Marcha em Lisboa exigiu acção célere do Governo
Os trabalhadores da Saint-Gobain Sekurit não aceitam a consumação do crime económico e social que seria o fecho da fábrica em Santa Iria de Azóia e têm uma alternativa ao plano da multinacional.
A fábrica deve permanecer, para lá dos planos da multinacional
Na tarde da passada sexta-feira, dia 22, os trabalhadores da vidreira e as suas organizações representativas levaram a cabo em Lisboa uma «marcha pelo emprego e pela produção». Reunidos no Largo José Saramago (Campo das Cebolas), desfilaram com cartazes, faixas e bandeiras até à Praça Luís de Camões, nas imediações do Ministério da Economia.
Numa «posição pública» que aqui foi entregue, a Comissão de Trabalhadores da Saint-Gobain Sekurit Portugal, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira e a federação do sector (Feviccom/CGTP-IN) apresentaram duas exigências, para cuja satisfação é necessária «a intervenção célere do Governo, em defesa não só do emprego como da produção nacional e dos interesses estratégicos de Portugal»:
– O reinício da laboração da fábrica e a recuperação do emprego dos seus trabalhadores, através de um projecto industrial inovador (vidro solar para viaturas eléctricas e híbridas);
– A recuperação, pelo Estado português, da licença exclusiva de produção de vidro em Portugal, que passou para as mãos da multinacional Saint-Gobain quando lhe foi vendida a Covina (Companhia Vidreira Nacional).
No documento, salienta-se como a multinacional, no início de Agosto, anunciou que tinha quebrado recordes «em todos os indicadores» no primeiro semestre de 2021. Na comparação com o período análogo de 2020, foi destacado o aumento das vendas, em 24,6 por cento, e a triplicação do resultado operativo, que somou 2376 milhões de euros.
Mas, nos últimos dias desse mesmo mês, a filial portuguesa revelou a intenção de encerrar aquela que é a única unidade de transformação de vidro automóvel no País, despedindo os seus 130 trabalhadores.
«Este despedimento colectivo é um crime económico e social para o País e para os trabalhadores», reafirma-se no documento entregue ao Governo.
As estruturas representativas dos trabalhadores consideram que «estamos perante uma situação de clara má-fé», «uma atitude hipócrita, cínica, imoral e a todos os títulos condenável», pois «aquilo que a Saint-Gobain fez foi despedir trabalhadores qualificados para, a seguir, lhes apresentar propostas alternativas de empregos com salários a metade dos valores actuais».
Na defesa da sua proposta, a CT, o STIV e a Feviccom salientam que «a produção e transformação de vidro automóvel vai continuar a ser fundamental para dar resposta às necessidades dos produtores de automóveis».
Uma vez que «a tendência, no futuro, não é para a diminuição da produção automóvel, mas para a substituição das viaturas ligeiras e pesadas com motor a combustão por motores eléctricos e outros, relacionados com a salvaguarda e defesa do ambiente», devem ser aproveitadas as instalações e os equipamentos da actual fábrica e os seus trabalhadores altamente qualificados.
Parar os despedimentos
No dia 20, saudando os representantes dos trabalhadores, ouvidos na comissão de Trabalho da Assembleia da República, e valorizando a luta que tem vindo a ser desenvolvida, Diana Ferreira acusou a administração da Saint-Gobain Sekurit de pretender tratar a situação da empresa como se esta não fizesse parte de um poderoso grupo económico.
A deputada comunista viu neste caso a confirmação de que, como o Partido tem afirmado, é fácil e é barato despedir. «É preciso travar de uma forma urgente os despedimentos que têm tido lugar em catadupa, seja com alterações, do ponto de vista dos critérios e da reposição dos direitos dos trabalhadores em situação de despedimento, seja proibindo os despedimentos, como já propusemos mais do que uma vez», defendeu Diana Ferreira.