Diz-me com quem andas!

João Frazão

O cor­tejo de ban­queiros que, nos úl­timos anos, jus­ta­mente, foram as­so­ci­ados a prá­ticas vi­ga­ristas e cri­mi­nosas na sua acção à frente de ins­ti­tui­ções, cri­adas para ali­mentar um ca­pi­ta­lismo ufano dos ventos que lhe so­pravam de feição, re­ve­lando uma atenção cres­cente da Jus­tiça à cor­rupção, pode ter um efeito per­ni­cioso que será ne­ces­sário acau­telar desde já.

E esse efeito é o do apa­ga­mento da me­mória sobre o per­curso que nos trouxe até aqui e sobre as res­pon­sa­bi­li­dades que têm de ser as­sa­cadas, a quem, ao longo das úl­timas dé­cadas (des)go­vernou o País.

Por um lado, não fosse o nosso Par­tido, e sobre estes acon­te­ci­mentos seria lan­çado um manto de es­que­ci­mento sobre o papel que as pri­va­ti­za­ções jo­garam nas ne­go­ci­atas que, com a banca e com ou­tras em­presas de re­fe­rência, de que a PT ou a EDP são exem­plos mai­ores, per­mi­tiram a emi­nentes per­so­na­li­dades ame­a­lhar avul­tadas somas, fa­ci­li­tando a con­cen­tração do ca­pital.

Por outro lado, há muito quem se es­force para fazer passar a ideia que os Ren­deiros e os Sal­gados desta vida são casos iso­lados, ofen­sivos à ética e às me­lhores prá­ticas e bons cos­tumes ca­pi­ta­listas. Ten­ta­tiva que tem o ob­jec­tivo pri­meiro de apagar as res­pon­sa­bi­li­dades da na­tu­reza pre­da­dora, agres­siva e an­ti­de­mo­crá­tica in­trín­seca ao ca­pi­ta­lismo.

Mas que tem, também, um outro fito. O de fazer es­quecer com quem é que estes per­so­na­gens, de que hoje todos querem fugir a sete pés, con­cer­teza por ver­gonha da fa­tiota com que aqueles apa­recem nas te­le­vi­sões, ou dos tru­ques e jus­ti­fi­ca­ções para se irem pas­sear para terras de Itália, an­daram de braço dado.

É que, ao longo das úl­timas dé­cadas, as for­tunas e o poder que estas pes­soas al­can­çaram foram fa­ci­li­tados pelas po­lí­ticas do PS, do PSD e do CDS, ti­mo­ne­ados por al­guns que ainda hoje se sentam à mesa do or­ça­mento, par­tindo e re­par­tindo, ou co­men­tando a re­par­tição, sempre a favor dos mesmos.

Dé­cadas de fa­vo­re­ci­mento da pro­mis­cui­dade entre o poder eco­nó­mico e o poder po­lí­tico e de sub­missão deste aos mandos da­quele.

E é isso que os be­ne­fi­ciá­rios desta po­lí­tica hoje querem es­conder, sa­cri­fi­cando al­guns dos seus!




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