Os Ultras

João Frazão

«Nós não somos socialistas, nem somos ultra-liberais», foi com esta afirmação, mais ou menos literal, que, no seu 40.º Congresso, o novo líder do PSD decidiu deixar à criatividade de quem quiser a identificação ideológica, nesta fase da sua vida, destes representantes políticos do grande capital.

Estivemos atentos para perceber ao que vinham e o que trazem de novo, mas depressa se apoderou de nós o evidente cheiro a bafio das propostas que agora retomam e dos caminhos que dizem querer percorrer.

Para não falar dos fatos saídos dos armários que estavam fechados desde que, em 2015, por iniciativa do PCP, se fechou a porta à equipa que encaminhava o País para o desastre nacional, vamos ao que estava então preparado e que Montenegro veio agora desenterrar.

Vejam-se os casos da Saúde, da Educação, ou da Segurança Social.

Perante dificuldades de resposta às necessidades das populações, em que são evidentes os impactos do desinvestimento do Estado ao longo dos últimos anos, o que defendem os não ultra-liberais? O que querem os que, ao longo de décadas, e de forma particularmente grave entre 2011 e 2015, desferiram ataques ultra-graves aos serviços públicos? Querem mais desinvestimento, mais entrega das partes rentáveis aos negociantes da doença, das escolas ou dos seguros, mais dinheiros públicos para proveitos privados.

Veja-se a situação da TAP. Perante a necessidade de valorizar a companhia de bandeira nacional, essencial para a coesão nacional e para a ligação às comunidades portuguesas, o que defendem os que tiveram um ultra-empenhamento na negociata da sua privatização, tão ultra que foi feita em segredo e já com o Governo de saída? Esses que, para além da TAP, entregaram os aeroportos nacionais a uma multinacional francesa, pondo em causa a resposta às necessidades do País, querem mais do mesmo – recuar no tempo e entregar a empresa à gula do negócio.

E mesmo sobre a regionalização, aqueles que engendraram com o PS uma forma de a adiar sine die e, com isso, ainda passar para cima das autarquias encargos em áreas muito diversas, o que querem é mesmo pôr uma pedra ultra-pesada sobre o assunto.

Está bem de ver que, para lá das luzes e dos confetis, do que se trata aqui, é de um partido e uma política ultra-passados!




Mais artigos de: Opinião

Vales alimentares e outros mimos

Ainda o Congresso não tinha terminado e o novo presidente do PSD, Luís Montenegro (LM), no discurso de encerramento, tornava público o que lhe vai na mente, insistindo nas velhas concepções reaccionárias e retrógradas, de que o seu partido é exímio defensor. Entre outras pérolas da política de direita lá estava a velha...

Imperialismo vs. multilateralismo

O mês de Junho foi pródigo em encontros, cimeiras e afins de organizações internacionais. Umas mais formais, outras menos. Umas mais mediatizadas e outras menos. Todas elas determinantes naquilo que se está a desenhar no processo de rearrumação de forças no plano mundial. Após a cimeira do G7, a Cimeira da NATO...

A mentira

Desculpar-nos-à o leitor por voltarmos à Cimeira da NATO, passada que está já uma semana sobre a sua conclusão. Fazemo-lo não para analisar resultados e antecipar consequências, mas tão só para desmontar aquela que é uma mentira com mais de sete décadas, apregoada em força nos últimos meses: a que afirma que a existência...

Lisboa, praça financeira do mar

Numa entrevista ao DN há cerca de um mês, recheada de promessas de milhões e de palavras em inglês para impressionar os simples – players, greenshipping, task-force, hubs azuis, cluster do mar, start up –, António Costa e Silva, ministro da Economia e do Mar, usou a expressão que deve ter encantado os colegas do Governo:...

Com a luta dos trabalhadores

A luta dos trabalhadores tem sido uma grande resposta a uma situação insustentável. Ao longo dos últimos meses, a situação social e económica tem tido um aprofundamento de sentido negativo para quem se «governa» com o pouco que lhe sobra do salário depois de pagar as contas.