CDU: o voto que decide

Carina Castro (Membro da Comissão Política)

A Mariana é cantoneira de limpeza há mais de 23 anos. Durante anos carregou contentores aos ombros. Tem duas hérnias discais e um joelho completamente danificado. Recebe o salário mínimo nacional.

A 30 de Janeiro decide-se da vida concreta de cada um

A Mariana sabe bem o que significa ter passado a receber o suplemento de insalubridade e risco, por intervenção do Partido, o seu partido. A Mariana pergunta: quem se consegue governar com 665 euros e pagar luz, água, telefone e, já agora, comer? Estamos sempre a contar os dias que faltam para o fim do mês.

A Márcia é mãe de três filhos, trabalha no comércio há 18 anos. Quando tentou pôr o filho numa creche pediram-lhe entre 280 e 300 euros. Ou pagava a creche ou comia. Pôs o filho numa ama, pagava 150 euros. Entretanto, recebeu a notícia de que, por acção do PCP, passaria a ter creche gratuita. O filho mais velho perguntou se já poderiam ir ao cinema todos os meses. A Márcia tem amigas que não têm filhos porque não têm capacidade financeira.

A Elvira trabalhou 49 anos e 4 meses, tem uma reforma de 501 euros. Depois de ter começado a trabalhar aos 14 anos, subindo e descendo a serra, à neve ou ao sol, para fazer a ultimação do tecido. Foi depois trabalhar na função pública. Durante 27 anos, entrou todos os dias ao trabalho às 6h da manhã, viu a sua carreira congelada. Carreira que só foi descongelada por intervenção do PCP. A Elvira sempre teve a convicção de que não havia nada a agradecer ao patrão, porque os trabalhadores têm valor.

Em Messines, há quem espere dois e três meses por uma consulta no centro de saúde. Há quem tenha esperado nove meses e, quando foi mostrar os exames de diagnóstico, já não estavam válidos. Mas faltam profissionais na maior freguesia do Algarve, os médicos vão para lá, mas não ficam. Na rua diz-se que só quem, de barriga cheia, tem todo o dinheiro que os privados pedem, pode achar que as coisas estão bem assim.

Vidas concretas

Estes foram rostos e realidades que tiveram expressão nos meios da CDU na última semana. Quando se invocam rasgos de propaganda para fazer a campanha que está em curso, lembremos que não precisamos de inventar nada: estamos a tratar das Marianas, das Márcias, das Elviras, da população de Messines e de tantos outros que não cabem nesta página.

É preciso lembrar a todos que foi pela intervenção do PCP que mais de um milhão de reformados tiveram o aumento extraordinário de pensões em 50 euros; que as famílias passaram a contar com manuais escolares gratuitos; que os transportes ficaram mais baratos; que, a partir de 2022, acabam as taxas moderadoras nos cuidados de saúde primários.

E é preciso dizer, em toda a parte, que a partir de dia 1 de Janeiro, o salário mínimo nacional não aumenta para 755 euros porque o PS e PSD não quiseram. Que as creches não passam de imediato a ser gratuitas para todos porque PS e PSD não quiseram. Que não se porá fim à penalização nas reformas aos 65 anos porque PS e PSD não quiseram. Não avançará a exclusividade de médicos e enfermeiros, nem incentivos à fixação de profissionais deslocados, para haver mais consultas, exames e cirurgias, porque PS e PSD não quiseram.

São estas as vidas concretas que estão em jogo no próximo dia 30 de Janeiro. Não é um qualquer concurso para «ver quem ganha», para eleição de um primeiro-ministro, mas sim a eleição de deputados que decidirão sobre a vida de todos os dias.

Saibamos chegar a todos eles, confrontá-los com a sua vida, lembrar que estivemos lá, ao seu lado, que somos a força decisiva para responder às suas dificuldades concretas, a propor e a lutar por soluções, e que quanto mais força tiver a CDU, mais próximo da sua concretização estaremos.

É preciso dizer a todos que há muitas Marianas, Márcias e Elviras, e que são a maioria. Que dia 30 de Janeiro cada um tem na sua mão uma ferramenta poderosa para fazer a sua vida avançar. Nesse dia, o voto da Mariana, da Elvira e da Márcia vale tanto como o voto dos Soares dos Santos, dos Amorins, dos Salgados. Aqueles têm vários quadrados onde podem votar, mas para a Mariana, a Elvira e a Márcia só há um quadrado para responder à sua vida – o da CDU.




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