCB.
O de­poi­mento ao nosso jornal foi dado num in­ter­valo da par­ti­ci­pação da de­le­gação do PCB na 45.ª Festa do Avante! e co­meçou por um co­men­tário sobre o pe­ríodo que se viveu desde as elei­ções pre­si­den­ciais de Agosto de 2020.

«Vamos ao en­contro das pes­soas e aos lo­cais de tra­balho»

 

Qual é a si­tu­ação ac­tual na Bi­e­lor­rússia? Que novos pe­rigos é ne­ces­sário en­frentar?

Ac­tu­al­mente a si­tu­ação es­ta­bi­lizou. Fa­lharam as ma­no­bras para uma mu­dança brusca, mas agora querem de­ses­ta­bi­lizar a eco­nomia para criar ins­ta­bi­li­dade so­cial, a partir das di­fi­cul­dades eco­nó­micas.

Está a ser exer­cida muito forte pressão, pelos EUA, antes de mais, e também pelos países da União Eu­ro­peia, de­cre­tando san­ções eco­nó­micas e po­lí­ticas contra a Bi­e­lor­rússia. A UE e os EUA co­or­denam a sua acção. Na UE está a ser pre­pa­rado já o quinto pa­cote de san­ções.

Estas san­ções, claro, sus­citam de­ses­ta­bi­li­zação no país. Elas visam, pri­meiro que tudo, as nossas mai­ores em­presas – pe­tróleo, adubos, cons­trução de má­quinas, me­ta­lurgia –, que são pú­blicas e que são res­pon­sá­veis por uma parte muito im­por­tante do PIB.

Deixam de com­prar a nossa pro­dução e pe­na­lizam as em­presas, mesmo de ter­ceiros países, que man­te­nham a co­o­pe­ração. Al­gumas em­presas russas co­me­çaram a re­cusar-se a vender crude às nossas re­fi­na­rias, para evi­tarem ser pe­na­li­zadas pelos EUA. E acon­teceu o mesmo com ou­tras áreas.

 

Que pro­blemas se sentem mais?

Nós temos uma eco­nomia aberta, im­por­tamos muita coisa e também ex­por­tamos. Res­tringir as nossas ex­por­ta­ções é um golpe muito se­vero.

Na­tu­ral­mente, os tra­ba­lha­dores estão com ocu­pação re­du­zida, os sa­lá­rios di­mi­nuem. O Es­tado apoia-os, mas é muito com­pli­cado manter o ren­di­mento que ti­nham antes. Cria-se assim des­con­ten­ta­mento. É um ter­reno pró­prio a que, do nada, apa­reça al­guém num «ca­valo branco», ar­mado em «sal­vador», a ali­mentar ilu­sões...

Por outro lado, muitos dos nossos di­ri­gentes po­lí­ticos estão im­pe­didos de vi­ajar para os países da UE e par­ti­cipar em ini­ci­a­tivas. Contra eles há san­ções in­di­vi­du­a­li­zadas.

Como se sabe, isto tudo faz parte de planos geo-po­lí­ticos, ori­en­tados contra a Rússia, a China e ou­tros es­tados com ori­en­tação so­cial. Nos países que co­o­peram com a Rússia ou a China, tentam mudar ra­di­cal­mente a sua ori­en­tação. Nós sa­bemos bem como isto se passou na nossa vi­zinha Ucrânia.

 

Sen­tiram nestes úl­timos meses que po­deria haver um des­fecho se­me­lhante?

O nosso pri­meiro-se­cre­tário, Aleksei Sókol, e os nossos mi­li­tantes in­ter­vi­eram ac­ti­va­mente na cam­panha elei­toral. O nosso par­tido apoiou o pre­si­dente Alek­sandr Lu­ka­chenko. Ele foi co­mu­nista, em tempos, e já disse vá­rias vezes que tem o cartão do Par­tido guar­dado num cofre, porque o pre­si­dente não pode ter fi­li­ação par­ti­dária.

