Só a diplomacia pode levar a uma solução política e à paz

Com a guerra já a travar-se no co­ração da Ucrânia, com pe­sadas con­sequên­cias para o povo da­quele país, EUA, NATO e UE elevam ainda mais a es­ca­lada be­li­cista e mi­li­ta­rista. Mas há também quem ad­vogue uma so­lução di­plo­má­tica e ne­go­ciada para o con­flito.

Para hoje está pre­vista uma nova ronda de con­ver­sa­ções bi­la­te­rais

O pre­si­dente da Rússia, Vla­dímir Putin, anun­ciou a 24 de Fe­ve­reiro o lan­ça­mento de «uma ope­ração mi­litar es­pe­cial» em ter­ri­tório da Ucrânia. Alegou que as re­pú­blicas po­pu­lares de Do­netsk e Lu­gansk, já re­co­nhe­cidas por Mos­covo como Es­tados so­be­ranos, so­li­ci­taram ajuda face à agressão por parte de Kiev.

O mi­nistro da De­fesa, Ser­guei Shoigú, pre­cisou que os ob­jec­tivos da ope­ração, que pros­se­guirá até al­cançar os seus pro­pó­sitos, são «pro­teger a po­pu­lação de Don­bass, des­mi­li­ta­rizar e des­na­zi­ficar a Ucrânia». O es­sen­cial, in­sistiu, «é pro­teger a Fe­de­ração da Rúsia da ameaça bé­lica que os países do Oci­dente cri­aram, em­pe­nhados em usar o povo ucra­niano na luta contra o nosso país».

Em res­posta ao ataque russo, a Ucrânia rompeu as re­la­ções di­plo­má­ticas com a Rússia, de­cretou a mo­bi­li­zação geral, instou os países ali­ados a ac­tivar todas as me­didas pos­sí­veis contra Mos­covo, pediu mais armas e apre­sentou for­mal­mente o pe­dido de ad­missão da Ucrânia à União Eu­ro­peia.

Por seu lado, EUA, NATO e União Eu­ro­peia apli­caram múl­ti­plas e pe­sadas san­ções eco­nó­micas, fi­nan­ceiras, co­mer­ciais, di­plo­má­ticas e ou­tras à Rússia (a em­presas, meios de co­mu­ni­cação e pes­soas) e anun­ci­aram ajuda eco­nó­mica e mi­litar à Ucrânia. Washington con­se­guiu, desde já, acabar com o ga­so­duto Nord Stream 2, que for­ne­ceria gás russo à Ale­manha e a ou­tros países eu­ro­peus. Os EUA pro­põem, em al­ter­na­tiva, a venda à Eu­ropa do gás li­que­feito norte-ame­ri­cano.

Ao fim de uma se­mana, a guerra pro­vocou cen­tenas de mi­lhares de des­lo­cados in­ternos e de re­fu­gi­ados, a maior parte deles aco­lhidos na Po­lónia, Ro­ménia, Mol­dávia e ou­tros países vi­zi­nhos da Ucrânia.

Apesar das ac­ções mi­li­tares em curso, Mos­covo e Kiev man­ti­veram con­ver­sa­ções, no dia 28, na re­gião bi­e­lor­russa de Gómel, junto do rio Prí­piat. De­pois da reu­nião, as de­le­ga­ções da Rússia e da Ucrânia re­gres­saram às res­pec­tivas ca­pi­tais, para con­sultas. O Kremlin anun­ciou, no dia 2, estar pronto para uma se­gunda reu­nião.

China pelo diá­logo,
contra po­lí­tica de san­ções

Após a im­po­sição pelo Oci­dente de mais san­ções contra a Rússia, o Mi­nis­tério dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros da China pro­nun­ciou-se contra a po­lí­tica de res­tri­ções uni­la­te­rais como meio para re­solver os pro­blemas.

Pe­quim apelou à con­tenção para evitar que as ten­sões entre a Rússia e a Ucrânia se agravem ainda mais. O porta-voz do mi­nis­tério, Wang Wenbin, sobre a po­sição da China face ao con­flito entre Mos­covo e Kiev, su­bli­nhou (no dia 28) que o seu país está sempre «no lado da paz e da jus­tiça».

