Matilha
Em 17 de Abril, a primeira página do Público fazia, de forma abjecta, chamada para um artigo cujo título era PCP, a vítima portuguesa da guerra da Ucrânia.
O artigo era o que havia a esperar do órgão da Sonae. A autora escreveu o que entendeu, como lhe compete. Nada a dizer aqui quanto a isso.
Acontece que a dita primeira página suscitou protestos de leitores do jornal, e a coisa chegou ao respectivo «provedor do leitor» (23.04). Este, por sua vez, recorreu a vários truques. Primeiro, associando os protestos ao conjunto artigo-imagem. Depois, que a fotografia escolhida «não era uma montagem», reparo que provavelmente ninguém terá feito. E que a autora do texto e o fotógrafo estavam sintonizados: as imagens escolhidas eram as ideais para ilustrar aquele texto.
Estas opiniões suscitaram pelo visto novos protestos e o «provedor» veio novamente opinar (30.04), mais uma vez ao lado. Agora escudou-se na insuspeita opinião do director, Manuel Carvalho: «a fotografia não é um mero apêndice do texto. Tem de ser um complemento, um elemento por si próprio capaz de interpelar o leitor, de acrescentar novas pistas de leitura da actualidade. A escolha da fotografia de Jerónimo de Sousa enquadra-se nessa escola do jornal.»
O «provedor» aprova mais uma vez, acrescentando agora que a foto «não foi encenada» tal como antes garantira que «não era montagem».
E não é isto tudo um retrato do Público e da principal razão porque existe? O que é que haveria a esperar daquilo a que Pacheco Pereira chamava (agora já não chama) «jornalismo de matilha»? Fizeram bem todos os cidadãos que protestaram contra este fotojornalismo abjecto. Mas preparem-se, porque a procissão ainda agora vai no adro. E uma certa sondagem recente indica que é previsível que a matilha vá enraivecer ainda mais.