Ele conduz uma po­lí­tica com ori­en­tação so­cial. Os co­mu­nistas não estão em de­sa­cordo com esta po­lí­tica e sempre lhe deram o seu apoio.

Em Agosto de 2020, antes e de­pois das elei­ções, quando co­meçou a haver ma­ni­fes­ta­ções da «opo­sição», o PCB foi o pri­meiro a sair à rua para apoiar o pre­si­dente. Por isso fomos for­te­mente ata­cados, ha­vendo casos de men­sa­gens com ame­aças, na rede so­cial Te­le­gram, sob ano­ni­mato.

Foi uma pro­pa­ganda muito agres­siva também no Fa­ce­book.

Os ata­ques vi­savam ca­ma­radas nossos, es­pe­ci­al­mente jo­vens, com ofensas e ca­lú­nias, ex­pondo e de­tur­pando dados pes­soais. Mas não con­se­guiram calar-nos, não nos as­sus­támos. E quem co­meteu ile­ga­li­dades, mesmo sendo na In­ternet, vai ter de res­ponder.

O nosso pre­si­dente es­teve à al­tura e o pe­rigo passou.

 

Como se po­si­ci­onam as di­fe­rentes forças po­lí­ticas?

No par­la­mento temos 14 co­mu­nistas, em 110 de­pu­tados. Mas só os de­pu­tados do nosso par­tido fun­ci­onam como grupo par­la­mentar. A mai­oria dos de­pu­tados apre­senta-se sem par­tido e às elei­ções os can­di­datos não con­correm em listas de par­tidos.

Muitos de­pu­tados têm po­si­ções coin­ci­dentes com as dos co­mu­nistas, de­fendem ideias se­me­lhantes às nossas, como a pro­pri­e­dade pú­blica das em­presas es­tra­té­gicas ou o papel de­ter­mi­nante dos tra­ba­lha­dores no poder, por opo­sição à su­bor­di­nação deste ao ca­pital fi­nan­ceiro.

As leis são apro­vadas com ne­go­ci­a­ções, com dis­cussão, mas há sempre al­guns em de­sa­cordo. Não ficam sa­tis­feitos e mantêm as suas po­si­ções, mas não têm força para as impor. E se co­meçam a re­ceber apoios do ex­te­rior? Se co­meçam a pa­tro­cinar pro­testos através de ONG (or­ga­ni­za­ções não go­ver­na­men­tais) que já são mais de mil na Bi­e­lor­rússia?

Desta forma, contra a lei e sem terem ganho elei­ções, não aceitam a der­rota e pro­movem a de­ses­ta­bi­li­zação. Isto é o en­redo ha­bi­tual das «re­vo­lu­ções co­lo­ridas».

 

É uma luta para con­ti­nuar...

Claro. Os EUA não são a única grande po­tência no Mundo e não estão na sua me­lhor forma. Pela luta, con­segue-se me­lhor a or­ga­ni­zação da so­ci­e­dade. O poder po­pular é a me­lhor forma de poder e o PCB vai con­ti­nuar a bater-se por ele.

Temos ac­ti­vi­dade per­ma­nente, as nossas fi­leiras estão a crescer. Pre­ci­samos de re­forçar a nossa ca­pa­ci­dade fi­nan­ceira, pro­blema com que não se con­frontam aqueles que levam os dias na In­ternet a «fazer opo­sição», porque lhes pagam para isso.

Fa­zemos de­bates, vamos ao en­contro das pes­soas e aos lo­cais de tra­balho, fa­zemos o tra­balho po­lí­tico ha­bi­tual. Du­rante a crise, não saiu nin­guém do PCB, não ti­vemos dis­sen­ções nem trai­ções. Nin­guém pode dizer que houve co­mu­nistas a pas­sarem para os «li­be­rais». Vamos con­se­guir vencer o ca­pital.




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