Porque vale a pena (re)ouvir Bruce Springsteen

Nuno Gomes dos Santos

Em Bruce Springs­teen é clara a po­sição pro­gres­sista em favor de quem tra­balha

Não foi nas ruas de Fi­la­délfia que o co­nheci, mas foi nelas que o re-en­con­trei. Chamam-lhe The Boss (o chefe), mas não por ser mandão ou co­mandar com mão dura quem com ele, ou para ele, tra­balha. Antes pelo con­trário, já que a al­cunha vem do tempo (fi­nais dos anos 60) em que Bruce Springs­teen – é dele que fa­lamos – pou­pava o di­nheiro dos con­certos (do trio Earth, antes de ser membro dos Steel Mill, bandas de que fez parte nessa al­tura) para dis­tri­buir pelos mú­sicos que to­cavam con­sigo.

Nasceu em Long Branch, New Jersey, em 1949, e é um dos nomes do rock com mais pres­tígio das úl­timas dé­cadas. Teve a pri­meira viola aos 13 anos, co­meçou a tocar na banda The Cas­tilas, pri­meiro como gui­tar­rista e, de­pois, também como vo­ca­lista. Era o tempo em que ac­tuava em salas pe­quenas, bares, clubes ou es­colas. Foi quase sempre assim até as­sinar um con­trato com a Co­lumbia, em 1972, al­tura em que formou a E Street Band.

O seu pri­meiro álbum data de 1973 – Gre­e­tings From As­bury Park, N.Y. e re­flecte a onda de folk e R&B (Rythm and Blues) em que a sua mú­sica se en­qua­drava. Porém, não é esse o Bruce Springs­teen que co­nhe­cemos, mas o que ga­nhou forma com o álbum Born to Run (1975), e a con­so­lidou ao longo dos anos com Born in USA (disco em que con­dena a guerra do Vi­et­name) e vá­rias can­ções, dis­persas por muitos discos, como The River ou Wor­king on a Dream (tra­ba­lhando num sonho), que fala no de­sejo de um fu­turo me­lhor

Par­ti­cipou, em 1985, com di­versos ar­tistas, entre eles e por exemplo Mi­chael Jackson, Bob Dylan, Li­onel Rit­chie, Tina Turner, Paul Simon, na gra­vação de We Are the World, di­ri­gida por Quincy Jones, cujo in­tuito era ajudar hu­ma­ni­ta­ri­a­mente o povo afri­cano mais ca­ren­ciado.

Springs­teen ga­nhou um Oscar pela banda so­nora de Phi­la­delphia, um filme de Jo­nathan Demme (1993) (Tom Hanks ga­nhou o Oscar de me­lhor actor), com a canção Streets of Phi­la­delphia. Aborda-se aqui a questão da ho­mos­se­xu­a­li­dade e da ho­mo­fobia, num dos pri­meiros e, cer­ta­mente, o mais fa­moso dos filmes co­mer­ciais norte-ame­ri­canos a trazer esta questão para a boca de cena. Bruce Springs­teen ga­nhou este prémio a par de muitos ou­tros, entre os quais se in­cluem 20 Grammys (prémio da Aca­demia de Gra­vação do EUA que dis­tingue pro­fis­si­o­nais da in­dús­tria mu­sical).

Chamam-lhe «porta-voz dos tra­ba­lha­dores» e não é por acaso que essa ca­rac­te­ri­zação é uti­li­zada para o de­finir. Bruce Springs­teen nunca se fez ro­gado quando tomou po­si­ções pú­blicas em de­fesa de quem tra­balha. Nas suas can­ções, desde Born to Run e, prin­ci­pal­mente, a partir de Born in the USA, é clara a sua po­sição pro­gres­sista, pela de­fesa dos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e de uma vida mais justa, e contra a guerra, par­ti­cu­lar­mente a guerra do Vi­et­name, à qual se opôs com fron­ta­li­dade, en­fren­tando a po­lí­tica be­li­cista dos Es­tados Unidos.

É bom pen­sarmos, também, no ci­dadão que as suas can­ções re­velam e na men­sagem que trans­mitem. Como é im­por­tante lem­brar, para que con­so­li­demos em nós o co­nhe­ci­mento da im­por­tância deste homem do rock, deste rocker in­con­fun­dível e im­pres­cin­dível, o que dele disse o jor­na­lista Rui Mi­guel Abreu num ar­tigo in­ti­tu­lado 16 he­róis da classe ope­rária, 16 can­ções es­sen­ciais para ce­le­brar o Dia do Tra­ba­lhador:

«Esta lista po­deria contar apenas com can­ções de Bruce Springs­teen (…). Poucos mú­sicos sou­beram, como ele, cantar as an­gús­tias do ope­rário, a de­ses­pe­rança de quem vê a vida es­capar-se-lhe (…) sem que os so­nhos so­bre­vivam ao can­saço.»

Por tudo isto, vale a pena (re)ouvir Bruce Sprigs­teen.




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