Zhang Jun, re­pre­sen­tante per­ma­nente da China nas Na­ções Unidas, as­si­nalou na vés­pera que Pe­quim pede a todas as partes que ac­tuem com mo­de­ração em re­lação à Ucrânia e acres­centou que a po­sição do seu país não mudou. «Con­fi­amos que todas as partes devem mos­trar mo­de­ração para evitar que a si­tu­ação na Ucrânia piore», afirmou. A China apoia «um diá­logo de igual a igual entre a Rússia e a União Eu­ro­peia sobre a se­gu­rança eu­ro­peia e a ma­nu­tenção do prin­cípio de in­di­vi­si­bi­li­dade da se­gu­rança vi­sando a for­mação de um me­ca­nismo de se­gu­rança equi­li­brado, eficaz e sus­ten­tável na Eu­ropa», disse.

«So­lução di­plo­má­tica
séria, cons­tru­tiva e re­a­lista»

«Não é pos­sível exa­minar com rigor e ho­nes­ti­dade a si­tu­ação ac­tual da Ucrânia sem ava­liar por­me­no­ri­za­da­mente as justas exi­gên­cias da Fe­de­ração da Rússia aos EUA e à NATO, bem como os fac­tores que con­du­ziram ao uso da força e à não ob­ser­vância de prin­cí­pios le­gais e normas in­ter­na­ci­o­nais que Cuba subs­creve e apoia com todo o vigor e são re­fe­rência im­pres­cin­dível, em par­ti­cular para os pe­quenos países, contra o he­ge­mo­nismo, os abusos de poder e as in­jus­tiças. Cuba é um país de­fensor do di­reito in­ter­na­ci­onal e com­pro­me­tido com a Carta das Na­ções Unidas, que sempre de­fen­derá a paz e se oporá ao uso ou ameaça da força contra qual­quer Es­tado» – afirma uma de­cla­ração do go­verno cu­bano, de 26 de Fe­ve­reiro.

Para Ha­vana, «a his­tória exi­girá res­pon­sa­bi­li­dade ao go­verno dos EUA pelas con­sequên­cias de uma dou­trina mi­litar cres­cen­te­mente ofen­siva fora das fron­teiras da NATO, que ameaça a paz, a se­gu­rança e a es­ta­bi­li­dade in­ter­na­ci­o­nais».

Mais: «Foi um erro ig­norar du­rante dé­cadas as fun­dadas exi­gên­cias de ga­ran­tias de se­gu­rança por parte da Fe­de­ração da Rússia e supor que esse país per­ma­ne­ceria de­sar­mado pe­rante uma ameaça di­recta à sua se­gu­rança na­ci­onal. A Rússia tem o di­reito a de­fender-se. Não é pos­sível con­se­guir a paz cer­cando ou en­cur­ra­lando os Es­tados».

O go­verno re­vo­lu­ci­o­nário cu­bano ad­voga «uma so­lução di­plo­má­tica séria, cons­tru­tiva e re­a­lista da ac­tual crise na Eu­ropa, por meios pa­cí­ficos, que ga­ranta a se­gu­rança e a so­be­rania de todos, assim como a paz, a es­ta­bi­li­dade e a se­gu­rança re­gi­onal e in­ter­na­ci­onal».




Mais artigos de: Europa

Pôr fim à escalada promover a paz e a cooperação

O PCP emitiu, no dia 24, uma nota sobre a si­tu­ação na Ucrânia, in­ti­tu­lada «PCP apela à pro­moção de ini­ci­a­tivas de diá­logo e à paz na Eu­ropa», que pu­bli­camos na ín­tegra.

Factos e números sobre a situação na Ucrânia

Ideias-chave É urgente: desescalada do conflito, instauração de cessar-fogo, abertura de via negocial O PCP expressa a sua profunda preocupação pelos graves desenvolvimentos na situação no Leste da Europa, com operações militares de grande envergadura da Rússia na Ucrânia, e apela à urgente...